Por Heraldo Palmeira
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22 de novembro de 2024

Boletim da Copa 11

Bola Al Rihla (Copa 2022)Divulgação

Boletim da Copa 11

  • Sylvio Maestrelli

Fim da geração belga, Alemanha eliminada, coreanos avançam, vexame brasileiro

Grupo E Ainda que os dois jogos da rodada decisiva não tenham sido exuberantes, a dramaticidade e as reviravoltas prenderam a respiração dos torcedores, pois até o apito final os classificados poderiam mudar. Durante os 90 minutos (e os extensos acréscimos), em algum momento todas as equipes viveram seu “momento Cinderela”, ou seja, estiveram classificadas. Não foram partidas adequadas para quem tem problemas cardíacos.

Quando os jogos terminaram, os japoneses ocupavam o primeiro lugar e os espanhóis, o segundo. Aliás, o jogo entre eles foi muito interessante. Enquanto o time europeu trocava muitos passes (o famoso Tiki-taka) até chegar ao seu primeiro gol ainda no primeiro tempo, os orientais corriam desesperadamente atrás do resultado. Empataram logo no comecinho da etapa final e em seguida viraram para 2×1, placar que se manteve até o fim. Numa retranca danada.

Aqui abrimos parêntese. Sem entrar em nenhuma teoria da conspiração (porém já entrando), soou estranho demais o time da Espanha não reclamar firmemente do segundo gol (para muitos comentaristas, narradores e torcedores a bola saíra inteira do campo antes do cruzamento que redundou no tento – o VAR teria errado), e praticamente não chutar no gol japonês, trocando passes excessivamente na intermediária do rival. Dirão os adeptos das teses conspiratórias que, sabendo questão de tempo os alemães vencerem os costarriquenhos, a equipe de Luis Enrique optou por “maneirar” no jogo, mesmo perdendo. Afinal, como vices do grupo, escapariam, em tese, de cruzar com Brasil ou Argentina nas fases seguintes da Copa. Especulações ou não?

Alheios a essas especulações, os samurais azuis repetiram com mérito o feito obtido na Rússia, em 2018. Desta feita, passaram às oitavas por vencer dois jogos e não pelo menor número de cartões, como na Copa anterior. Destaque-se a atuação irretocável do veterano Yoshida e do volante Kubo, que coordenou o sólido sistema defensivo oriental. E para a ousadia de seu técnico, que repetiu a estratégia usada contra a Alemanha: utilizar atletas jovens, de velocidade, para reverter o resultado adverso, lançando o time ao ataque. Com o Jogo virado, hora de reforçar o sistema defensivo.

A Alemanha decepcionou mais uma vez. Fez 4×2 na esforçada Costa Rica, mas sua atuação foi burocrática, só conseguindo a vitória no finalzinho do jogo (chegou a estar perdendo por 2×1). Jornalistas germânicos já alertavam antes do Mundial que estaríamos diante da pior seleção alemã da história – pior que a de 2002, que paradoxalmente e com a ajuda dos árbitros chegou à finalíssima, e que a de 2018, que também caiu na fase de grupos. Neuer, Götze e Thomas Müller, os “últimos moicanos” da geração que foi terceira colocada em 2006 e 2010, campeã em 2014 e que já fracassara na Rússia, nada puderam fazer para uma campanha melhor. De positivo, os alemães só revelaram o ágil Musiala, jovem e habilidoso atacante. De pior, uma defesa simplesmente pavorosa, lenta, mal escalada, que comprometeu demais o equilíbrio do time.

É lamentável, para os amantes do futebol, ver uma Alemanha irreconhecível, com pouca criatividade, eliminada precocemente, mas com toda justiça, de duas Copas seguidas. Tão difícil quanto observar a famosa Azzurra italiana naufragar em 2010 e 2014 e sequer se qualificar para 2018 e 2022 (perdendo desta vez nas Eliminatórias para a medíocre Macedônia do Norte). A famosa “mandinga contra os tetracampeões” está em pleno vigor e a torcida brasileira festeja o fato de que, até a Copa 2026, ninguém mais poderá ser penta – e nós poderemos ir mais longe, caso conquistemos o hexa.

A Costa Rica também encerrou um ciclo. Alguns veteranos, que desde 2014 representaram muito bem o pequeno país, se despediram. A torcida deve agradecer a essa geração (cujo ponto alto foi chegar às quartas de final no Brasil em 2014, derrotando o Uruguai e a Itália, e empatando com a Inglaterra), aplaudindo Keylor Navas, Oviedo, Bryan Ruiz e Campbell.

Nas oitavas, enquanto os japoneses enfrentarão os croatas, na condição de francoatiradores, os marroquinos encontrarão os espanhóis, certamente procurando a vingança de 2018, quando um empate entre eles, na última rodada da fase de grupos, desclassificou os africanos. E podem zebrar. Classificação Japão (6 pontos), Espanha (4 pontos, saldo 6), Alemanha (4 pontos, saldo 1), Costa Rica (3 pontos).

