Por Heraldo Palmeira
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25 de novembro de 2024

Boletim da Copa 13

Bola Al Rihla (Copa 2022)/Divulgação

Boletim da Copa 13

  • Sylvio Maestrelli

Japoneses vacilam, Brasil desencanta, decepção espanhola, Portugal dá show

Oitavas de final (rodada 2) Croácia e Japão disputaram uma autêntica pelada, inacreditável para quem quer chegar entre as oito melhores seleções do mundo. No primeiro tempo, os nipônicos foram melhores e abriram o marcador, em sobra de um raro cruzamento para a área; no segundo, atrás no marcador, os croatas se lançaram ao ataque e empataram a partida com uma cabeçada. Foi só. Daí em diante vimos duas equipes medrosas, que quase não arriscavam chutes a gol, parecendo satisfeitas com o placar de 1×1. E, pior ainda: com os treinadores substituindo seus jogadores mais lúcidos, extenuados, tudo que era ruim ficou horroroso.

O jogo foi para a prorrogação, a primeira nesta Copa. Mas nenhuma grande emoção rolou. Burocráticas, as duas equipes trocavam bolas na intermediária, de forma improdutiva, para agonia de seus torcedores e de quem estava diante da TV ao redor do mundo. Vieram, então, os pênaltis. Aí, para desespero dos fãs dos “samurais azuis”, já nas quatro primeiras cobranças os japoneses desperdiçaram três, todas defendidas pelo goleiro croata Livakovic. Enquanto isso, sem errar nenhum, os balcânicos venceram e passaram – capengando – às quartas de final, onde encontrarão o Brasil.

Apesar da vitória, a equipe xadrez – técnica e taticamente – está muito longe daquela que o país apresentou na Rússia, em 2018. Modric, Brozovic e Perisic, sobrecarregados, têm se desdobrado, mas seus atacantes estão muito abaixo daqueles outros que os croatas nos mostraram em Copas anteriores (Suker, Prosinecki, Boban, Boksic, Mandzukic etc.).

Os japoneses se superaram na surpresa. Afinal, na fase de grupos, bateram de forma surpreendente – mas com todos os méritos – as favoritas Alemanha e Espanha. E mesmo não fazendo uma apresentação convincente, conseguiram levar a partida empatada até o fim da prorrogação. Os pênaltis foram batidos de forma inocente, mas o Japão deixa o Catar de maneira digna, crescendo em qualidade em relação a Mundiais anteriores.

No outro confronto da rodada, a tática suicida do treinador português Paulo Bento, da Coreia do Sul, contribuiu bastante para a goleado sofrida por sua equipe diante dos brasileiros. Tentando jogar aberto, atacando, deixou muitos espaços que foram bem aproveitados pelo time Canarinho. No mano a mano, nossos pontas, principalmente Vinícius Júnior, furavam o bloqueio defensivo sul-coreano com facilidade. E se Raphinha não fosse tão “fominha” (ele mesmo, após o jogo, declarou estar ansioso), o placar que ao fim do primeiro tempo já era de 4×0 a nosso favor poderia ter sido ainda maior. Neymar, voltando de lesão, teve um rendimento abaixo do esperado, o que é compreensível. Contudo, alguns jogadores, como os defensores Thiago Silva e Marquinhos, o atacante Richarlison, o meio-campista Casemiro e até o lateral improvisado Danilo se destacaram bastante e a vitória foi obtida com grande facilidade.

Mas ainda temos que melhorar muito se realmente almejamos conquistar a taça. É, por exemplo, imprescindível evoluir quanto às substituições e estratégias de jogo, que cabem ao Tite. Contra a Coreia do Sul alguns equívocos ficaram patentes. Além de manter Neymar se arrastando em campo (irresponsabilidade por não preservar nosso melhor jogador, vindo de contusão recente), improvisou o pesado Bremmer na lateral esquerda (sacando Danilo, cansado, Marquinhos poderia ir para a lateral, deixando o central da Juventus na zaga, sua posição de origem). Isso abriu, no segundo tempo, uma avenida pela qual os sul-coreanos atacaram até chegar ao gol de honra. Ao teimar em manter Paquetá e Raphinha em campo, nosso misto de coach e guru de autoajuda arriscou a vantagem inicial obtida. Colocar, mesmo que por poucos minutos, o burocrático Dani Alves e seus previsíveis passes laterais, também configurou erro crasso. E, cá entre nós, deve ser deprimente para Fabinho, Éverton Ribeiro e Pedro perceberem que só atuarão em duas hipóteses: num surto de contusões ou numa roubada do tipo o time estar perdendo já com desvantagem considerável.

O placar de 4×1 no fim das contas foi um resultado justo, de bom tamanho. Após um massacre no primeiro tempo, o Brasil relaxou demais, padeceu pelas trocas equivocadas de seu treinador, os sul-coreanos cresceram e tiveram outras oportunidades de diminuir o placar. E trocar o goleiro Alisson, que fazia uma boa partida, pelo Weverton, queimando uma substituição, também foi uma temeridade, algo inexplicável. Copa do Mundo não é o momento nem de brincadeiras, nem de homenagens. E jogos mata-mata, eliminatórios, não devem e não podem servir para experiências.

