Por Heraldo Palmeira
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7 de novembro de 2024

KALUNGA MELLO NEVES Les paroles

Peggy_Marco/Pixabay

Les paroles

  • Kalunga Mello Neves

Na real, pensei por meio deste artigo, tão bem-disposto no aconchego do Giramundo, conversar com você numa relação fraterna entre leitor e escrevinhador. E não quero, creia-me, criar obstáculos morfológicos e sintáticos que dificultem nosso entendimento. Vamos nos imaginar num florido jardim, rodeados de borboletas, palavras a se darem as asas na tentativa de formarem coletivamente lindos parágrafos. Que eu me faça entender e alcance meu intento, tomara que sim.

Convido você para conversarmos novamente sobre tudo que já falamos antes algum dia. Não interessa quando e com quem. Aliás, sou dos que pensam que tudo já foi dito. O grande desafio agora é voltarmos a dizê-lo com outras palavras, sob novo enfoque, amparados em outros olhares sobre o mesmo cenário. E se o que já foi falado tivesse sido escutado com a atenção devida, a necessidade de voltar a dizê-lo talvez não se fizesse preciso. Mas sabemos, infelizmente, que o falar e o ouvir continuam tão distantes tal como céu e terra, Norte e Sul, guerra e paz, esquerda e direita…

O mais preocupante, em minha opinião, é que sabemos o que é o certo e o que é o errado, qual a atitude honesta e qual a desonesta, qual o agir ético e qual o antiético. Isso já ouvimos sei lá quantas vezes das pessoas com mais experiência de vida, dos nossos professores em suas sábias orientações e dos nossos pais no aconchego familiar. Sabemos também, imagino, distinguir perfeitamente nossos direitos das nossas obrigações, qual a real medida do nosso espaço e onde se inicia o espaço do outro. Mas adianta sabermos tudo se nossa maneira de viver e se relacionar, tão individualista, nos leva a desconsiderar todas as regras que não nos favoreçam?

Mas não custa sempre tentar de novo. Insistir quantas vezes for preciso. As palavras estão aí, vivas, vibrantes, camaleônicas, dispostas a nos apoiar e se oferecendo para serem utilizadas graciosamente por quem quer que seja. Sutilmente provocando a intelectualidade que as deixa encabuladas, apoiando gente humilde que se esforça para juntar duas ou três delas para expressar sua verdade envergonhada.

As palavras, vamos todos nos utilizar delas. Precisamos de sua cumplicidade para tornar conhecidas nossas ideias, mais robustos nossos argumentos. Nem que tenhamos que começar do zero e nos utilizarmos de um simples dizer como, por exemplo, eu gosto de você.

Eu gosto de você. Convenhamos, já é um começo e tanto para quem precisa falar de novo o que já foi dito inúmeras vezes e que é tão bom de se ouvir.

*KALUNGA MELLO NEVES, escritor

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