Por Heraldo Palmeira
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25 de novembro de 2024

Chorei por Zico. Por Neymar, jamais!

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Chorei por Zico. Por Neymar, jamais!

  • Sylvio Maestrelli

Telê Santana e Tite tiveram, ambos, oportunidade “sui generis” no futebol brasileiro. Os dois treinadores comandaram a Seleção Canarinho em duas Copas do Mundo consecutivas. Os dois, com resultados similares – eliminações na segunda fase de grupos (em 1982 e 1986) e nas quartas de final (2018 e 2022), fases equivalentes. Os dois perderam, sucessivamente, na bola e nas penalidades máximas (o primeiro para a Itália e a França, o segundo para Bélgica e a Croácia). Mas… quanta diferença!

A geração de 1980, ainda que mal convocada (muita gente boa não foi) ou mal escalada pelo turrão Telê, ofereceu ao mundo a oportunidade de ver craques do quilate de Leandro, Júnior, Falcão, Batista, Sócrates, Careca e especialmente Zico, sua estrela máxima. Com o desplante do treinador de deixar de fora Leão, Tita, Andrade, Mauro Galvão, Mozer, Adílio, Reinaldo e Mário Sérgio, dentre outros. Aquela safra de craques, mesmo derrotada, encantou os amantes do bom futebol e aquela Seleção de 1982 entrou para a história como uma das melhores de todas as Copas. A ponto de os italianos campeões daquele Mundial contratarem quase todos os nossos melhores jogadores.

Após a tragédia de Sarriá, confesso que chorei. Lembrava do belíssimo futebol ofensivo, de toques refinados, que venceram sucessivamente a União Soviética de Dasaev e Blokhin, a Escócia de Dalglish, a ingênua e retrancada Nova Zelândia e a Argentina, então campeã, de Passarella, Ardiles e Maradona, só parando em um muro chamado Dino Zoff e no oportunismo de um tal Paolo Rossi favorecido pela displicência de Toninho Cerezo.

Aliás, aquela derrota não só enterrou parcialmente o chamado futebol-arte que praticávamos (vencemos 12 anos depois, em 1994, com um sistema de jogo nitidamente europeizado), como estigmatizou aquela geração como um “grupo de perdedores” para os “resultadistas” ou “idiotas da objetividade” (Nelson Rodrigues). E infelizmente, com o mesmo Telê, tivemos uma nova derrota – em 1986 –, essa nos pênaltis, após campanha invicta que incluía vitórias seguidas sobre Espanha, Argélia, Irlanda do Norte e Polônia, antes de cairmos diante da França de Fernandez, Tigana, Giresse e Platini. Paramos nas mãos de Bats, no tempo normal, e no chutaço de Júlio César na trave direita dos franceses. O mesmo lado da trave que Marquinhos acertou agora.

Mas, além de Telê, quem ficou mito marcado por nossas derrotas e crucificado por elas – injustamente – foi o notável craque Zico, ídolo maior do Flamengo, o eterno Galinho de Quintino, o maior meia-esquerda que tivemos depois de Pelé. Apesar da grande atuação em 1982, o fato de não ter sido campeão pesou contra ele. E em 1986, pior, foi escolhido o vilão de nossa eliminação por ter perdido um pênalti contra a França, ainda no tempo normal. Poucos lembram que ele entrara em campo poucos minutos antes, sofrera a penalidade e, ainda frio, não fugiu à responsabilidade da cobrança. Ah, e que converteu na disputa final, depois da prorrogação terminar empatada – Sócrates e Júlio César erraram. Exemplo de atleta, tal qual Falcão, viajou gravemente contundido ao México e procurou contribuir sem estrelismos com a Seleção. Infelizmente, Zico jogou três Copas e não ganhou nenhuma.

Agora, tracemos um paralelo entre aquela geração e a atual, de Tite, um treinador que sempre se caracterizou por privilegiar o sistema defensivo pelos clubes por onde passou e por formar “panelas”, com alguns jogadores protegidos, qualquer que fosse o desempenho.

Assim como a Seleção de Telê será sempre lembrada, a de Tite quase imediatamente será esquecida. Ou, se for lembrada, simplesmente como mais um fiasco. Em primeiro lugar, porque o Brasil dos anos 1980 foi eliminado por grandes seleções, a campeã Itália e a excelente França, enquanto a atual caiu diante da Bélgica e da Croácia, boas equipes, mas indiscutivelmente inferiores em relação àquelas que enfrentaram o “Brasil que jogava por música”. Em segundo, porque hoje temos alguns (raros) ótimos jogadores, mas a maioria é comum, não esquentaria banco de suplentes naquela época. Ou alguém que conhece futebol, em sã consciência, acha que Paquetá, Fred, Raphinha, Daniel Alves, Gabriel Jesus, Alex Sandro, Alex Telles, Danilo chegam perto dos craques do Telê?

E em terceiro lugar, nosso problema maior: a “diva” Neymar. Rei nas redes sociais, multimilionário, midiático, egocêntrico, ídolo de milhões de seguidores. O “bad boy”, por ser diferenciado tecnicamente em uma geração onde predomina a mediocridade, tornou-se intocável e imexível para o guru da autoajuda Tite e sua comissão técnica, que lhe atribuem poderes de super-herói.

Um jogador que conseguiu algo impensável na Seleção Brasileira: ter uma rejeição gigante dos autênticos torcedores brasileiros (não os das selfies), muitos dos quais desejando vê-lo lesionado para não atuar. Que cobra todas as faltas, pênaltis, escanteios e, se câmeras e holofotes estiverem em nosso campo de defesa, até tiros de meta! Mas que não participou da disputa por penalidades que nos eliminou no Catar, por ter sido escolhido para cobrar o último, o da consagração, que não veio. Claro, a “diva” programara repetir o que fez nas Olimpíadas 2016.

Zico perdeu em 1978, 1982 e 1986. Neymar, em 2014, 2018 e 2022. Zico é idolatrado no mundo do futebol, Neymar é figura polêmica, amado e odiado na mesma proporção e sempre cercado de problemas por onde passou. Zico sempre foi respeitado por adversários e torcedores – mesmo os antiflamenguistas – pelo seu comportamento dentro e fora do campo.

Neymar é “persona non grata” para significativa parte das torcidas do Barcelona e PSG, além de muitos adversários, que o enchem de porradas em rodízio, por não suportarem suas tentativas constantes de humilhação com firulas e seus chiliques. Zico nunca teve problemas com árbitros, Neymar sempre procurou ludibriar os juízes cavando faltas e pênaltis (o “piscineiro”). E até nas derrotas, as posturas se mostraram opostas: enquanto Zico saiu cabisbaixo após suas eliminações, Neymar chorou estatelado no gramado de Doha esperando as câmeras.

Por isso, chorei por Zico e companhia, mas jamais faria o mesmo por Neymar e seus parças. Que a derrota para os croatas seja o crepúsculo de uma geração mimada e deslumbrada, de seu ícone maior e de um treinador que esbofeteia nosso bom senso ao incensar e mitificar pseudocraques, mantendo anos a fio uma irritante enganação.

*Sylvio Maestrelli, educador e apaixonado por futebol

Acompanhe aqui a nossa série sobre a participação do Brasil em todas as Copas

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