Por Heraldo Palmeira
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7 de novembro de 2024

2022 Brasil nas Copas

Bola Al Rihla (Copa 2022)/Divulgação

2022 Brasil nas Copas

  • Sylvio Maestrelli

A Copa do Mundo de 2022 foi realizada no Catar. Vencedor: Argentina.

A final Argentina 3×3 França teve prorrogação, decisão por pênaltis e deu aos argentinos seu sonhado tricampeonato. Os jogadores Lionel Messi e Kylian Mbappé, companheiros do PSG, além de disputarem gol a gol a artilharia – o francês terminou com 8 e o argentino com 7 – corresponderam às expectativas. Ambos tiveram participações de alto nível na Copa, especialmente La Pulga, que, aos 35 anos, deve ter disputado seu último Mundial e levou o caneco para a casa dos hermanos.

Os dois jogaram muito na final sensacional e carregaram seus times como grandes líderes em campo. Aos 23 anos, Mbappé fez um hat-trick (3 gols) e marcou um dos pênaltis da disputa final. Do outro lado, Messi marcou dois gols e consignou um dos pênaltis finais. Uma partida de futebol para não se esquecer, já considerada uma das finais mais eletrizantes de Copas do Mundo.

Após o decepcionante 6º lugar em 2018, quando fomos eliminados pelos belgas, torcedores e crítica especializada esperavam uma atitude radical da CBF, tanto em relação à escolha de um novo treinador, quanto a mudanças na preparação do escrete – desde a realização de amistosos contra seleções de ponta durante o período preparatório, até o estabelecimento de regras disciplinares a serem seguidas pelos jogadores. Mas nada disso aconteceu.

Contrariando todos os prognósticos, a CBF decidiu manter Tite como técnico, sob a esfarrapada desculpa de que a ele deveria ter sido dada a chance de trabalhar com o grupo durante um ciclo completo de quatro anos, para que pudesse colocar em prática todas as suas ideias táticas e descobrir novos talentos para a Seleção. Por isso, nada mudou. O prolixo e enfadonho “titês” continuou imperando, com os mesmos sotaques irritantes dos discursos de autoajuda que já saíram de moda. E, em virtude de tal medida, os defensores de um estrangeiro estrategista se decepcionaram, enquanto vibravam os que defendiam Tite como o melhor técnico nacional (inclusive alguns ex-jogadores e comentaristas famosos).

De nossa despedida em 2018 até agora, em 2022, entre amistosos, Eliminatórias e duas Copas Américas (2019 e 2021, ambas no país), o Brasil teve mais de 100 diferentes atletas convocados, vários dos quais nem atuaram. Ou seja, não foram testados e, pior, de pronto descartados! O time enfrentou quase exclusivamente seleções da América do Sul – a maioria vivendo época de “vacas magras”, em reformulação – além de alguns países africanos e asiáticos. Contra europeus, apenas uma peleja, contra a hoje limitada República Checa. E isso em 2019. No entanto, como obteve um aproveitamento significativo de quase 75% de vitórias, passou a falsa imagem de que o time estava pronto para ser protagonista, um dos favoritos ao título no Catar.

Se, de um lado, sobramos nas Eliminatórias, conquistando o primeiro lugar, nas duas edições da Copa América, ambas disputadas em casa, foi bem diferente. Em 2019, ainda com muitos remanescentes da copa de 2018 como titulares (Filipe Luís, Fernandinho, Firmino, Willian) e sem Neymar – mas com ajuda significativa da arbitragem na semifinal, quando derrotamos os argentinos – ganhamos a competição, batendo na final o Peru, por 3×1. Já em 2021, com a base que foi agora ao Catar, inclusive Neymar, perdemos a final no Maracanã para a Argentina, por 1×0. Curiosidade: o time platino que começou essa partida era quase o mesmo que ganhou a Copa, com exceção de Mac Allister (Lo Celso era titular, não foi ao Oriente Médio por contusão), Enzo Fernandes e Julián Álvarez (jovens que ganharam no início do Mundial as posições de Paredes e Lautaro Martínez, titulares em 2021 e agora suplentes campeões.

