Gerd Altmann/Pixabay
Ofertas da vida
- Kalunga Mello Neves
O que a vida nos oferece. Pois é. Tudo o que imaginamos? Temos que pensar, e pensar é algo muito sério. Cansa mais do que correr uma maratona estando fora de forma, e ainda contra a vontade. E quando se trata de assunto desta magnitude, aí mesmo é que o bicho pega!
O primeiro choro, os nove meses antes, a vida, a razão de tudo começa a se tornar concreta para nós. O que esperar do depois, se temos um passado ainda incipiente que vive às burras com o agora em nossa infância? Tudo em frente é esperar pra ver. Surpresas à parte, vivamos o nosso quinhão e respiremos – parafraseando o poeta, respirar é preciso.
A vida nos oferece tudo, inclusive uma porção de vazios que preenchem nossos dias. Uma grande peça teatral, ela. Roteirizada por Deus? Quem sabe! Somos personagens, ora protagonistas, ora coadjuvantes, desta tragicômica satírica e irreverente criação de tão rara inspiração constituída por um único e interminável ato.
Cada início de manhã, independentemente do cenário… luz, câmera, ação! E lá vamos nós no improviso de sempre, às vezes nervosamente decorado. Ah, e é tudo ao vivo e sem dublê. Desde a cena do café da manhã até a reza no fim da noite. Desde a corrida matinal até mais um dos homéricos porres da madrugada. Beijamos, vamos aos pés, lemos um livro, trabalhamos oito horas e somos mal pagos. Conhecemos nossos amores, disputamos traições, cantamos baixinho abarrotados no metrô.
Temos momentos de nostalgia pura. Temos dores que não tínhamos antes. Temos a sensação de alegria que nos traz um fim de ano ou a vitória do nosso time. Temos parabéns, Natal, nascimentos e velórios. A vida nos mostra a morte implícita, parceira indesejada e fiel. E muitos e muitos sonhos a vida nos oferece também.
Vontade de ser, incentivo para ir adiante, desestímulo para nos desafiar até onde queremos chegar, até onde podemos ir. A expectativa do segundo seguinte, a eternidade de uma espera, tudo acontecendo dia após dia, e nós sem ter tempo para observar o que acontece em volta, a ponto de nem lembrar direito da maioria das coisas que apareceram ontem.
A vida nos oferece vida, simples assim. Saibamos aproveitá-la da melhor maneira possível. Não sei se é tão simples assim…
*KALUNGA MELLO NEVES, escritor e brincante