Por Heraldo Palmeira
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21 de novembro de 2024

1970 Brasil nas Copas

Bola Telstar (Copa 1970)/Divulgação

1970 Brasil nas Copas

  • Sylvio Maestrelli

A Copa do Mundo de 1970 foi realizada no México. Vencedor: Brasil.

A final Brasil 4×1 Itália foi um inesquecível espetáculo de futebol, que carimbou o tricampeonato e a posse definitiva da taça Jules Rimet. Para muitos especialistas, o mundo testemunhou em 1970 a melhor de todas as Copas do Mundo.

Depois do fiasco em 1966, era necessário reerguer a seleção brasileira. Então, após um período em que alguns novos ótimos jogadores foram testados (sob o comando do técnico campeão de 1962, Aymoré Moreira) para as Eliminatórias da Copa de 1970, foi convidado para o cargo de técnico o famoso jornalista esportivo João Saldanha, que aceitou o convite com um simples “Topo!”.

Já na primeira entrevista coletiva como técnico deu seu tom: “Que Canarinhos, que nada! Comigo serão 22 Feras em campo”, mudando o apelido carinhoso que a torcida costumava usar para os jogadores da Seleção, em razão da camisa amarela. De imediato, escalou suas “Feras” (praticamente um combinado de craques do Santos, Botafogo e Cruzeiro, os melhores times brasileiros da época).

Saldanha conseguiu realmente formar um grupo muito forte, com sua cara: talentoso, empolgante e corajoso. A Seleção trucidou seus adversários (Paraguai, Colômbia e Venezuela), ganhando invicta as Eliminatórias, carimbando a expressão “As Feras do Saldanha” e dando uma amostra do que aconteceria no México.

No entanto, alguns meses antes da Copa, Saldanha se desentendeu com a CBD (e com o regime militar instaurado no país) e foi demitido. Ficou famosa a resposta do técnico a um jornalista, que desejava saber sua opinião a respeito do pedido do presidente-general Médici para a convocação do jogador Dario (Atlético Mineiro), um limitado trombador muito abaixo do nível técnico do resto do time: “O general nunca me ouviu quando escalou o seu Ministério. Por que, diabos, teria eu que ouvi-lo agora?”.

A situação piorou quando ele comprou briga com Pelé, ao deixar no ar (na TV) o possível corte do Rei ao afirmar “O Negão tem um problema sério”, traduzido a amigos posteriormente com uma amalucada suposição “O Crioulo está ficando cego”. Ao ser comunicado por Antônio do Passo (diretor da CBD) que a Comissão Técnica estava dissolvida, não deixou por menos: “Não sou sorvete para ser dissolvido. Passar bem!”. E dali voltou ao seu posto original de “comentarista esportivo mais ouvido do Brasil”, como era anunciado no rádio com toda justiça. Deixou o legado de 13 vitórias seguidas na Seleção, manteve vivo seu bordão “Meus amigos” com que iniciava suas falas. Morreu em Roma, Itália, enquanto fazia a cobertura da Copa de 1990.

Saldanha foi substituído por Zagalo (fanático pelo número 13), que alterou a forma do time atuar, trocou jogadores e adaptou alguns craques para seu desenho tático. Rebatizou o plantel para “Formiguinhas do Zagalo” e, obviamente, convocou Dario – que sequer sentou no banco de reservas durante a Copa, servindo apenas para fazer suas graças costumeiras e divertir o grupo nos treinos e nas concentrações do time. Dentro do ambiente político explosivo pós-Saldanha, Afonsinho (Botafogo) não aceitou raspar a barba para ser convocado.

O Brasil fez uma campanha irretocável no México, com direito a derrotar os outros ex-campeões mundiais (Inglaterra – a campeã de 1966 –, Uruguai e Itália, as duas também bicampeãs, que lutavam pela posse definitiva da Jules Rimet). O tricampeonato veio com a ÚNICA seleção na história das Copas a sequer empatar uma partida nas Eliminatórias e na Copa, vencendo TODOS os seus jogos nas duas etapas.