Quanto à renovação do elenco, Tite foi cauteloso demais e extremamente teimoso. Jovens como Rodrygo, Pedro, Bremer e Gabriel Martinelli praticamente só foram utilizados – e em raras oportunidades – pouco antes do Mundial. Nosso treinador se manteve “fiel” e “leal” a jogadores que, durante o ciclo, entraram em declínio físico e técnico, caíram muito de produção, como Philippe Coutinho, Daniel Alves, Gabriel Jesus, Fred e outros. Só convocou atletas como aqueles que jogam aqui – Weverton, Éverton Ribeiro e Pedro – por pressão popular, mas praticamente não pisaram em campo. E outros que atuam no Brasil, pedidos pela mídia e pelos torcedores, como Gustavo Scarpa, Dudu e Gabigol, destaques de Palmeiras e Flamengo, os dois melhores times da América do Sul, foram deixados de fora.

Cercado então da desconfiança daqueles que realmente conhecem o futebol brasileiro, o Brasil viajou ao Oriente Médio e fez uma Copa medíocre, para se esquecer. Sem opções táticas e sem meio-campo, espaço onde está a criação e sempre fomos privilegiados em ter um punhado de craques a escolher. O desequilíbrio nas convocações (podíamos levar 26 jogadores), com excesso de atacantes – alguns com idênticas características – e déficit de defensores também contribuiu para nossa frágil performance, pois nossos 3 laterais se contundiram e tivemos que improvisar. Além disso, levar o veterano Daniel Alves, fora de ritmo, só para dar a ele o título que não tem, uma Copa do Mundo, foi um acinte. E, quando entrou, o veterano de 39 anos foi uma caricatura do outrora eficiente lateral, embora nunca tenha sido titular em Copas anteriores.

Vencemos sucessivamente Sérvia (2×0) e Suíça (1×0) em jogos chatos, amarrados, sem convencer, mas nos classificando antecipadamente às oitavas. No último jogo da fase de grupos, uma vexatória derrota por 1×0 para os fracos camaroneses – ainda que com nossos reservas – mostrou uma vez mais nosso pequeno repertório de estratégias. Pela primeira vez na história, fomos derrotados em Mundiais por uma seleção africana e o sinal de alerta se acendeu! Na sequência, quase complicamos no segundo tempo uma vitória muito fácil contra os sul-coreanos, mas ganhamos de 4×1. O placar elástico pode sugerir tranquilidade, mas aquilo foi mesmo outro aviso!

E nas quartas, o castigo veio com a derrota para os croatas nos pênaltis. Em uma partida onde misturamos imaturidade, desatenção, soberba e falta de controle emocional. Afinal de contas, depois de finalmente marcar nosso gol da “vitória” na primeira etapa da prorrogação, quisemos atacar e sofremos o empate faltando quatro minutos para o fim do jogo. Daí, a loteria das penalidades e… adeus ao hexa!

Claro, sempre que o Brasil perde, vilões são escolhidos. Só que desta vez eles foram vários. Torcedores e mesmo a mídia mais ufanista crucificaram, acima de todos, quem deveria agir como comandante, Tite, pelos vários motivos que todos viram e algumas posturas pessoais: a inacreditável “dança do pombo” na vitória e a fuga para o vestiário, deixando os jogadores chorando no gramado depois da justa derrota da eliminação. Mas houve outros “culpados”: o sempre polêmico Neymar, com seu estrelismo diante do grupo, sua covardia para fugir do primeiro pênalti em busca da consagração do último, suas contusões milagrosamente curadas em tempo recorde, seu individualismo e seus privilégios táticos (não marcava ninguém). Fred, o brucutu volante de contenção que estava tirando onda de ponta-direita na linha de fundo croata no lance que gerou o empate, no fim da prorrogação. Daniel Alves, que foi a turismo remunerado para o Catar, com a função de tocar pandeiro e na expectativa de, mesmo no banco, conseguir o título que lhe faltava na carreira. Raphinha, demasiadamente ciscador e pouco produtivo. Antony, um Raphinha com ciscado menos poeirento e incapaz de sequer assanhar o cabelo. Bruno Guimarães, fominha, afobado e egoísta. Lucas Paquetá, sumido em boa parte dos jogos e sem qualquer lampejo do craque que dizem ser. Gabriel Jesus, um titular absoluto que só se explica por algum fetiche emocional do treinador.

