Por Heraldo Palmeira
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7 de novembro de 2024

Avatar na medicina

Tim Kawasaki-montagem (Nick Ross/Pixabay + 20th Century Studios/Divulgação)

Avatar na medicina

  • Heraldo Palmeira

Os dois filmes da grife Avatar lançados até agora trouxeram às telas muito mais do que o enorme talento criativo do diretor canadense James Cameron e sua equipe técnica. Além do deslumbramento causado pelas paisagens e cenas, um dos pontos altos é o realismo dos alienígenas, que parecem quase reais.

Um dos segredos dessa característica dos personagens é a altíssima tecnologia de captura de movimentos dos atores, que utiliza sensores e trajes especiais para transmiti-los aos computadores. Agora, todo esse tesouro tecnológico que amparou o trabalho dos técnicos de efeitos especiais foi transportado para os laboratórios de cientistas ocupados em rastrear a progressão de algumas doenças.

Na verdade, aquele sistema de sensores e trajes passou a ajudar a rastrear o início de enfermidades que atacam o sistema motor e prejudicam os movimentos humanos. Algo muito oportuno para enfrentar patologias que, quanto mais cedo forem diagnosticadas, melhores os resultados dos tratamentos.

O pesquisador Aldo Faisal, professor de IA (inteligência artificial) e neurociência do Imperial College, Londres, foi um dos responsáveis pela adaptação dessa revolucionária tecnologia de captura de movimentos usada no filme para os ensaios clínicos. Com o avanço dos estudos, a avaliação dos pacientes ganhou rapidez e maior precisão. “Nossa nova abordagem detecta movimentos sutis que os humanos não conseguem captar […] Ela (a tecnologia) tem a capacidade de transformar os ensaios clínicos, bem como melhorar o diagnóstico e o monitoramento dos pacientes”, explicou.

O sistema utiliza IA para capturar e identificar padrões nos movimentos do corpo. Os primeiros testes já permitiram medir a gravidade dos distúrbios genéticos numa velocidade duas vezes maior do que os médicos conseguiam nas melhores avaliações tradicionais.

Diante desses resultados preliminares animadores, alguns especialistas anteveem que poderá diminuir consideravelmente o tempo e o custo para o desenvolvimento de novos medicamentos em ensaios clínicos. “Estou completamente impressionada com os resultados. O impacto no diagnóstico e no desenvolvimento de novos medicamentos para uma ampla gama de doenças pode ser absolutamente enorme”, afirmou à BBC Valeria Ricotti, especialista em saúde populacional da University College London (UCL).

Já o professor de medicina molecular Richard Festenstein, do Imperial College, concorda que a tecnologia dos trajes – que ajudou a desenvolver – poderá mudar para melhor o patamar econômico da descoberta de novos medicamentos. “Isso vai atrair a indústria farmacêutica para investir em doenças raras. O principal beneficiário de nossa pesquisa serão os pacientes, porque a tecnologia será capaz de criar novos tratamentos muito mais rapidamente”, afirmou.

Por meio de estudos separados, os testes iniciais foram realizados em pacientes acometidos de ataxia de Friedreich (FA) e distrofia muscular de Duchenne (DMD). Animados com os resultados, os pesquisadores pretendem ampliar os estudos em pesquisas de novas drogas no tratamento dessas doenças num prazo de dois anos.

Avatar também acena com ótimas novidades para outras direções da medicina. Os pesquisadores já começaram a preparar a utilização da tecnologia de sensores e trajes para também avançar no enfrentamento de Parkinson, Alzheimer e esclerose múltipla. Benditos sejam James Cameron e seus alienígenas azuis.

Um diretor especial O lançamento do mais recente filme de James Cameron não apenas ratifica a posição do diretor na posição de líder absoluto nas listas de faturamento da história do cinema. Afinal, só com Titanic, 1997 (US$ 2,201 bilhões), Avatar, 2009 (US$ 2,847, que segue liderando a lista em todos os tempos) e agora Avatar: O Caminho da Água, 2022 (US$ 2,050 bilhões) ele arrecadou até aqui um total de US$ 7,098 bilhões (R$ 35,844 bilhões) em bilheteria.

Ele foi o primeiro diretor a ultrapassar a marca de US$ 2 bilhões (R$ 10,1 bilhões) em bilheteria. Também o pioneiro a rodar produções de altíssimo orçamento: Titanic custou US$ 200 milhões (R$ 1,01 bilhão) e o primeiro Avatar US$ 400 milhões (R$ 2,02 bilhões).

