Por Heraldo Palmeira
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22 de novembro de 2024

Boletim da Copa 15

Bola Al Rihla (Copa 2022)/Divulgação

Boletim da Copa 15

  • Sylvio Maestrelli

Argentina e França na final, tricampeonato em disputa

Semifinais Foi uma verdadeira aula. Para não faltar Lionel, havia dois. No campo, Messi, comandando seus derradeiros recitais com a camisa da seleção argentina dava um show de competência, raça, liderança e humildade. Aos 35 anos, muito bem coadjuvado por um grupo de jovens platinos que vêm honrando as tradições da albiceleste, o veterano supercraque arrebentou mais uma vez nesta Copa. Agora, a vítima foi a aguerrida seleção croata. No banco, o outro Lionel, Scaloni, colocava em prática um sistema tático que inibia totalmente qualquer possibilidade de domínio dos balcânicos. Anulava o excelente trio Brozovic-Kovacic-Modric com marcação implacável, diminuindo os espaços no meio de campo com intensa pressão e alimentando o impetuoso Julián Álvarez em velozes contra-ataques. Com direito a subida simultânea dos laterais.

Ao término da primeira etapa, a fatura já estava liquidada. O 2×0 já dizia bem o que era o jogo. Sem permitir qualquer clara oportunidade de gol à Croácia, o “toco y mi voy” (toco e vou) dos argentinos cansava os europeus e demonstrava a versatilidade dos hermanos. MacAlister, Paredes, De Paul e Enzo Fernández ditavam o ritmo da peleja, enquanto Messi prendia, no mínimo, dois zagueiros no campo de ataque. Atônito, o time de Dalic nada produzia de concreto, tornando o arqueiro Emiliano Martínez um mero espectador.

No segundo tempo, após mais um lance genial de Messi, os argentinos fizeram o terceiro gol. Mas não recuaram. Nem tentaram humilhar um oponente já batido. Mantiveram o foco. Scaloni fez substituições que adaptaram sua equipe à temperatura do encontro. Em questão de minutos, passava-se do tradicional 4-4-2 ao 3-5-2, com a simples entrada ou reposicionamento de alguns jogadores. O treinador croata percebia as mudanças, mas não conseguia mudar o panorama da partida porque que os suplentes argentinos entraram com muita disposição e uma admirável obediência ao planejamento tático certamente treinado.

Foi bonito de ver. Uma lição de como furar retranca, ainda que sólida. De como confirmar um favoritismo na prática, no gramado, jogando futebol de primeira qualidade. Messi sofreu faltas, mas não houve rodízio de pontapés, porque respeitou – sem tentar humilhar – seus colegas de profissão croatas. Tampouco deu saltos ornamentais para chamar a atenção da arbitragem, da torcida e das câmeras. Não houve coreografia previamente ensaiada na comemoração dos gols. Mas, sim, uma barulhenta e linda festa ao final, quando todo o elenco argentino saudava sua maravilhosa torcida, dançando e cantando juntos a música que, entre outras coisas, dizia: “Quero ganhar a terceira, quero ser campeão do mundo, e Diego do céu podemos vê-lo! Com dom Diego e com La Tota torcendo por Lionel”.

A Argentina jogou livre, leve, solta e feliz contra a Croácia. A vitória por 3×0 contra a Croácia foi categórica e justo passaporte para mais uma final de Copa do Mundo. E tudo aquilo aconteceu ainda se dando ao luxo de preservar Di Maria – que conhece muito bem o futebol francês, onde jogou até há pouco no PSG –, outra grande arma a ser utilizada por Scaloni, o técnico que chorava de felicidade quando o juiz apitou o fim do jogo.

O jogo da Argentina talvez tenha sido também a desmoralização do time de Tite, por tudo que vimos ser feito e não fizemos. Os hermanos têm todo o direito de comemorar, sem perder de vista que na decisão vem pedreira: a França que, tanto quanto os argentinos, está com a mão na taça e no tricampeonato.

