Divulgação/Redes sociais
- Heraldo Palmeira
Há muitos homens num só: James Paul McCartney, Paul McCartney, Sir Paul McCartney, Macca… Ora, hoje ele chega aos 80 anos fazendo barulho bom pelo mundo e a favor dele, desde que emitiu seus próprios sons comuns aos bebês até o ponto de fazer adultos chorarem feito bebês cantando suas músicas. Uma síntese ligeira daquele que, o tempo vai mostrando, é o mais importante dos Beatles. Incansável, tornou-se um dos maiores nomes da música e o artista mais bem-sucedido de todos os tempos. Por isso, sua festa pessoal é mundial.
Não por menos, pois é preciso festejar alguém que coleciona 18 Grammys, um Oscar, duas inclusões no Hall da Fama do Rock and Roll – como integrante dos Beatles e como artista solo – e o título de cavaleiro da Ordem do Império Britânico concedido pela rainha Elizabeth II, com o famoso Sir a tiracolo.
Não adianta saltar da poltrona vociferando “John Lennon!”, pois o distanciamento permite que muitos estudiosos que realmente entendem daquele quarteto endiabrado de Liverpool comecem a somar os fatos, para chegar a 2+2 = Paul McCartney à frente daquela aventura que mudou o mundo. É este homem múltiplo que faz aniversário mantendo muito daquele jeito de menino travesso que conquistou o mundo. E que escreveu sozinho pérolas como Hey Jude, Let it Be, Blackbird e Yesterday – esta, gravou sozinho acompanhado apenas por um quarteto de cordas.
O documentário Get Back, lançado recentemente, é pródigo para demonstrar a liderança de Macca no estúdio, na concepção e nos arranjos das músicas, além do que se sabe da sua atuação na produção, capas dos discos, marketing e negócios do grupo.
É impressionante saber que Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band nasceu a partir de McCartney observando um saquinho de pimenta do reino que acompanhava a refeição da primeira classe de um voo Tóquio-Londres em que ele estava. O nome “pepper” detonou o processo criativo de Paul para batizar o futuro álbum e ele juntou uma foto da banda de seu pai Jim Mac’s Jazz Band cercada por fãs vestidos com elegância na década de 1920, sobre a qual fez os primeiros esboços para a capa lendária. Depois, a imagem do “Sargento Pimenta” foi inspirada na foto do major James Melvin Babington, publicada num livro de história com figuras do Exército do Reino Unido – o major estava nele por ter participado de campanhas militares na Segunda Guerra e na África do Sul. Na sequência, Macca pediu aos outros Beatles que indicassem personalidades para compor aquela multidão presente na imagem final – Lennon, sempre disposto a chamar a atenção, sugeriu Jesus Cristo e Hitler, que não foram aceitas.
Em mais uma demonstração da magnitude das coisas que cercavam os Beatles, até ali a indústria da música costumava investir £ 75 na produção das capas dos discos. Sgt. Pepper’s consumiu £ 3.000, reformulou completamente o conceito de que capas eram apenas embalagens, virando parte integrante da arte dos álbuns desde então, sedimentando a prática de trazer encartes, letras das músicas – foi o primeiro da história a incluir todas as letras – e diversas outras informações das obras.
O casal de artistas de pop art Peter Blake e Jann Haworth, responsáveis pelo projeto gráfico, terminaram premiados com um Grammy em 1968. Além disso, a capa foi chamada de “a Monalisa das capas de discos” pelo site especializado LouderSound e entrou na lista de “obras-primas britânicas de arte e design do século 20” da rede BBC. Já o escritor britânico Ian Inglis, especialista em cultura popular, afirmou que, a partir dali, as capas de álbuns já não eram mais “uma coisa supérflua a ser descartada durante o ato de ouvir, mas sim um componente integral da apreciação, que expandia a experiência musical”.
Duas curiosidades: 1) a capa tem um erro gráfico exatamente no nome do “sargento” impresso no bumbo da bateria, pois faltou o apóstrofo em “Pepper’s”; e 2) as personalidades inseridas na arte jamais reclamaram qualquer direito de uso das suas imagens.
Dotado de uma visão de mercado apuradíssima, estava com seu primeiro disco solo McCartney prontinho e, numa entrevista de divulgação desse álbum concedida em 10 de abril de 1970, anunciou, ele mesmo, o fim dos Fab Four com a célebre frase “O sonho acabou!”. Na carreira solo iniciada a partir dali, nunca saiu do patamar de mercado onde esteve durante o reinado da banda e foi decisivo para manter o repertório e os negócios dos Beatles no topo da indústria da música até hoje.
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