Por Heraldo Palmeira
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23 de novembro de 2024

Obesidade na mira

Tumisu/Pixabay

Obesidade na mira

  • Heraldo Palmeira

O mundo da saúde viveu momento de grande interesse durante a reunião da Sociedade Americana de Química ocorrida no fim de março, quando foi apresentado um estudo que poderá representar avanço inédito no combate da obesidade e do diabetes. O impacto é compreensível, já que essas duas doenças crônicas cada vez mais ganham ares de pandemias no mundo moderno, inclusive porque seus fatores de risco incluem qualidade da alimentação e estilo de vida.

O eixo central do trabalho liderado pelos cientistas norte-americanos Robert Doyle, da Syracuse University, e Christian Roth, do Seattle Children’s Research Institute são os tratamentos capazes de interagir com mais de um tipo de receptor de hormônio intestinal além do GLP-1. A partir daí, os pesquisadores criaram um peptídeo denominado GEP44, capaz de ativar dois receptores para PYY – PYY e GLP-1 são hormônios cuja atuação no organismo sinaliza a saciedade para o cérebro, reduz o apetite e normaliza os níveis de açúcar no sangue.

O tratamento promete promover emagrecimento e remissão do diabetes semelhantes ao de uma cirurgia bariátrica, utilizando apenas medicamentos. Ele poderá abrir uma nova realidade no segmento que afeta profundamente a população mundial, seja por razões de saúde ou estética. Afinal, o grande sonho de boa parte dessa massa é perder peso e manter-se saudável.

Os pesquisadores também afirmam que existem outros benefícios que virão agregados: redução dos riscos de desenvolver diabetes, diminuição do peso e da glicose no sangue e aumento do gasto de energia. E, ao que tudo indica, o tratamento também não provoca efeitos colaterais desagradáveis, principalmente os gastrointestinais. Sequer as náuseas e vômitos associados aos melhores medicamentos atuais.

São esses efeitos colaterais que fazem muitos pacientes desistirem dos tratamentos disponíveis. “No período de um ano, de 80% a 90% das pessoas que começam a usar essas drogas não estão mais tomando”, assegura Robert Doyle, um dos autores do estudo.

Nos testes de laboratório, camundongos obesos diminuíram em até 80% as quantidades de alimentos. Ao fim de 16 dias, haviam perdido em média 12% do próprio peso, três vezes mais do que os submetidos a liraglutida, droga aprovada pelo FDA para tratamento da obesidade. Soou aos pesquisadores como sinal claro do potencial da substância para provocar redução “drástica” no peso corporal. O estudo também incluiu exemplares de musaranho, um tipo pequeno de roedor que, ao contrário dos camundongos, tem capacidade de vomitar e permitiu ampliar a observância de reações ao medicamento.

Os cientistas atribuíram essa perda de peso à redução alimentar, mas também consideraram como fator importante um maior gasto de energia pelo organismo. Outros dois pontos também chamaram atenção: mesmo depois de encerradas as aplicações do GEP44, os animais se mantiveram magros e com níveis reduzidos de açúcar no sangue, algo que não costuma acontecer nos tratamentos com os medicamentos atuais.

Também foi observado que, diferentemente daqueles que receberam a liraglutida, os que tomaram GEP44 não demonstraram sinais de náuseas ou vômitos. “Durante muito tempo, não pensávamos que fosse possível separar a redução de peso de náuseas e vômitos, porque eles estão ligados exatamente à mesma parte do cérebro”, festejou Doyle.

Até aqui, os meios disponíveis para tratamento de obesidade e diabetes incluem as cirurgias bariátricas, que resultam em perda duradoura de peso e até na remissão do diabetes, mas são intervenções importantes cercadas de todos os riscos cirúrgicos. Há também diversas drogas que anunciam o mesmo efeito das bariátricas, atingiram alto nível de eficiência, mas carregam grandes inconvenientes para muitos pacientes mais sensíveis aos seus efeitos colaterais.

O efeito do GEP44 para provocar a perda de peso está associado à redução da quantidade de alimentos e ao maior consumo de energia pela atividade corporal. A primeira versão permanecia agindo uma hora no organismo, mas o grupo de cientistas já recalibrou a composição da substância, que agora tem tempo de ação maior e deverá ser injetada em uma ou duas doses semanais.

Encerrada a primeira fase do estudo, o produto será patenteado e em seguida terão início os testes em primatas. Por enquanto, ainda não há data para sua chegada ao mercado.

Saiba mais

https://gizmodo.uol.com.br/cientistas-desenvolvem-tratamento-para-obesidade-sem-efeitos-adversos/

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