No outro jogo das semifinais os gauleses encontraram muita dificuldade contra os marroquinos, em uma partida equilibrada o tempo todo. O placar de 2×0 não espelhou fielmente o que foi a partida, já que os africanos inclusive tiveram domínio territorial tanto no primeiro quanto no segundo tempo, só desanimando após tomar o segundo gol francês, quase no fim da partida.

Griezmann foi o grande nome, o jogador que com seu talento, versatilidade e onipresença está jogando mais ainda que em 2018, quando foi um dos líderes na conquista do bicampeonato francês na Copa da Rússia. Secundado pelo muito bem-marcado Mbappé, pelo incansável Tchouameni e por um ótimo sistema defensivo, organizou o meio-campo e, em várias oportunidades, deixou seus atacantes em condição de gol. Parecia que estávamos vendo em campo uma encarnação francesa de Modric.

Mas Marrocos também teve suas chances, ora desperdiçadas por ótimas defesas de Lloris, ora pela falta de pontaria – ou mesmo demora no arremate – de seus atacantes. Hakimi, Zyiech, Amrabat e principalmente o meia Ounahi brilharam, dificultando demais a vitória dos gauleses. Foram guerreiros, representaram dignamente o continente africano e foram aplaudidos pelos seus fanáticos torcedores, que reconheceram o esforço dispendido. A Croácia que se cuide na disputa do 3º lugar. Os marroquinos consideram a disputa uma decisão, inclusive pelo significado que uma vitória terá para o futebol africano e o mundo árabe.

Os dois técnicos também deram um show à parte, mexendo pontualmente e muito bem em suas equipes. Assim que tomou o primeiro gol, o marroquino Walid Regragui já modificou seu time (na metade do primeiro tempo!), alterando a disposição tática de alguns jogadores, o que fez com que passasse a mandar na partida. Uma pena que o gol de empate insistiu em não sair. E o francês Didier Deschamps, percebendo que os africanos estavam já extenuados quando se passava da metade do segundo tempo, não teve receio de colocar nas pontas o veloz Marcus Thuram (filho do lateral Thuram, campeão em 1998) e o jovem destaque do Eintracht Frankfurt, da Alemanha, a revelação Kolo Muani, que atuava apenas pela terceira vez com a camisa dos bleus. A ousadia valeu a pena: na primeira vez que tocou na bola, Mouni a empurrou para as redes – após bela jogada de Mbappé – carimbando o passaporte francês para a finalíssima. Competência e sorte caminharam juntas.

Na disputa pelo 3º lugar, Croácia e Marrocos deverão fazer um jogo que promete bastante, uma vez que, para ambas as seleções, ficar entre as quatro melhores do mundo já é uma façanha, motivo de orgulho nacional. Maior ainda com a vitória.

Na grande final, argentinos e franceses, dois países bicampeões, merecedores do título e lutando pelo tricampeonato. Deverá ser um jogaço com direito a outros temperos, como a derradeira chance de Messi conquistar um Mundial. Ou a oportunidade rara dos franceses bisarem o feito de uma Copa anterior e obterem dois títulos consecutivos, conquista honrosa que só Itália (1934 e 1938) e Brasil (1958 e 1962), possuem. Se a França for campeã, o técnico Deschamps será o primeiro na história a ganhar um título como jogador (1998) e dois seguidos como treinador (2018 e 2022), exatamente o inverso de Zagalo. E Mbappé, aos 23 anos, se tornar o segundo mais jovem bicampeão do mundo (Pelé foi o primeiro, aos 21 anos). É um jogo sem favorito. Motivos não faltam para que o almoço de domingo seja servido mais tarde, depois do apito final.

Os jogos finais

– sábado   Croácia x Marrocos (disputa de 3º e 4º lugares)

– domingo   Argentina x França (final)

*Sylvio Maestrelli, educador e apaixonado por futebol

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