Por Heraldo Palmeira
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7 de novembro de 2024

MINERVINO WANDERLEY 69!

Tim Kawasaki – montagem (Diapiccard/Pixabay + Reprodução Internet)

69!

  • Minervino Wanderley

Oba! Chegou mais um aniversário! Confesso que sempre gostei e ainda gosto da data e espero que ela venha muitas vezes. Sei que, para muita gente, um aniversário é uma espécie de “marcador” da vida, como se a gente tivesse um tempo “X” de nossa passagem. Besteira. Não há um cronômetro que marque isso. Como canta Caetano: “Navegar é preciso, viver não é preciso”.

Desde os sessenta anos que liguei o “foda-se!” e parei de me importar com coisas que outrora me eram valiosas. Um bom carro, roupas bonitas, corpo bem definido etc. e tal, hoje não valem de nada. Prefiro uma bermuda jeans, uma camiseta confortável, um tênis All Star, uma colônia refrescante, um carro que me leve aonde eu quiser, e muita disposição.

Idoso? Ora, aproveitei esse adjetivo que passei a ter para estacionar em vagas melhores, pagar meia no cinema, pegar filas menores e ter prioridade em algumas coisas que, por lei, são obrigatórias.

Agora, chego aos sessenta e nove anos de existência. É muito tempo vivido. E como foi. Posso dizer que vivi intensamente e que tratei cada dia como se fosse o último. Mas ainda acho pouco. Ainda tenho combustível para mais.

E pensar que quando eu era criança, uma pessoa com essa idade era um velho caquético, um autêntico “pé na cova”. Dou uma risadinha só com o canto da boca. Ora, cheguei lá e está longe de mim me sentir assim.

É bem verdade que demorei um pouco a aceitar o tal do “senhor” com o qual começaram a me tratar. E essa insatisfação crescia principalmente quando era por parte das mulheres. Isso eu ainda não descobri a razão.

Às vezes jogo a culpa nos cabelos brancos. Logo neles? Pobres cabelos brancos e pobre barbeiro. Mensalmente, eles – barbeiro e cabelos – têm que dar um jeito de esconder as vastas falhas na hoje rala cabeleira. Liguei o “foda-se!”, mas ainda tenho vaidade.

Com relação à vida que levei até agora, posso dizer que passei por ótimos e péssimos momentos. Mas falemos das boas. Nasci filho de Emílio e Martha Salem, o que já é um privilégio. Cresci como menino caçula de mais cinco irmãos. Emílio, Marta Maria e Elizabeth, que Deus já levou, além de Caio e Margarida, sempre presentes no meu cotidiano.

Nesse trajeto, Deus me deu dois presentes, os mais valiosos que já ganhei: duas filhas. Juliana, hoje mãe de Lívia e João, e Larissa, mãe de Levi. Guardo essa turma num especial lugar do meu coração. Sempre com um beijo bem grande!

Viajei muito e vivi experiências nunca antes imaginadas. Conheci lugares que me encantaram e que serviram muito para eu saber me colocar no mundo como cidadão. Educação e cultura nunca são demais.

Bem, talvez por herança genética, fui um boêmio de primeira. Atravessei noitadas inesquecíveis arrodeado de amigos. Com eles, o sol foi testemunha de muitas farras terminadas na praia, com violões, cigarros e bebidas. Nessas horas, sempre me lembro de Marcelo Dieb, primo e amigo, e de Jorginho Lira, parceiro de Marista e dos fins de tarde no Clube de Engenharia. Salve, Jorge!

Em paralelo a essas noitadas, curtíamos muito som. Rock e jazz da melhor qualidade. Nesse departamento, os parceiros eram Sérgio Sapinho, Tasso Tinoco, Julinho Rezende, Ugo Paiva, Alex Nascimento, Adriano Rocha, Pereirinha, Perón, Beto Cortez e quem se chegasse.

Tive a imensa sorte de viver um período em que existiam duas referências de bar e restaurante em Natal: o Raro Sabor e a Trattoria Bella Napoli. Tudo começava com o happy hour do Raro, que se estendia noite adentro, até que, em bando, íamos para o Bella dar continuidade à noitada. Às vezes dávamos uma estendida até o Chaplin. A noite era sempre um bebê.

As anfitriãs do Raro eram as adoráveis Gracinha, Laura e Ana. À época, 1980/1990, eu era casado com Tânia Araújo e formamos mesas divertidas com Rogério Santos e Maruska, Vem-Vem e Liane, Zeca Melo e Rozana, Percy, Virgílio, Coró e Carmen, Alonsinho e Regina, Ximbica, Zé Dudu, Eduardo Rocha, Jener, Verinha Guedes, Eliane e Tereza Tinoco, Alcina Holanda, Getúlio Soares, Jota Oliveira, Marcelo Carrilho e Gracinha Madruga, Lucinha, Gracinha Vilar, as Barreto – Vera, Ana e Tereza –, Áureo Borges, Fernando Fernandes e Gladys, Alex Nascimento, Caio Salem e Tânia, Eugênio Cunha, Marília Sá, Roberto Guedes, Tázia Sá, Paulo Coelho e Marcinha, Newton e Márcia, e mais um bocado de gente boa. Claro que devo ter esquecido alguém, mas a culpa é da memória.

Também ficaram marcadas na memória as quartas-feiras no Kazarão, na Campos Sales. Quando eu chegava no balcão, Temístocles já estava colocando um whisky com muito gelo e o filé cortadinho com farofa de ovos na manteiga estava a caminho. E haja um bom papo com Luiz Carlos, o diplomata Fernando Abbott, o médico Heriberto Bezerra e outros poucos mais. O balcão do Kazarão não era para todos. Tive a honra de ser um dos escolhidos por Luiz Carlos. Saudades das conversas e desse pessoal tão distinto.

Há uns dez anos que parei com as farras desmedidas. Substituí o whisky por juízo, mas aqui e acolá dou umas saídas e vou tomar umas doses de malte e, dependendo do momento, umas cervejas.

Casei-me com Cristina, uma companheira e parceira de vida. A gente se dá bem porque existe uma coisa que vem com a idade e que nós aplicamos: a verdadeira maturidade. Temos muito respeito pela individualidade um do outro e isso fortalece demais nossa convivência. O respeito mútuo e a manutenção do amor em gestos diários formam a base da nossa vida em comum.

Bem, amigos. Como ainda tem muita coisa pra contar da vida que vivi, vou esperar pelos setenta anos e aí farei uma retrospectiva de um bocado de aventuras.

Têm histórias da minha segunda família, que tinha à frente Alcides Araújo e Guiomar, passagens pelo futebol, das andadas como hippie, das primeiras namoradas, de decepções, alegrias, do meu primeiro trabalho no BB de Currais Novos, dos fracassos e das conquistas. Prometo que daqui a um ano a gente se fala.

Vou ficar por aqui e acho que vou comemorar os sessenta e nove anos tomando um whisky Vat 69. Só não sei onde encontro essa raridade. Inté!

*MINERVINO WANDERLEY, jornalista e blogueiro

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