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Consumo na velhice
- Renata Fernandes
Na leitura diária das notícias me deparei com um tema que tem estado em evidência: o envelhecimento da população e o novo estilo de vida das pessoas do grupo denominado 60+. E a matéria enveredou pelo viés do consumo, afirmando que os idosos vêm movimentando empresas e profissionais e que “o envelhecimento cria oportunidades na chamada ‘economia do cuidado’”.
O que mais me incomoda em notícias como essa é a apropriação do tempo e da experiência, pelo sistema do capital, do utilitarismo e do consumo.
A pretexto de uma “celebração à velhice”, o que se impõe é o uso conveniente de quem envelhece, para turbinar a economia e o mercado.
Algumas reflexões são relevantes antes de sair por aí fingindo que o tempo não age, que o corpo e a mente não deterioram e que a morte não é o fim de todos nós, gostemos ou não desse epílogo:
1) Envelhecer bem, em um país tão desigual como o nosso, é privilégio de quem tem acesso aos direitos, especialmente à educação e saúde.
2) Envelhecer é condição de quem não morre jovem. Não é dispositivo de exclusão ou classificação.
3) Para existir, ser visível e respeitado, velhos não precisam parecer jovens, ou continuar produzindo e consumindo até o fim.
Não vamos romantizar a velhice. Lutemos para garanti-la a todos. Que na velhice possamos escolher, com autonomia e liberdade, de que forma viveremos nossas vidas. Que o respeito venha pela compreensão de que o tempo, as referências, as experiências pessoais podem ser compartilhadas, em um processo contínuo de existência.
*RENATA FERNANDES, jornalista