Grupo F O veterano craque Modric e o excelente defensor Guardiol foram os destaques croatas no empate em 0x0 que eliminou a Bélgica da Copa. A partida, totalmente insossa na primeira etapa, com raríssimos chutes a gol, ganhou ares dramáticos no segundo tempo, pois os belgas acompanhavam a vitória marroquina no outro jogo da chave e sabiam que um simples empate bastaria para sua eliminação. Por isso, partiram para o ataque.

Com alterações que melhoraram a equipe, seu treinador, o espanhol Roberto Martínez, encurralou os croatas na defesa, mas o gol teimou em não sair. Lukaku, ainda que fora da forma ideal e sentindo a longa inatividade por conta de grave lesão, esteve em um dia inacreditável, para esquecer – perdeu quatro oportunidades de ouro para marcar, dentro da pequena área, duas delas praticamente livre de marcação. No entanto, a vitória belga seria um prêmio injusto a uma seleção que decepcionou desde a estreia, encontrou conflitos extracampo entre suas estrelas e jamais empolgou. Nem sombra daquele time fortíssimo que nos eliminou em 2018.

A Croácia, que nestes últimos quatro anos conseguiu se renovar melhor que a Bélgica, cumpriu seu papel. Com raça e muito preparo físico, a vice-campeã de 2018 segurou o empate que a levou às oitavas como segunda colocada no grupo. Promete dar trabalho na sequência.

O primeiro colocado do grupo, de forma justa, foi Marrocos. Com destaque para seu meia Zyech, os Leões-do-Atlas mantiveram sua tradição de ir bem em Copas do Mundo. Venceram os canadenses por 2×1, predominando no primeiro tempo e sofrendo pressão no segundo. Mas seguraram o resultado e se tornaram a segunda equipe africana a ultrapassar a fase de grupos neste mundial, após o Senegal.

Com os resultados, os marroquinos, campeões, enfrentarão na próxima fase o segundo colocado do embolado Grupo E; os croatas terão pela frente os vencedores daquele mesmo grupo. Classificação Marrocos (7 pontos), Croácia (5 pontos), Bélgica (4 pontos), Canadá (0 ponto).

Grupo G Antecipadamente classificado pelas vitórias nas rodadas anteriores, o Brasil entrou com o time reserva para enfrentar Camarões, para quem a partida era tudo ou nada, já que só uma vitória interessava aos africanos (e ainda dependiam de combinação de resultados). Tudo previa que seria uma oportunidade de ouro para os suplentes de nossa seleção mostrarem serviço em uma partida importante. Em especial para os mais contestados na convocação.

Como tudo o que é ruim pode piorar, o Brasil fez uma péssima exibição. Além da “inhaca” de seus jogadores, as descabidas escalação e mexidas de Tite na equipe. Entre elas, começar jogando com o “artilheiro que não faz gols” Gabriel Jesus; utilizar Dani Alves, completamente sem ritmo de jogo, substituir nosso mais lúcido atacante, Rodrygo, e colocar em campo o desastroso Bruno Guimarães, improdutivo e “fominha”.

A derrota brasileira para os frágeis camaronenses, com direito a gol no último minuto do jogo, deixou claro que Aboubakar, o autor do gol africano, que fora ridicularizado pelos nossos torcedores por ter afirmado nas redes sociais, antes da Copa começar, que “o Brasil hoje é um time que não assusta ninguém”, tinha razão. E notem que se os africanos tivessem feito mais um gol, terminaríamos o grupo em segundo lugar e enfrentaríamos Portugal nas oitavas.

Nosso jogo horrível, truncado, com grandes defesas de Ederson. E pior ainda foram os comentários dos especialistas “globais” afirmando, entre outras barbaridades, que “a equipe não jogou tão mal”, “o resultado foi um castigo, injusto” etc. Viram uma partida bem diferente daquela a que assistimos. Por fim, a contusão do lateral esquerdo Alex Telles confirmou as previsões antes de o Mundial se iniciar: podendo inscrever 26 jogadores, nosso misto de treinador e filósofo de autoajuda optou por apenas 8 defensores em favor de 9 atacantes. Agora não temos laterais em plena forma física para as partidas eliminatórias. Ah, Dani Alves não conta, jogou como um burocrata aposentado. Por fim, assistindo ao jogo e sempre alvo das câmeras, vimos um Neymar sorridente, que nem parece estar contundido. Mistério.

Porém, atuação catastrófica à parte, terminamos o grupo em primeiro lugar, o que nos permitirá enfrentar os sul coreanos nas oitavas. Confronto perigosíssimo, já que os orientais gostam de atacar em velocidade pelos lados do campo. E provavelmente teremos que improvisar laterais. Os africanos fizeram sua parte: vencer os pentacampeões é um feito histórico que lavou a alma e fez a festa dos torcedores.

