Por Heraldo Palmeira
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7 de novembro de 2024

Boletim da Copa 3

Bola Al Rihla (Copa 2022)/Divulgação

Boletim da Copa 3

  • Heraldo Palmeira e Sylvio Maestrelli

A Copa começou

Desde o sábado (19) as 32 seleções estão no Catar para a disputa da Copa do Mundo 2022 – Camarões, Sérvia e Brasil foram as últimas a chegar.

O Catar é o país sede da 22ª Copa do Mundo de Futebol, a primeira a ser realizada no Oriente Médio. Tudo começou há 92 anos no Uruguai – que se sagrou o primeiro campeão mundial da história. Era o longínquo ano de 1930 e beira o inacreditável o conjunto de avanços e tecnologias que foram inseridos no futebol ao longo desse tempo. Desde sempre, as Copas servem de grande vitrine para lançamento de muitas novidades que se espalham pelo cotidiano das pessoas a partir do esporte.

Esta é a primeira Copa que permite aos países participantes convocar 26 jogadores e realizar até cinco substituições em cada jogo – antes eram 23 convocados e três trocas. Sem contar os goleiros, que sofrem um desgaste físico obviamente inferior aos jogadores da linha nas disputas, os treinadores poderão trocar meio time. É uma novidade e tanto em termos de opções de convocados e de mudanças de esquemas táticos no decorrer das partidas.

Como de costume, a abertura oficial teve show pirotécnico high tech, com muita luz, coreografia e energia. Houve resgate de mascotes significativos de Copas anteriores. O ator negro norte-americano Morgan Freeman e o influenciador catari Gahmin Al Muftah, que tem Síndrome de Regressão Caudal – má formação congênita que impede o desenvolvimento da parte inferior da coluna vertebral e dos membros inferiores –, ocuparam os papéis principais.

Eles conversaram sobre inclusão e diversidade no centro do palco. Freeman, 85 anos, uma lenda hollywoodiana; Al Muftah, 20 anos, empresário e uma das personalidades mais famosas do Catar, estuda no Reino Unido, sonha em ser atleta paraolímpico, diplomata e chegar ao cargo de primeiro-ministro do seu país.

Enquanto a letra de uma música árabe dizia “Sejam bem-vindos”, o ator simbolizou a união dos povos e abriu a apresentação com um discurso baseado nesse sentimento: “Nós estamos aqui reunidos como uma grande tribo […] O que nos une é maior do que o que nos divide. Somos uma grande tribo e a Terra é a nossa tenda”.

Na sequência, os cantores Jungkook, membro da banda sul-coreana BTS, e o catari Fahad Al Kubaisi deram sequência ao show e cantaram The Dreamers, música tema do Mundial. Outro destaque da solenidade foi o remix de canções tema de outras copas (Waka Waka, The Cup of Life). O jogador ganês-francês Marcel Desailly trouxe a cobiçada Taça da Copa do Mundo – além do staff da FIFA, apenas campeões do mundo podem tocá-la.

Ao fim, para declarar oficialmente aberta a Copa 2022, vieram os discursos protocolares do presidente da FIFA Gianni Infantino e do emir do Catar Tamim bin Hamad bin Khalifa Al Thani, dono da empresa que controla o clube francês PSG.

Em aproximadamente 30 minutos, o mundo assistiu a uma sucessão de imagens e sons que não apenas apresentaram o Catar em um bonito espetáculo artístico com temáticas da inclusão e da diversidade, mas principalmente tentaram contrapor críticas mundiais ao país em razão de denúncias de violação dos direitos humanos, discriminações, intolerâncias e abusos contra trabalhadores migrantes, mulheres e pessoas LGBTQIAP+.

Depois da cerimônia, a bola finalmente começou a rolar para um jogo inaugural que decepcionou mais do que se esperava, apesar de as expectativas serem mínimas. Equador 2×0 Catar configurou-se uma autêntica pelada, marcada por lambanças do goleiro catari e pela enorme fragilidade da equipe local, candidatíssima a protagonizar uma das piores participações de um país sede em Mundiais. Os sul-americanos mataram o jogo ainda no primeiro tempo e “tiraram o pé” na etapa complementar, poupando-se para a sequência do torneio. E pela primeira vez na história das Copas, o anfitrião foi derrotado na partida de abertura.

Não bastasse o jogo ruim, o primeiro gol da Copa, marcado pelo Equador, foi anulado por impedimento, uma regra inacreditável e que já devia ter sido abolida há anos – os campos de futebol oficiais permanecem com as mesmas dimensões originais dos tempos da criação do esporte, enquanto a preparação física dos jogadores teve enorme desenvolvimento, transformando o jogo num amontoado de jogadores realizando um intenso sistema de marcação e ocupando quase sempre apenas 1/3 do gramado onde as jogadas estão em curso.

Quando o VAR mostrou a imagem da jogada, a ponta da chuteira do equatoriano se encontrava centímetros à frente do corpo do adversário. Ou seja, eles estavam no mano a mano, sem vantagem para nenhum dos dois na disputa da bola. Restou apenas um prejuízo incompreensível para o ápice do jogo, o gol, em favor de uma regra obsoleta.

Para quem curte o futebol bem jogado a Copa ainda não começou, nem empolgou. A própria torcida catari – predominantemente masculina – desanimou com a sua seleção, que chutou só duas bolas a gol (ambas para fora) durante toda a partida. Hoje, vamos ver como se comportam a temida Holanda e o campeão africano Senegal (que perdeu seu craque Sadio Mané por lesão), num provável jogo de futebol alegre e ofensivo. Teremos também a Inglaterra (a sempre favorita que sempre decepciona) contra o imprevisível Irã (atualmente considerado o mais forte asiático) e País de Gales (que não disputava um Mundial desde 1958) diante dos Estados Unidos, um confronto que desafia qualquer prognóstico.

Para nós brasileiros a Copa só vai começar mesmo na próxima quinta-feira (24), às 16h, quando a Seleção entrar em campo para enfrentar a Sérvia, nosso primeiro adversário.

*HERALDO PALMEIRA, escritor e produtor cultural | SYLVIO MAESTRELLI, educador e apaixonado por futebol

Acompanhe aqui a nossa série sobre a participação do Brasil em todas as Copas

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