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Um olhar diante da beleza
- Kalunga Mello Neves
O que nos leva a conceituar beleza de maneira tão contundente? Não nos preocupando em ocultar nossa subjetividade, a opinião que temos e espalhamos aos quatro ventos pode ser discutível, pragmática, mas acreditamos nela. Por isso a difundimos sem quaisquer filtros, com alto poder de persuasão que só nós acreditamos ter.
A beleza embriaga e ludibria o olhar. Nos conduz para julgamentos esteticamente incorretos. Os opostos apresentam belezas distintas, os iguais também. A beleza pode ser um conjunto, ao mesmo tempo que não. Pode revelar procedimentos cirúrgicos perfeitos, assim como a desnecessidade dos mesmos, graças às benevolências do tempo para conosco.
Existem várias definições de beleza, mas nem mesmo o dicionário assume a responsabilidade de considerar alguma delas única. Em termos humanos, que padrão de beleza poderá ser superior aos outros? Podemos confundir beleza com charme?
O sorriso é o passaporte do belo. Os adereços, caros ou não, complementam superficialmente o que não pode ser modificado através de meros adornos. Somos o que somos, nossos atributos físicos nasceram conosco e assim permanecerão por nossa vida toda. Obviamente expostos aos desgastes do viver.
Nossa beleza interior, assim como um sábio discreto, faz questão de não interferir em julgamentos emocionalmente comprometidos com o soprar dos tempos. Os padrões de beleza de hoje podem perfeitamente não serem os mesmos de amanhã, como não são mais os que reinavam ontem. E a beleza é mesmo conceitualmente universal? O que para nós é bonito, para o outro será? A sabedoria popular já se encarregou – sabiamente – de meter a colher, com a máxima “Quem ama o feio, bonito lhe parece”. E ainda temos a azul verdejante cauda do pavão, que pode ser deslumbrante ou estravagante; depende de quem olha.
*KALUNGA MELLO NEVES, escritor e brincante