Sasin Tipchai/Pixabay
A bola do Brasil 3
- Sylvio Maestrelli
O tema “contusão do Neymar” vem monopolizando a atenção da mídia brasileira desde a nossa estreia. Vários narradores, comentaristas e inúmeros palpiteiros – quase sempre, ex-jogadores sem muito a dizer – que empobrecem nosso jornalismo esportivo, se debruçaram tanto sobre essa “tragédia” que parecem ter se esquecido que jogamos contra a Sérvia apenas nossa primeira partida na Copa. E não era decisiva. Sobre o tornozelo do igualmente contundido Danilo quase ninguém desandou a formular teses. Afinal, é “um simples lateral defensivo”.
As especulações sobre quem substituiria o “insubstituível camisa 10” foram intensas. Havia quem preferisse simplesmente escalar o Rodrygo no lugar dele; outros, botar o Fred de volante, para proteger mais a defesa e avançar o Paquetá; alguns, colocar o Bruno Guimarães de volante, pois tem mais técnica de saída de bola, também avançando Paquetá; teve quem escalou o Éverton Ribeiro para dar mais dinamismo ao time e até apareceu quem escalaria o Richarlison de 10 e Pedro como centroavante de referência. As apostas corriam soltas. Em comum apenas os lamentos – a maioria irracionalmente exagerada – pela ausência do “craque”.
Fato é que Tite, talvez por estar no Catar, se lembrou dos tempos de Corinthians do Emerson Sheik, quando chegou ao título mundial de clubes – via de regra ganhando de 1×0, não deixando o adversário jogar e puxando rápidos contra-ataques. Foi de Fred, um brucutu no desarme. Evidente que não daria certo. Alguém se esqueceu de avisar ao nosso comandante que, com o empate entre Sérvia e Camarões, mais do que nunca um empate seria excelente resultado para a Suíça. A ponto de seu técnico escalar somente um atacante e dobrar a marcação em Vinícius Jr.
Louve-se, no entanto, a escalação de Éder Militão na lateral direita, improvisado, para suprir a ausência de Danilo. Agindo assim, nosso treinador referendou o que todos já imaginavam: Daniel Alves foi convidado a ir ao Catar com a função principal de animar o ambiente da Seleção, dar conselhos ao “parça” Neymar e comandar o pagode nas vitórias e nas horas vagas.
O Brasil foi previsível, não jogou bem, a partida foi sonolenta. Faltou criatividade e dinamismo ao time. Mas quando já nos conformávamos com o empate sem gols, em um lance praticamente fortuito, Casemiro acertou um belo chute, que desviou num zagueiro suíço e nos deu a vitória apertada e inexpressiva, apesar de importante. É verdade que após o gol, como os rivais tentaram obter o empate e se abriram, tivemos chances de ampliar o marcador. Repetimos o roteiro contra os sérvios. Até quando? O futebol brasileiro parece descaracterizado, burocrático, amuado, falta a molecagem da alegria.
Pior: com uma escalação equivocada, falta de oportunidades para jogadores como Éverton Ribeiro (daria mais dinamismo ao time) e Pedro (seria um pivô de referência dentro de uma defesa retrancada), e ausência de ousadia tática, nosso técnico deu voz à legião de fãs de Neymar, que já afirmam categoricamente que “sem ele, não ganharemos nada!”.
Os mais exaltados chegam a acreditar que Tite jamais vai apostar numa escalação que coloque em risco a subserviência ao camisa 10. Tudo, menos qualquer chance de parecer que ele não é o grande salvador da pátria de chuteiras. Afinal, esta será a terceira tentativa de termos a “Copa do Neymar”, que, até hoje, sequer chegou a uma final.
Que agora venha Camarões, viril, rápido, mas com uma defesa muito vulnerável. Já classificado, o Brasil decidiu entrar em campo com o time reserva, inclusive dando ouvidos ao departamento médico. Assim, preserva o elenco para disputar as oitavas de final e testa jogadores ainda não aproveitados. Vamos jogar sem o inseguro Alisson, que não tem demonstrado segurança sequer nas saídas de gol e na distribuição de bola, com várias lambanças. Quem sabe, experimentar uma nova formação mais ágil de meio-campo? Ficaremos livres do improdutivo Raphinha, até aqui apenas um aplicado ciscador?
É preciso aproveitar as oportunidades de afinar o time enquanto dá tempo. Depois, vem chumbo grosso, é mata-mata.
*Sylvio Maestrelli, educador e apaixonado por futebol
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