Cameron mudou do Canadá para os EUA aos 17 anos e chegou a trabalhar como motorista de caminhão, sem nunca ter abandonado o projeto de ser cineasta. A insistência no sonho se mostrou correta. Além de trabalhar como roteirista, sempre teve interesse pelos efeitos especiais. Em 1984, escreveu o roteiro e rodou com baixo orçamento seu primeiro sucesso, que acabou se tornando um dos grandes clássicos do cinema e ícone da cultura pop: O Exterminador do Futuro – virou uma franquia de sucesso e entrou para a história.

O diretor sempre aparelhou seu trabalho com grandes inovações tecnológicas, que acrescentaram impactos visuais impressionantes a seus filmes e terminaram beneficiando outros segmentos:

– Desenvolvimento de câmeras 3D portáteis para as filmagens de Titanic, um salto para popularizar esse efeito especial que insere o espectador no ambiente da trama. Antes do filme, as câmeras 3D disponíveis tinham dimensões semelhantes às de uma máquina de lavar roupas, viravam um transtorno para as equipes e encareciam demais as produções. Há muitos anos o diretor se dedica a desenvolver equipamentos especiais para o cinema, como câmeras avançadas e equipamentos de iluminação (destinados a filmagens em ambientes de pouca luz, inclusive o fundo do mar).

– Produção de equipamentos inéditos de filmagem, iluminação e robótica para filmar os restos do navio Titanic (1995) no ambiente do naufrágio, a 4.305 m da superfície, onde ele esteve mais de 30 vezes a bordo de um batiscafo (espécie de minissubmarino) para captar imagens utilizadas no filme de 1997.

– Criação de altíssima tecnologia de captura de movimentos dos atores, que utiliza sensores e trajes especiais para transmiti-los aos computadores. Com isso, os alienígenas gerados em computador ganham movimentos que os transformam em seres quase reais.

– Construção de um minissubmarino Deepsea Challenge, absolutamente inovador e inédito (2012), capaz de levá-lo sozinho ao fundo do oceano Pacífico (2012), na fossa das Marianas, onde alcançou a profundidade de 10.898 m – o ponto mais abissal do lugar (e de todos os oceanos) é chamado de Challenger Deep e está a 11,2 km (estimados) da superfície. Foram 7 anos de preparação para uma permanência de apenas 2 horas e meia no fundo do oceano, onde foram postos à prova a coragem do explorador e a resistência do batiscafo, que encolheu 8 cm (dos seus 8 m de comprimento) em razão da imensa pressão exercida pela água naquelas profundezas, que pode chegar a ser mil vezes maior do que a da superfície. O projeto de natureza científica, realizado em parceria com o National Geographic, teve suas imagens reveladas ao mundo em 2014 no documentário Deepsea Challenge 3D.

Muitos desses equipamentos desenvolvidos por James Cameron tornaram possível realizar produções complexas. O sistema de comunicação criado para o filme O Segredo do Abismo (1989) permitia-lhe falar com os atores e gravar diálogos debaixo d’água – 40% das cenas foram captadas em ambiente submerso. Outro bom exemplo é o espetacular documentário O Segredo das Baleias (2021), uma produção que consumiu 3 anos, gravações em 24 pontos do planeta e tem narração da atriz Sigourney Weaver.

Além de completar a série de filmes Avatar até 2028 – o projeto terá mais 3 filmes novos –, Cameron está totalmente envolvido com o desenvolvimento de aparatos tecnológicos para montar a uma espécie de monitoramento subaquático dos oceanos. “Precisaríamos de inteligência artificial e de aparatos pequenos, silenciosos e robóticos para distribuí-los no oceano e coletarmos informações como as que recebemos dos satélites meteorológicos”, afirmou com aquele ar de quem, habituado a inventar tecnologias revolucionárias, trata algo desse porte como a coisa mais trivial do mundo.

Veja aqui Avatar: O Caminho da Água (trailer)   https://www.youtube.com/watch?v=V-0GkangoHM

Veja aqui O Segredo das Baleias (trailer)   https://www.youtube.com/watch?v=xpU3mSqWUWQ&t=22s

Veja aqui o minissubmarino Deepsea Challenge   https://www.youtube.com/watch?v=-yBUy5FqbvA

 

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