Por Heraldo Palmeira
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7 de novembro de 2024

Música do Brasil

AndreasAux/Pixabay

Música do Brasil

  • Heraldo Palmeira

Quem gosta da música brasileira anda alarmado com o baixíssimo nível que, ano a ano, as produções vão alcançando. Cansamos de ouvir que temos uma das maiores músicas populares do mundo – alguns mais entusiasmados tratam como “a maior” –, mas o que temos nas playlists em geral é desanimador.

Na maioria das cidades, o dial das FMs é de dar pena, as rádios estão entregues a discussões políticas com partido tomado, deselegâncias no ar, fofocas relacionadas, gente sem formação e conhecimento vociferando bobagens, e nada, nada de música. Por sorte, a internet e algumas geringonças eletrônicas garantem acesso a ótimas emissoras, quase sempre instaladas a milhares de milhas dos nossos ouvidos sofridos.

Vez por outra surge a velha máxima de que essa porcaria que passaram a chamar de música é onipresente nas TVs, rádios, clubes, baladas e qualquer ajuntamento de gente porque o povo gosta. Talvez caiba considerar que a mídia ainda tem dificuldade em tratar da segmentação que uma sociedade plural exige e, por isso, sempre atira no macro. Os “gênios” dos gabinetes refrigerados resolvem que algo é mainstream, apostam no descartável – custa menos e substituir o elenco é simples – e ponto final. Não surpreende que tudo avance na base do quanto pior, melhor.

O que sustenta a esperança da orfandade é perceber que mesmo debaixo de uma chuva inesperada quem tem fidalguia mantém a linha, a majestade de quem já foi rei. Basta um leve descuido dos donos do pedaço e as joias da coroa passam debaixo dos seus narizes. Apenas nos últimos dias deste outubro duas pérolas começaram a circular antecipando bons tesouros.

Depois de um período em que seus componentes se estranharam em consequência da polarização política, uma parceria inédita entre Zé Renato e Nando Reis anuncia Rio Grande (link abaixo), um single que reabre a discografia e a carreira do grupo Boca Livre.

Fazendo uma inesperada reconexão com o passado, a música traz o grupo para os seus melhores dias, com um arranjo vocal inspiradíssimo de Maurício Maestro. Os distintos senhores agora grisalhos fazem uma espécie de atualização dos dois primeiros discos do grupo, onde uma refinadíssima sonoridade brejeira se mostrava em casa em qualquer urbanidade. Que ninguém se iluda, Rio Grande é uma das mais belas canções já gravadas pelo Boca Livre, um som que soa familiar porque tem a marca registrada do quarteto.

Noutra raia de grande visibilidade, em 14 de dezembro chegará ao mercado Portas ao Vivo, o novo álbum de Marisa Monte. A gravação ao vivo é resultado da turnê que percorreu América do Sul, Europa, Estados Unidos e Canadá em quase dois anos e foi vista por mais de meio milhão de pessoas.

Marisa não deixou por menos e iniciou a divulgação com sua versão de Doce Vampiro. “Sempre fui apaixonada pela Rita Lee como artista e pessoa e eternamente grata pela maneira como ela me recebeu no começo da minha carreira”, disse.

Já debilitada pela doença, a rainha não pôde comparecer ao show em São Paulo, mas Marisa fez questão de abrir uma linha de transmissão exclusiva para que Rita e Roberto de Carvalho pudessem assistir em casa à multidão cantando Doce Vampiro (link abaixo). E a performance teatral da cantora honra sua musa num quase retrato de incorporação espiritual.

Por fim, uma grata surpresa que está rolando ainda discretamente por aí. Marina Horn, uma menina filha de músico que parece muito mais apenas se divertir na internet, está na verdade tratando o samba como gente grande. Tomara que logo ganhe todas as esquinas de um país que precisa aprender a cantar bonito de novo.

Nada mais animador quando a música brasileira jorra sua água mais cristalina. E não é de hoje que se diz que “água morro abaixo”…

Veja aqui

Rio Grande   https://www.youtube.com/watch?v=AOio3aH7rKU

Doce Vampiro   https://www.youtube.com/watch?v=VhXjHDGvrv4

Conselho   https://www.youtube.com/watch?v=BmlwfS6cQAk

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