Brasil x Croácia então, se encontrarão pelas quartas de final. O bicho vai pegar, porque os zagueiros croatas não aliviam, principalmente Gvardiol e Lovren, que batem acima da medalhinha. Somos favoritos, sim, mas será preciso seriedade, respeito e cuidado para não aumentar nossa lista de lesionados e para sair com um resultado positivo que nos leve às semifinais.

Por sua vez, Espanha x Marrocos pintava como uma partida muito disputada. Afinal, os marroquinos estavam com os ibéricos “entalados na garganta” desde 2018, quando, após um dramático 2×2 na fase de grupos, se viram eliminados. E o jogo, se não foi um primor em técnica, valeu pela garra e a extrema disposição das equipes.

Os espanhóis, como de costume, tiveram mais de 70% de posse de bola. Toque daqui toque de lá, muito preparo físico, mas quase nada de objetividade. Raras oportunidades de gol. Já os árabes, nos contra-ataques, levaram mais perigo à meta europeia. Foi assim na primeira etapa, na segunda e até na prorrogação. Como os ataques permaneceram inoperantes até o apito final, o 0x0 implicou a disputa de pênaltis.

Nela, brilhou a estrela do ótimo goleiro Bono, que defendeu as três primeiras cobranças dos espanhóis, enquanto seus companheiros convertiam. Quando Hakimi – o excelente lateral do PSG (nascido na Espanha, mas que optou por defender a terra de seus pais) – fez o gol decisivo, o estádio quase veio abaixo. Não é para menos: foi a primeira vez que uma seleção do mundo árabe chegou às quartas de final em uma Copa. E a terceira de africanos (após Senegal em 2002 e Gana em 2010). Sem contar que a torcida marroquina era maioria absoluta nas arquibancadas.

Além de Bono e Hakimi, merecem destaque as excepcionais atuações do zagueiro Saiss e do volante Amrabat, que comandaram o sistema defensivo com extrema eficiência, anulando totalmente os jovens meio-campistas e atacantes da Espanha. Aliás, vários destes, muito jovens, pagaram o preço do noviciado. E confirmaram o que já afirmamos em textos anteriores: são ótimos tecnicamente, mas estarão “no ponto” apenas daqui a quatro anos, na Copa da América do Norte. Merecem palmas, também, as cirúrgicas alterações efetuadas pelo treinador marroquino, que mesmo nos momentos em que sua seleção era territorialmente dominada, manteve um sistema tático que se demonstrou eficiente e eficaz. Também é relevante lembrar que Marrocos chegou às oitavas como primeiro colocado na chave que tinha croatas, belgas e canadenses.

Portugal, com uma exibição exuberante – para mim, a melhor de uma seleção até agora no Catar – goleou os suíços pelo improvável, mas justo placar de 6×1, destroçando seu tradicional ferrolho. Com atuação de gala de seu quadrado de meio campo (William Carvalho, o brasileiro naturalizado Otávio (ex-Internacional), o dinâmico Bernardo Silva e o talentoso Bruno Fernandes) encantou os amantes do bom futebol e superou uma Suíça que até tentou, mas não fez frente ao rolo compressor dos “tugas”.

A partida já começou com uma grande surpresa: a ausência de Cristiano Ronaldo entre os titulares, ele que aparentava uma fisionomia de raiva e frustração no banco de reservas. Fora barrado pelo experiente Fernando Santos, técnico disciplinador e vencedor (campeão da Euro e da Liga das Nações pelos lusitanos), por ter reclamado ao ser substituído na peleja contra os sul-coreanos. E assistiu a uma ótima atuação do jovem Gonçalo Ramos, seu reserva imediato, que marcou três gols na goleada do time. Aliás, um dos fatores que fazem com que a crítica especializada aponte Portugal como um dos mais fortes candidatos ao título, é, além da qualidade da equipe, possuir suplentes de altíssima qualidade, que atuam nos principais times do mundo, como Ruben Neves, João Cancelo, Vitinha, Rafael Leão e outros. Ah, CR7 entrou no final do jogo sem qualquer estrelismo, embora sem marcar gols.

A goleada premiou a permanente insistência dos portugueses em atacar. Mesmo com o jogo já definido no início da etapa final, o time continuou procurando o gol diante de uma Suíça atônita, cuja experiente defesa raramente sofre mais de dois tentos em um jogo só. Há de se lamentar somente a despedida dessa ótima geração helvética. Sommer, Schaar, Ricardo Rodriguez, Xakha, Shaqiri e outros dificilmente defenderão o país em 2026.

Encerradas as oitavas de final, teremos as disputas das quartas de final, onde os cartões amarelos serão zerados. Para não deixar dúvida: se o jogador tomar o terceiro cartão no próximo jogo, estará fora da semifinal. No caso de chegar ao da partida sem tomar um novo cartão, estará zerado.

Os jogos das quartas de final

– sexta   Brasil x Croácia | Argentina x Holanda

– sábado   França x Inglaterra | Portugal x Marrocos

*Sylvio Maestrelli, educador e apaixonado por futebol

Acompanhe aqui a nossa série sobre a participação do Brasil em todas as Copas

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