Por Heraldo Palmeira
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7 de novembro de 2024

A bola do Brasil 4

Internet/Reprodução

A bola do Brasil 4

  • Heraldo Palmeira

Adenor Leonardo Bachi é aquele cara gente boa legal para ter como vizinho, o tipo que pode dar uma palavra motivacional para um problema cotidiano, quem sabe até um parente que a gente meio que conta em certas ocasiões, um bom convidado para o churrasco de findes.

A crônica especializada não cansa de afirmar categoricamente que a Seleção Brasileira tem o melhor elenco do futebol mundial. O critério é fácil: jogadores valiosíssimos no mercado da bola, todos com salários que a maioria de nós não consegue mensurar. Tanto que, aproveitando folga, saíram para comer carne com ouro 24k, cuja peça custa módicos R$ 9 mil.

Quando Adenor vira “professor” Tite e se mistura com esse elenco estelar que vive numa espécie de metaverso, sem qualquer identificação com a galera “todos juntos vamos”, o eclipse é repetitivamente, irritantemente, impressionantemente, empobrecedoramente certo – como o são os advérbios de modo acrescidos do sufixo “mente”.

A partida contra Camarões foi exemplar para demonstrar que a Canarinho repete um modelo que vai ficando antigo e que não traz títulos: um amontoado de jogadores de qualidade sem qualquer esquema de jogo. Em português de peladeiros isso significa técnico ruim. Os mais irritados pisam no acelerador para dizer que para ficar ruim, Tite tem que melhorar muito.

Vimos Rodrygo isolado, figura rara ao lado de Martinelli tentando criar alguma coisa. Quando Éverton Ribeiro foi chamado, entrou no lugar do jogador do Real Madrid – que não estava machucado, cansado e nem jogava mal. Os narradores enchiam os pulmões para dizer que ele era capaz de jogar dos dois lados. Ora, por que não mantê-lo em campo para criar uma dupla indigesta fazendo inversões com o flamenguista, que também joga pela direita e pela esquerda?

Aliás, vamos combinar, está difícil de aturar Fred e Paquetá, enquanto Éverton Ribeiro segue assistindo as peladas brasileiras sentado no banco. Quando ele entrou em campo, a vaca já estava pastando nos arredores do brejo, mas trouxe alguns lampejos de futebol tentando montar jogadas de ataque.

E o que diabos Gabriel Jesus está fazendo no Catar? Como disse um comentarista depois do jogo, esse rapaz está virando uma espécie de psicose de Tite, que quer a qualquer custo vê-lo marcar um gol em Copa. É o único que jogou as oito partidas do técnico em Mundiais e, até aqui, necas de pitibiribas. E Pedro, que entrou tarde, deverá seguir titular do banco. Um cronista foi taxativo: “Acho injusto cobrar resultado de Pedro por 30 minutos em campo diante de Gabriel Jesus com seis anos de Seleção”.

Como se não houvesse limite, ainda fomos obrigados a ouvir Galvão Bueno informar que Daniel Alves fez uma partida impecável. Sim, “informados”, já que a televisão mostrou um jogador que não deveria se propor ao vexame de, com sua história de conquistas, se arrastar em campo sem conseguir marcar ninguém. A partir de determinado ponto, as pernas já não respondiam para um simples cruzamento, outrora uma das suas armas de jogo. Agora, a bola já não ganhava a altura correta. Presença defendida para o próximo jogo durante a transmissão, imaginemos aquela figura no meio da correria dos coreanos. Periga virar nome de avenida e abrir caminho à pesca alheia em nossas redes.

A certa altura, o narrador exultou porque Neymar, mostrado pela TV, estava sorridente. Adentrando o território da psicologia de almanaque, nos fez saber que isso é um ótimo sinal para o futuro que segue bem incerto na campanha brasileira. Seria mais justo com o distinto público se dissesse “Bem, amigos da Rede Globo, tá faltando futebol nessa joça!”.

Alheio a sorrisos publicitários de celebridades e partidas impecáveis de caricaturas, Aboubakar fez o gol de Camarões com um sentido de colocação e uma categoria que nos acostumamos a ver nos melhores momentos do futebol brasileiro. E tudo virou a pândega que merecemos quando o juiz nascido no Marrocos e cidadão dos EUA Ismail Elfath, ao expulsar o jogador, primeiro cumprimentou-o efusivamente pelo gol – ao que Aboubakar agradeceu com extrema simpatia.

O camaronense tinha recebido cartão amarelo antes e, ao festejar seu golaço, tirou a camisa para reverenciá-la diante do mundo. Tinha plena consciência de que acabara de entrar para a história ao definir a primeira derrota do Brasil para uma seleção africana em Copa do Mundo, estava exultante e recebeu o segundo amarelo – diz a regra que dois no mesmo jogo são trocados pelo vermelho. Saiu de campo feliz da vida e ovacionado pela torcida.

A preocupação vai aumentando porque agora entramos no mar bravio em que toda partida é eliminatória. A agonia é maior quando vemos que o time não se acha em campo, que a simbiose do mesmo Neymar sempre capenga em Copas com a comissão técnica neymardependente coloca uma nuvem sobre o time, como uma força que emperra e inibe o resto do elenco. Como se não bastasse, devemos ser a equipe mais frágil da competição em termos físicos, com uma quantidade de lesões que beira o inacreditável até para quem acredita em urucubaca.

Não estamos diante de uma tragédia e a derrota não deve ser motivo para instalar uma crise. Mas o desempenho do time impõe a necessidade de agir rápido. Para mudar o rumo dessa prosa cada vez mais enfadonha e salvar nossa pele, falta uma grande dose de ousadia que não deveremos encontrar em seu Adenor. Por isso a Seleção tem a cara de Tite. Resta saber quem vai dar o jeito da bola nessa joça.

Acompanhe aqui a nossa série sobre a participação do Brasil em todas as Copas

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