Por Heraldo Palmeira
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22 de novembro de 2024

Boletim da Copa 12

Bola Al Rihla (Copa 2022)/Divulgação

Boletim da Copa 12

  • Sylvio Maestrelli

Holanda nas quartas, Messi 1.000, França rondando o tri, ingleses impecáveis

Oitavas de final (rodada 1) Depois de uma campanha “preguiçosa” na fase de grupos, com duas vitórias e um empate, mas sem convencer ninguém, os holandeses finalmente jogaram bola nesta Copa do Mundo. E a vítima foi a equipe dos EUA que, mesmo muito bem organizada e com bons valores individuais (Dest, Robinson, MacKennie, Adams, Pulisic e Weah), não fez frente aos europeus. A exibição holandesa deve acalmar Marco van Basten, Ruud Gullit e outros comentaristas do país, que não se conformavam com o medíocre futebol apresentado nas partidas iniciais e criticavam a postura – para eles, blasé – dos seus jovens atletas, que pareciam não ter muito interesse aumentar o saldo de gols, primeiro critério desempate na fase de grupos, como foi o caso nos 2×0 contra o quase inexistente Catar.

Com Memphis Depay desencantando, De Jong comandando o meio de campo e uma grande atuação de seu ala Dumfries (autor de um gol e de duas assistências para os outros dois), ancorado por uma sólida defesa (chefiada por Van Dijk), o time de Van Gaal mostrou a que veio. O placar de 3×1 a favor da Laranja traduziu o que foi a peleja. Um bom espetáculo, com as equipes em grande correria buscando o ataque o tempo todo.

Os EUA se despediram com garra e um time promissor, que deve dar muito trabalho em 2026, jogando em casa. Afinal, a MLS (Major League Soccer) vem crescendo a cada dia, mesclando jovens norte-americanos com experientes jogadores latinos e europeus. Prova dessa evolução e que, após anos de domínio dos clubes mexicanos na Concachampions, o campeão desta temporada foi o Seattle Sounders.

Agora, os holandeses enfrentarão os argentinos. Os hermanos, numa partida tipo “ataque contra defesa” derrotaram os valentes australianos que, totalmente retrancados na etapa inicial, não contavam com um lance genial de Messi, que abriu o marcador. O primeiro tempo, muito pegado como era de se esperar, mas pobre tecnicamente, quase não teve chutes a gol. E aqui abrimos um parêntese para registrar a grandeza de um craque consagrado como “La Pulga”. Quase ao final dessa etapa, estava com a bola nos pés em frente à área inimiga. Cortou o zagueiro para a esquerda (seu pé “bom”) e mandou um balaço de canhota, mas para fora, perdendo grande oportunidade de marcar mais um gol. Com toda humildade, levantou os braços e abaixou a cabeça, desculpando-se com os companheiros – que aplaudiam sua jogada – pelo erro. Tinham razão em reverenciar Lionel: aquela era sua milésima partida como jogador profissional, a de número 169 pela seleção e marcara o 789º gol da sua carreira espetacular.

No segundo tempo, o jogo se tornou emocionante. Depois de uma pixotada do goleiro Mat Ryan da Austrália –tentou driblar um atacante adversário, foi desarmado por Julián Álvarez, que marcou o gol da vitória argentina –, o técnico modificou completamente o time, trocando todo seu ataque e colocando para jogar atletas mais rápidos. A estratégia era aproveitar o cansaço visível dos sul-americanos e quase deu certo. Os “socceroos”, mesmo sofrendo diversos contra-ataques, tomaram conta do gramado e pressionaram muito, principalmente na base de cruzamentos e de jogadas em velocidade, encaixotando os comandados de Scaloni em seu campo. Mas o gol de empate não saiu e a Argentina venceu por 2×1, classificando-se para as quartas de final.

Além do genial Messi, que nos brindou com mais uma grande atuação, devemos aplaudir a belíssima exibição do melhor em campo, De Paul, meio-campista onipresente, raçudo e dotado de boa técnica. Di Maria, contundido, fez falta, mas o time teve bom desempenho. Destaque negativo para o artilheiro Lautaro Martínez, que entrou na etapa final e, muito afobado, perdeu pelo menos dois gols feitos que tranquilizariam o time. O goleiro Emiliano Martínez, seguro, também merece ser mencionado, por ter salvado com uma grande defesa, no último minuto dos acréscimos, a possibilidade do empate australiano, o que empurraria a decisão da vaga nas quartas de final para o terreno pantanoso da prorrogação e até o limite desesperador da disputa de pênaltis.

O time da Oceania, que capengou nas Eliminatórias asiáticas, caiu de pé, saiu de cabeça erguida deste Mundial. Muito bem treinado, dentro de uma proposta tática clara, foi um adversário duríssimo para os argentinos, que vêm crescendo a cada jogo, em busca do tão sonhado título, que não conseguem desde 1986.

Holanda x Argentina, o primeiro jogo definido das quartas, promete ser uma reedição de grandes combates, como a final da Copa de 1978, vencida pelos platinos, ou as quartas de final de 1998, na França, quando um gol antológico de Bergkamp mandou nossos vizinhos mais cedo para casa. Desde já, a expectativa é de que poderá ser um dos grandes jogos deste Mundial, cujo vencedor será um dos semifinalistas.

Já na segunda rodada das oitavas de final, também deu a lógica nos dois jogos, com os favoritos vencendo sem sustos. Após um primeiro tempo muito equilibrado, com vitória parcial francesa pela contagem mínima, dois golaços do letal Mbappé (destaque do jogo) consolidaram o triunfo do time francês. O gol de honra da aguerrida Polônia foi anotado por Lewandowski, de pênalti, no último minuto. O placar de 3×1 ficou de bom tamanho pelo que vimos no gramado. Mbappé nos mostrou porque hoje é o “dono do PSG”, eclipsando Messi e Neymar. E como dizem alguns cronistas esportivos, ele não parece se afetar com o tamanho de jogo ou torneio nenhum.

