Por Heraldo Palmeira
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24 de novembro de 2024

Efeito Messi

Reprodução/Anne-Christine/POUJOULA/AFP

Efeito Messi

  • Heraldo Palmeira

O mundo do futebol acaba de ser surpreendido com o destino escolhido pelo argentino Lionel Messi para encerrar sua impressionante carreira de craque absoluto nos campos do mundo. Havia na mesa estratosféricos € 400 milhões (R$ 2,12 bilhões) por temporada oferecidos pelo Al-Hilal. Pelo visto, os árabes pretendiam remontar uma versão fake do clássico Real Madrid x Barcelona, já que levaram Cristiano Ronaldo para jogar no Al-Nassr e espalhar magia nas areias das mil e uma noites. De lambuja, contrataram também Karim Benzema para jogar no Al-Ittihad, pela bagatela de € 100 milhões (R$ 530 milhões).

Quando todos davam como certo que a sedução do maior salário já oferecido a qualquer atleta seria fatal, surgiu no meio do caminho o Barcelona, amor antigo, com um caminhão de dinheiro bastante menor – na casa dos € 30 milhões (R$ 159 milhões) –, mas invocando a memória das 17 temporadas gloriosas que construíram um momento mágico da história do futebol.

De repente, apareceu correndo por fora um azarão que está pendurado na parte inferior da tabela da ainda meio amadora liga norte-americana. No fim, o Inter Miami atravessou o tapetão e levou a melhor, pagando “apenas” € 60 milhões (R$ 318 milhões) por cada uma das duas temporadas previstas no contrato. Mesmo assim, um bocado maior que os € 41 milhões (R$ 217,3 milhões) pagos pelo PSG.

O simples anúncio da chegada próxima de Messi já demonstrou o potencial do negócio para o time que tem como presidente e um dos proprietários o ex-jogador inglês David Beckham: o número de seguidores do time no Instagram saltou, em 24 horas, de 1 milhão para 4,9 milhões.

Na verdade, essa contratação faz parte de um projeto de expansão do clube, que também promete construir o Miami Freedom Park, um novíssimo estádio com 25 mil lugares a ser erguido nos arredores do aeroporto da cidade, cuja inauguração está prevista para 2025. Claro que a aposta inicial é que Messi comande o jogo para mudar a face do time, um dos lanternas do campeonato.

La Pulga chega ao clube norte-americano com custo zero na transferência, depois de ganhar passe livre ao encerrar seu contrato com o PSG, uma aventura que durou apenas duas temporadas e certamente não deixou saudades no clube, nos torcedores, no jogador e sua família. Agora, ele estará numa liga muito menos exigente, inclusive na questão do calendário. Sem dúvida, um ambiente bem mais adequado para um atleta em idade madura, que não precisa mais provar nada para ninguém e já não tem as mesmas condições físicas de antes.

Os benefícios da chegada do argentino aos gramados norte-americanos deverão se estender à Major League Soccer (MLS), a liga de futebol profissional dos EUA, e já começam a sacudir o mundo da bola. Afinal, o país foi um dos escolhidos pela FIFA como país-sede da Copa do Mundo 2026, ao lado de Canadá e México.

O novo contrato vai garantir ao jogador diversos benefícios adicionais negociados com os gigantes Apple, Adidas e a própria MLS, sem contar a vida em Miami, desejo antigo da família. Além disso, depois que se aposentar poderá adquirir ou montar um time para disputar a liga – a exemplo do que a MLS fez com Beckham.

Num mundo com os interesses comerciais que conhecemos, não é prudente pensar que Messi simplesmente abriu mão de € 340 milhões (R$ 1,8 bilhões) por temporada quando desprezou a proposta da Arábia Saudita. É mais correto imaginar que essas alianças empresariais já anunciadas – e outras não deverão tardar – terminem por até suplantar a chamada “oferta irrecusável” que foi recusada.

Agora, o jogador deverá cumprir amistosos pela Seleção da Argentina e, em seguida, se integrar ao elenco do seu novo time, que tem jogos marcados até outubro. Sua estreia no Inter Miami está prevista para 21 de julho, contra o Cruz Azul, do México, na primeira rodada da Leagues Cup, torneio organizado pela MLS com clubes americanos e mexicanos.

Muita gente dava como certa a volta ao Barcelona. Por isso, surgiram especulações de que o Inter Miami seria apenas uma ponte para driblar o Fair Play Financeiro estabelecido pela UEFA, e emprestaria sua nova estrela ao time da Catalunha. Talvez seja apenas notícia sensacionalista, já que os bastidores insinuam muitas mágoas entre o clube catalão e seu maior jogador.

História O novo time de Messi é o Club Internacional de Fútbol Miami, que estreou na MLS em 2020. O nome foi escolhido para homenagear a grande presença de latinos na Flórida e celebrar Miami como polo global de grande beleza, com fortes traços da colonização espanhola. Um lugar de caráter internacional, sempre aberto para receber e acolher diversas culturas e comunidades, oferecendo um ambiente reconhecido pela diversidade.

Futebol árabe Despejar uma enxurrada de petrodólares para criar um ambiente de bom futebol faz parte do grande objetivo dos árabes em repetir o Catar, em 2022, e levar para aquelas bandas do mundo outra Copa do Mundo, a de 2030. Afinal, será uma data de grande relevância para o esporte mais popular do planeta: o centenário dos Mundiais. Por isso mesmo, o Uruguai (país-sede e campeão do primeiro torneio, em 1930) já se associou a Argentina, Chile e Paraguai para apresentar candidatura conjunta à FIFA, com o objetivo de sediar a festa.

Fair Play Financeiro Conjunto de normas financeiras criado pela UEFA, que estabelece um “limite de custo com o plantel esportivo” dos clubes, incluindo salários de jogadores, comissão técnica e transferências de atletas, tendo como base o balanço financeiro do exercício anterior.

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