Por Heraldo Palmeira
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24 de novembro de 2024

KALUNGA MELLO NEVES Eu diante do espelho

Traumland-DE/Pixabay

Eu diante do espelho

  • Kalunga Mello Neves

Quem sou eu? Aquele ali ou este aqui? Impressionante, há mais de setenta e tantos anos me olhando no espelho todo santo dia, de uns tempos para cá sorrindo sempre quando me vejo, me desejando bom dia, saúde, felicidade, paz. Querendo o mesmo para os meus também. Isto significa que diante de mim sou um cara do bem, curtindo positivamente a vida, disposto a abrir a porta e sair distribuindo afagos pra todo mundo.

Quem dera fosse assim. Comigo e com toda a gente. Mas a realidade em que estamos inseridos capricha em refletir imagens distorcidas. E as vitrines preconceituosas mostram o que a sociedade quer ver. Ou ignorar quando convém. Tão simples ser normal, mas insistem em nos domesticar emocionalmente para que não nos sintamos confortáveis sendo o que gostaríamos de ser. Temos que sonhar alto, buscarmos a admiração do outro, ainda que a “celebridade” não nos acrescente nada, a não ser quinze segundos de fama.

As rugas surgem, nosso confidente de vidro nos mostra, e a convivência com elas vai se tornando fraternal. O sorriso envelhecido acompanha nossos pensamentos a lembrar o quanto perdíamos de horas para arrumar os cabelos – em muitos casos, grande ironia, eles foram embora –, massagear o ego estampado em um rosto liso que deixou certa saudade. O peito, quando à mostra, nos constrange um pouco, mas entendemos que com os outros acontece o mesmo e isso traz certo consolo. O sorriso, ah, o sorriso! Está mais bonito agora, mais expressivo, mais verdadeiro. Ele expressa toda a esperança que ainda nos resta. E por termos chegado até aqui, isto não é pouco…

*KALUNGA MELLO NEVES, escritor e brincante

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