Por Heraldo Palmeira
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24 de novembro de 2024

Criança não entra

Victoria_Watercolor/Pixabay

Criança não entra

  • Heraldo Palmeira

Há uma onda crescente de criar limites à clientela em diversos tipos de negócios. Restaurantes e hotéis têm estado na ponta desse fenômeno em nome do “conceito de crescimento”, nas palavras de seus administradores. Muitos alegam que essas tendências ocorrem em nome de uma “experiência perfeita”, mas uma pergunta parece óbvia para o jornal português Observador: “Afinal, estamos a viver uma alergia à criançada ou o crescimento de um posicionamento comercial?”. Seja qual for o motivo, vão se multiplicando ao redor do mundo os estabelecimentos que aceitam ou não crianças e animais de estimação em suas dependências.

O requintado restaurante Eleven, em Lisboa, só aceita crianças a partir de 7 anos – abre exceção no almoço dos sábados, onde os pequenos a partir de 2 anos podem entrar. O mesmo ocorre no espanhol Fuente de La Lloba (sem nenhuma concessão), instalado numa refinada casa de pedra e madeira no ambiente rural das Astúrias, onde o sócio Eduardo Jiménez é taxativo: “É um lugar pequeno que tem apenas seis mesas. Quando eles vêm, os bebês choram e gritam ou os pequenos começam a correr, entrando e saindo. Limpamos muitas janelas. Os filhos não são os mal-educados, mas os pais, que pensam que estão em casa. Por isso preferimos que não venham crianças, porque tivemos experiências ruins”.

Um número crescente de hotéis não aceita hóspedes menores de 18 anos. O hotel TUI Blue Gardens da rede Savoy, no Funchal, é um deles e a diretora do grupo Graça Guimarães afirma que isso é apenas um conceito como outro qualquer, assim como existem os hotéis family clubs (clubes familiares) especializados em receber famílias. “Quer queiramos quer não, sabemos que as crianças se expressam de outra forma. São imprevisíveis e barulhentas”, completa.

Cristina Vieira, vice-presidente executiva da Associação de Hotelaria de Portugal reforça os argumentos: “Quem vai para um hotel de repouso não quer ter crianças aos saltos dentro da piscina. É legítimo. E um hotel voltado para a cultura do vinho? Será que é apropriado para crianças?”. Já os hotéis da rede jamaicana Sandals, especializados em atendimento de alto luxo a casais que visitam o Caribe, são famosos também pelas acomodações para lua de mel. É óbvio que crianças não se encaixam na proposta da empresa.

Muita gente concorda que estabelecer políticas de acesso é um direito dos estabelecimentos e maneira de conquistar seus nichos de mercado com serviços customizados. Afinal, quem paga caro por uma refeição num restaurante refinado ou por uma diária em hotel de alto luxo não deve se animar a incluir choro e correria de crianças entre as mesas ou no apartamento ao lado.

Na outra ponta, há os que defendem que esse tipo de restrição desrespeita os direitos e a liberdade da clientela. O assunto é delicado, inclusive porque as contestações chegam a alegar discriminação pura e simples. Os responsáveis por restaurantes e hotéis afirmam que uma boa conversa com apresentação de motivos claros sempre resolve as questões, algo que parece reforçar o bom senso sempre como boa alternativa.

Há também quem aproveite a polêmica para afirmar que tudo é resultado da inabilidade das novas gerações de pais, que não sabem mais como educar os filhos e estariam legando ao mundo criaturinhas incontroláveis, cheias de vontades, incapazes de aceitar discordâncias e que estão virando adultos com sérias dificuldades de viver em sociedade.

Como o fio da meada de uma prosa dessa tende a não ter fim, há os que sentem estranhamento com o fato de a realidade social revelar uma atenção exacerbada com animais de estimação, ainda mais nos grupos mais jovens. Tanto que os restaurantes e hotéis pet friendly (amigáveis a animais de estimação) estão por toda parte – embora também seja crescente o número com restrições aos bichinhos. “Os jovens de hoje preferem ter animais de estimação do que crianças. Uma tendência que é muito atenciosa com os amigos de quatro patas, mas não muito amigável com bebês. Enquanto mais restaurantes pet friendly são criados mais eles fecham as portas para os mais pequenos” definiu o site Upsocl.

O aeroporto de Istambul, Turquia, foi palco de uma demonstração dessa tese sobre afetos estranhos. Um turista viajava com seus quatro cachorros e, ao desembarcar, os bichos não chegaram. O homem (cerca de 30 anos) descompensou, começou a gritar diante do guichê da companhia aérea, chorou, andou de um lado para outro e até se jogou no chão. Aos berros, não deixou dúvidas: “Quero ver meus cachorros, são quatro cachorros. Onde estão meus cachorros? Eles são minha vida, são meus filhos”.

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https://www.refletirpararefletir.com.br/restaurante-proibe-a-entrada-de-criancas-os-filhos-nao-sao-os-mal-educados-mas-os-pais

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