Por Heraldo Palmeira
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22 de novembro de 2024

Seleção desbalanceada

Artselisonmorais0/Pixabay

Seleção desbalanceada

  • Sylvio Maestrelli

Todo brasileiro que curte futebol aguarda com expectativa a convocação da Seleção que vai disputar uma Copa do Mundo. Sofre por antecipação, reclama da ausência de algum favorito, discute, esperneia, mas veste a camisa amarela e torce quando a bola começa a rolar.

As escolhas do técnico, seja quem for, sempre são questionadas. De cego a genial, todos os adjetivos se misturam na boca do torcedor. Passional ao extremo, se há algo que o faz se manifestar é a Seleção. Para o Bem e para o Mal.

Também sou torcedor. Apaixonado, mas racional. E quando assisti à convocação de nosso escrete pelo Tite, como diria Eduardo Dusek, “pasmei”! Não pela maioria dos nomes, em sua maioria previsíveis pelo conservadorismo e fidelidade do nosso “professor” quando não se tem mais excesso de craques, mas pela “estratégica” distribuição de vagas: 3 goleiros, 4 laterais, 4 zagueiros, 6 meio-campistas e… 9 atacantes, alguns com idênticas características.

Partindo do princípio de ser a Copa catari realizada em período atípico, e de que a maioria dos nossos atletas está disputando campeonatos nacionais e ligas europeias, a primeira reflexão que faço diz respeito às possíveis e prováveis contusões (especialmente musculares) que possam sofrer pelo desgaste da competição. A segunda diz respeito à possibilidade de muitos cartões amarelos e vermelhos, já que enfrentarão, em tese, os melhores jogadores do mundo.

Dito isso, me espantam alguns convocados, particularmente Daniel Alves que tem 39 anos (o mais velho até hoje a representar o Brasil numa Copa, que vive péssima fase, só treinando, escorraçado por uma equipe pequena do México). E que ninguém cometa a heresia de comparar com a situação e o nível de Nilton Santos, que aos 37 anos foi bicampeão no Chile, era titular do Botafogo e estava em plena forma. Dani vai jogar na lateral? Mbappé e outros adversários de alto nível irão se deliciar. Thiago Silva, também veterano e titular, tecnicamente muito bom, é um risco também. Está acostumado a jogar num sistema 3-5-2 no Chelsea (Inglaterra). Bem diferente de atuar com apenas mais um companheiro na zaga. Haverá sempre o risco de levar cartões, por acompanhar e barrar com faltas atacantes velocistas? Só esses dois exemplos já implicariam a necessidade de a convocação ter mais defensores.

Agora vamos tocar a bola para o meio-campo. É interessante perceber que, embora tenham sido convocados 6 jogadores, 3 têm características totalmente defensivas, de proteção aos zagueiros (Casemiro, Fabinho e Fred), 3 são carregadores de bola (Bruno Guimarães, Éverton Ribeiro e Lucas Paquetá). É ótimo que Fabinho e Éverton podem também atuar como alas, mas taticamente não há opções para lançamentos em profundidade, mesmo tendo atacantes muito velozes, especialmente os pontas. Gustavo Scarpa, considerado o melhor jogador do Brasileirão, que tem característica de lançar para contra-ataques (fazendo a alegria de Rony e Dudu no Palmeiras), nem foi lembrado.

E, por fim, bola no ataque. Dois centroavantes de diferentes características (o veloz e rompedor Richarlison e o pivô Pedro)? Ótimo! Pontas esquerdas com estilos diferentes (o goleador que fecha para o meio, Neymar, e o fintador que abre defesas, Vinícius Júnior)? Também excelente! Mas na direita, 5 com estilos semelhantes (Antony e Raphinha, com características iguais; Gabriel Jesus, Rodrygo e Gabriel Martinelli, idem), para quê? Que tal a chamada de apenas 3 deles, na hipótese de Neymar ser aproveitado na função original de um camisa 10?

Em um campeonato de tiro curto, como a Copa, esse desbalanceamento pode ser fatal, as convocações precisam ser cirúrgicas. Imagine ter que improvisar gente na defesa, por contusões e cartões, que absurdo! Vamos deslocar atacantes para lá?

Com exceção do contestado Daniel Alves, a questão não é de nomes, mas da estratégia. Há necessidade de um lateral no lugar dele, mais um zagueiro (e temos vários bons, como Gabriel Magalhães, Roger Ibañez, Lucas Veríssimo), de um meio-campista cujas características ofereçam alternativas de mudança tática no jogo para o treinador. Nos bons tempos tínhamos Rivelino, Gérson, Ademir da Guia e Dirceu Lopes, dentre outros, brigando por vagas.

Mas… alea jacta est (a sorte está lançada). Nossos goleiros são excelentes. E a Copa não tem nenhum Pelé, Maradona, Cruyff, Bobby Charlton, Eusébio, Zidane, Beckenbauer e outros cracaços para desequilibrar. Simbora, Brasil. De repente, dá!

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