As últimas eliminações brasileiras em Copas deixaram um rastro diferente, que caracteriza um cada vez maior distanciamento da torcida. Nem mesmos os pachecos conseguem mais disfarçar uma certa indiferença que descamba para o conformismo disfarçado na desculpa de que perder é parte do jogo. Claro que é, mas também é inegável que aquela nossa paixão coletiva vem sendo desconstruída desde o fiasco da Copa 2006, quando o hexa era dado como favas contadas depois da campanha pentacampeã de 2002. Talvez tenham começado naquele Mundial da Alemanha muitas das práticas nocivas que foram se sedimentando desde então, inclusive as questões disciplinares e a postura distante dos jogadores em relação à Seleção e, em muitos casos, aos próprio país.

Agora é esperar por 2026, não adianta chorar. E a disputa será contra 47 adversários! Nos resta torcer para que a imprevisível CBF não continue agindo com amadorismo e se proponha a ter um técnico ousado, renomado, de preferência estrangeiro. É saudável que mais essa decepção represente o expurgo, ainda que tardio, de “vacas sagradas”, “panelas” e “parças” no Escrete Canarinho. Enquanto voltamos para casa, o mundo futebolístico ridiculariza nossas dancinhas – principalmente a do “pombo” – e alguns jogadores “depressivos e psicologicamente muito abalados” curam suas feridas em festas intermináveis.

Para colocar a tampa na chaleira, argentinos e franceses nos mostraram – com um maravilhoso 3×3 em uma final eletrizante definida nos pênaltis – como se joga o futebol moderno. Solidário e compacto, determinado e aplicado taticamente. Com Messi merecidamente erguendo a taça, para delírio de nossos vizinhos. É o que dá levar o futebol a sério!

FORAM PARA A COPA

Goleiros – Alisson (Liverpool), Éderson (Manchester City) e Weverton (Palmeiras)

Defensores – Danilo (Juventus), Daniel Alves (Pumas), Thiago Silva (Chelsea), Marquinhos (PSG), Eder Militão (Real Madrid), Bremer (Juventus), Alex Telles (Sevilha) e Alex Sandro (Juventus)

Meio-campistas – Casemiro (Manchester United), Fred (Manchester United), Fabinho (Liverpool), Lucas Paquetá (West Ham), Éverton Ribeiro (Flamengo) e Bruno Guimarães (Newcastle)

Atacantes – Antony (Manchester United), Raphinha (Barcelona), Gabriel Jesus (Arsenal), Richarlison (Tottenham), Pedro (Flamengo), Neymar (PSG), Gabriel Martinelli (Arsenal), Rodrygo (Real Madrid) e Vinicius Jr. (Real Madrid)

OBS.: A FIFA permitiu que cada Federação Nacional inscrevesse com antecipação até 55 jogadores para a disputa no Catar. Não foram divulgados os nomes do demais brasileiros escolhidos (além dos 26), mas conforme apuraram alguns órgãos da mídia esportiva, como Globo Esporte e ESPN, dentre eles estariam:

Goleiro – Santos (Flamengo)

Defensores – Rodinei (Flamengo), Ibañez (Roma), Léo Ortiz (Red Bull Bragantino), Nino (Fluminense), Felipe (Atletico de Madrid), Filipe Luís (Flamengo) e Caio Henrique (Mônaco)

Meio-campistas – João Gomes (Flamengo), André (Fluminense) e Danilo (Palmeiras)

Atacantes – Luiz Henrique (Betis), Gabigol (Flamengo) e Roberto Firmino (Liverpool)

*SYLVIO MAESTRELLI, educador e apaixonado por futebol

Acompanhe aqui a nossa série sobre a participação do Brasil em todas as Copas

https://giramundo.blog.br/category/esportes/

 

Fontes

Gazeta Esportiva, Placar, Imortais do Futebol, Folha de S.Paulo, O Globo, Globo Esporte, ESPN, O Estado de S. Paulo, Todas as Copas do Mundo (Orlando Duarte), Futebol Coruja, Futebol Clássico, FIFA, CONMEBOL, CBF, Lance, OGOL.COM.BR, Trivela, Jornal dos Sports e outros

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