No outro jogo do grupo, em uma partida cheia de alternativas, com lances perigosos de lado a lado, a Suíça, assim como na Rússia em 2018, eliminou a Sérvia, desta vez vencendo pelo placar de 3×2. O encontro foi renhido, com entradas muito viris, reflexo das provocações trocadas na véspera entre atletas e dirigentes das duas equipes. Enquanto os sérvios ironizavam a presença de albaneses no time helvético, os suíços relembravam as atrocidades cometidas pelos rivais contra os vizinhos, nos conflitos dos Balcãs.

Com isso, a geração suíça que vem fazendo boas campanhas desde 2010, sempre passando da fase de grupos, novamente chega às oitavas. A Sérvia, que gerava grande expectativa antes da Copa por sua campanha nas Eliminatórias, quando mandou Portugal para a repescagem europeia, decepcionou muito, tendo como ponto fraco uma defesa pesada e vulnerável.

O Brasil enfrentará a Coreia do Sul e a Suíça terá Portugal em seu caminho nas oitavas. Brasileiros e portugueses ainda são os favoritos, mas zebras não estão nem um pouquinho descartadas. Classificação Brasil (6 pontos, saldo 2), Suíça (6 pontos, saldo 1), Camarões (4 pontos), Sérvia (1 ponto).

Grupo H O Uruguai bem que fez sua parte. Derrotou, em jogo difícil e muito bem disputado, a surpreendente Gana por 2×0. Em uma partida onde finalmente seu técnico ouviu os pedidos da torcida celeste e escalou um time bastante ofensivo, com a entrada de De Arrascaeta desde o início e a presença de De La Cruz durante o jogo.

No entanto, a vitória não foi suficiente para passar às oitavas de final, já que no outro encontro do grupo, a equipe mista de Portugal perdeu para os sul-coreanos também pelo placar de 2×1, de virada. A se lamentar o fim de uma brilhante geração uruguaia, que vem representando dignamente o país desde 2010, quando conquistou o quarto lugar na Copa da África do Sul. Lá se vão Luisito Suárez, Cavani, Godín e Giménez, símbolos de raça.

Gana teve em Kudus, jovem meio-campista do Ajax Amsterdam, a grande revelação da Copa até aqui, coadjuvado por outros novos talentos que não à toa eliminaram da Copa a sempre perigosa Nigéria. Os ganeses fizeram bonito e mesmo contra os uruguaios a sorte do jogo poderia ter sido outra se o atacante André Ayew não tivesse desperdiçado um pênalti no primeiro tempo (defendido pelo goleiro Rochet), quando o jogo estava ainda empatado. A cobrança foi displicente, quase um recuo.

Paralelamente, na outra peleja da chave, a Coreia do Sul venceu heroicamente a mescla de titulares e reservas que o técnico português escalou, já que seu time estava classificado por antecipação. Atuando com muita garra e determinação, lutando até o fim, os sul-coreanos foram premiados por sua ofensividade e perseverança, com o gol da vitória nos acréscimos, um sensacional lançamento de seu maior craque, Son Heung-min (Tottenham), que Hwang Hee-chan concluiu com sucesso.

Depois disso, como o jogo acabou antes do outro (os acréscimos foram menores), foi comovente ver a vibração de torcedores, dirigentes, comissão técnica e jogadores, que permaneceram abraçados no gramado e explodiram de alegria quando o árbitro alemão encerrou a partida entre ganeses e uruguaios. A Coreia do Sul passou às oitavas pelos gols marcados (terceiro critério de desempate), já que tiveram o mesmo número de pontos e o mesmo saldo dos sul-americanos. Merecidamente – ao contrário de 2002, quando foram extremamente beneficiados pelos árbitros – chegaram às oitavas e agora, na condição de francoatiradores, vão enfrentar o Brasil, vencedor do grupo G. Os “tugas”, como campeões do grupo, enfrentarão a Suíça, segunda colocada do grupo do Brasil. Classificação Portugal (6 pontos), Coreia do Sul (4 pontos, saldo 0, gols pró 4), Uruguai (4 pontos, saldo 0, gols pró 2), Gana (3 pontos)

Chegou a hora das oitavas, onde os jogos são mata-mata, momento para relembrar a lenda do basquete Michael Jordan: “Hora de separar os meninos dos homens”. A partir desta fase, as partidas poderão ter prorrogações e disputas de pênaltis, caso não se resolvam nos 90 minutos regulamentares. Como de costume, teremos disputas dramáticas, com zebras dispostas a aparecer nos resultados.

Os jogos das oitavas de final

– sábado   Holanda x EUA | Argentina x Austrália

– domingo   França x Polônia | Inglaterra x Senegal

– segunda   Japão x Croácia | Brasil x Coreia do Sul

– terça   Marrocos x Espanha | Portugal x Suíça

*Sylvio Maestrelli, educador e apaixonado por futebol

Acompanhe aqui a nossa série sobre a participação do Brasil em todas as Copas

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