Neste momento em que “Les Bleus” passam de fase, devemos reconhecer e aplaudir o excelente trabalho desenvolvido pelo seu trienador Didier Deschamps, que mesmo com todos os desfalques antes da Copa, não ficou choramingando, lamentando as ausências, e construiu um time competitivo e organizado, com a grande sacada de recuar Griezmann para a armação de jogadas (como um “enganche”, jogador encarregado de fazer a conexão entre defesa e ataque) e escalar o veloz Dembélé como ponta, pela direita, ele que estava no banco em 2018.

Convenhamos que é preciso ter convicção, conhecimento e estratégia para substituir campeões do quilate dos craques Kanté e Pogba, contundidos e Matuidi, aposentado, que compunham o excelente trio de meio campo gaulês na Copa da Rússia. Sem contar que não pôde ter, também por lesões, os importantes reservas Maignan (goleiro), Kimpembé (zagueiro) e Nkunku (atacante) e que o lateral esquerdo titular, Lucas Hernandez, se machucou na estreia e está fora da competição, substituído como titular opor seu irmão Theo. Além disso, louve-se a coragem que Deschamps teve de descartar publicamente a possibilidade de contar com um “baleado” artilheiro Benzema, recentemente eleito o melhor jogador do mundo, e que, segundo jornalistas da Espanha, estaria agora quase pronto para voltar a jogar pelo Real Madrid – como não foi cortado, permanece na lista de inscritos e poderia jogar a Copa.

Deschamps apostou em vários jovens (Tchouameni, Camavinga e outros), inclusive alguns estreantes na seleção, que até aqui vêm dando conta do recado. E uma curiosidade neste jogo contra os poloneses: colocou na etapa final o atacante Marcus Thuram, filho do grande lateral-central Lilian Thuram, campeão sobre o Brasil, nos célebres 3×0 de 1998. Talvez por essas atitudes pragmáticas (lembremo-nos que Tite levou três contundidos em 2018), o treinador francês hoje esteja eternizado no mundo do futebol, ao lado do brasileiro Zagalo e do alemão Beckenbauer, como os três que foram campeões do mundo como jogador e como técnico.

Quanto aos poloneses, luta não faltou. Equilibraram o jogo no primeiro tempo, mas ficaram flagrantes o cansaço e a inferioridade técnica na etapa complementar, além de um banco de reservas fraco, que não dava grandes opções de mudanças. Mais uma vez seu goleiro, Szczesny, o melhor do torneio até agora, fez milagres e evitou uma derrota maior. A se lamentar, a provável despedida de Lewandowski das Copas. Artilheiro nato por todos os clubes onde passou (Lech Poznan, Borussia Dortmund, Bayern Munique e Barcelona), não teve coadjuvantes à altura para um desempenho melhor em Mundiais.

No outro confronto, futebol compacto, equilibrado nos vários setores. Paciência para furar o sistema defensivo adversário. Meio-campo mordedor e muita movimentação dos atacantes, que trocavam constantemente de posicionamento. Quase 100% de eficiência nos passes, inclusive verticais. Mexidas do treinador que mantiveram o alto padrão de jogo da equipe. Isso foi a Inglaterra, que não deu a mínima chance para que o bom time do Senegal pregasse qualquer susto. O resultado de 3×0 foi óbvio e justo, com Harry Kane solidário, marcando seu primeiro gol na Copa e os jovens talentos ingleses tendo uma refinada performance.

É interessante perceber como o ano de 2017 foi significativo para o surgimento de vários deles, impulsionados pelas conquistas naquele mesmo período dos Mundiais Sub-20 e Sub-17 da FIFA. De lá para cá, atuando juntos com os melhores jogadores do mundo na Premier League, só cresceram de produção. Um resultado claro do planejamento de longo prazo. Phil Foden, Mason Mount, Jack Grealish, Bukayo Saka e Jude Bellinghan, ao final da partida, foram ovacionados pelos exigentes torcedores ingleses. A ponto de este último ter ouvido o lindo coral do clássico beatle Hey Jude em sua homenagem.

Registre-se também não impactarem demais no elenco as ausências, no banco dos reservas, de White (zagueiro) e Sterling (experiente atacante), ótimas opções para o técnico Southgate. É que ambos voltaram para a Inglaterra em razão de problemas familiares e não deverão mais retornar ao Catar.

Por seu turno, Senegal fez o que estava ao seu alcance. Lutou até o fim, tentando pelo menos o gol de honra, que não saiu. Sentiu muito a ausência de seu cabeça de área Gana Gueye, suspenso por dois cartões amarelos. Todavia, sua colorida, festeira e alegre torcida não se mostrou tão decepcionada, o time confirmou ser tecnicamente a melhor seleção africana do momento, mesmo sem poder contar com seu diferencial, o craque Sadio Mané. Os senegaleses saem de cabeça erguida do Catar.

Com o resultado, a Inglaterra se credenciou a enfrentar a França nas quartas, o que desde já promete ser o melhor jogo desta Copa 2022. Afinal, já em 2018 se esperava esse encontro na finalíssima, o que foi frustrado pelos surpreendentes croatas nas semifinais. Dois times que atuam ofensivamente, candidatos ao título, protagonistas de grande rivalidade que extrapola o campo esportivo. Embora os britânicos estejam bem mais fortes do que há quatro anos e os franceses sintam seus desfalques, é um clássico é um clássico europeu e mundial sem favoritismo, de resultado imprevisível.

*Sylvio Maestrelli, educador e apaixonado por futebol

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