Além do fantástico time brasileiro, havia a poderosa Itália de Fachetti, Rivera, Riva e Sandro Mazola; a Inglaterra de Gordon Banks, Bobby Moore e Bobby Charlton, mais forte ainda que em 1966, quando fora campeã; a Alemanha de Gerd Müller, Franz Beckenbauer, Overath, Sepp Maier, Helmut Haller, Uwe Seeler; o Uruguai, cuja base era o Nacional, de Montero Castillo e Luis Cubilla, time que seria campeão mundial interclubes em 1971; o histórico Peru de Cubillas, Chumpitaz e do técnico brasileiro Didi, que havia tirado a Argentina da Copa com um empate em Buenos Aires; a Romenia, que havia eliminado Portugal de Eusebio; a Checoslováquia, que havia despachado a Hungria; e a Bélgica, que havia eliminado Espanha e Iugoslávia.

Jairzinho (Botafogo) consagrou-se no Mundial por marcar gols em todos os jogos – por isso, ganhou a alcunha de “O Furacão da Copa” – e o escrete Canarinho deu mais um show na final, goleando a Itália. A taça Jules Rimet foi posteriormente roubada da sede da CBF (1983) e dissolvida pelos ladrões.

FORAM PARA A COPA OS FUTUROS TRICAMPEÕES

Goleiros – Félix (Fluminense), Ado (Corinthians) e Leão (Palmeiras)

Defensores – Carlos Alberto Torres (Santos), Zé Maria (Portuguesa), Brito (Flamengo), Baldochi (Palmeiras), Joel Camargo (Santos), Fontana (Cruzeiro), Everaldo (Grêmio) e Marco Antônio (Fluminense)

Meio-campistas – Clodoaldo (Santos), Piazza (Cruzeiro), Gerson (São Paulo), Rivelino (Corinthians) e Paulo César Caju (Botafogo)

Atacantes – Jairzinho (Botafogo), Tostão (Cruzeiro), Roberto Miranda (Botafogo), Dario (Atlético Mineiro), Pelé (Santos) e Edu (Santos)

LISTA DE ESPERA (OS DEMAIS, COMPLETANDO 40)

Goleiro – Cao (Botafogo)

Defensores – Eurico (Palmeiras), Alex (América do Rio), Ditão (Corinthians), Pontes (Internacional), Luís Carlos (Corinthians), Rildo (Santos) e Zé Carlos (América do Rio)

Meio-campistas – Zé Carlos (Cruzeiro), Carlos Roberto (Botafogo) e Dirceu Lopes (Cruzeiro)

Atacantes – Rogério (Botafogo – cortado por contusão dos 22, substituído pelo goleiro Leão), Manuel Maria (Santos), Vaguinho (Atletico Mineiro), Sérgio Galocha (Internacional), Edu (America do Rio, irmão de Zico e Antunes), Claudiomiro (Internacional) e Arilson (Flamengo)

PRÉ-LISTA (SELECIONADOS, MAS CORTADOS DOS 40)

Goleiros – Cláudio (Santos) e Joel Mendes (Santos)

Defensores – Miranda (Corinthians), Scala (Internacional, cortado dos 40 por contusão), Leônidas (Botafogo, cortado dos 40 por contusão), Jurandir (São Paulo), Pedrinho (Corinthians)

Meio-campistas – Oldair (Atlético Mineiro), Carbone (Internacional)

Atacantes – Toninho Guerreiro (São Paulo, cortado dos 40 por contusão) e Dionísio (Flamengo).

Mesmo com a grande conquista, torcedores reclamaram de alguns craques não terem sido sequer lembrados para os 40, como Dudu (Palmeiras), Ademir da Guia (Palmeiras), César Maluco (Palmeiras), Afonsinho (Botafogo), Nei Conceição (Botafogo), Vantuir (Atlético Mineiro), Grapete (Atlético Mineiro), Sadi (Internacional) e Roberto Dias (São Paulo), dentre outros.

*SYLVIO MAESTRELLI, educador e apaixonado por futebol

Acompanhe aqui nossa série sobre a participação do Brasil em todas as Copas

https://giramundo.blog.br/category/esportes/

Fontes

Gazeta Esportiva, Placar, Imortais do Futebol, Folha de S.Paulo, O Globo, O Estado de S. Paulo, Todas as Copas do Mundo (Orlando Duarte), Futebol Coruja, Futebol Clássico, FIFA, CONMEBOL, CBF, Lance, OGOL.COM.BR, Trivela, Jornal dos Sports e outros

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