Por Heraldo Palmeira
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22 de novembro de 2024

KALUNGA MELLO NEVES Zona de conforto

Pexels/Pixabay

Zona de conforto

  • Kalunga Mello Neves

O me conformar sempre trouxe inquietação. Algo assim como achar normal não distinguir entre humildade e submissão, mesmo sabendo que há um abismo separando as duas posturas. Aceitar por conforto o torto e sacudir os ombros como a concordar que o mundo é assim mesmo.

Em tempos de crises existenciais constantes, palavras motivadoras causam efeito imediato num cenário de emotividade coletiva muito frágil. E enriquecem quem sabe dizê-las com habilidade.

Fugas intencionais não maculam nossa coragem ilusória. Duas doses de conhaque nos ajudam a confirmar isso. E até é bom assistir na primeira fila nossa decadência a olho nu. Estamos acomodados, com nossa ousadia amordaçada, nosso querer ao bel-prazer do destino. Nós adoramos este vilão angelical, Destino Kid, o terrível sedutor nada cerimonioso que costuma se sobrepor aos nossos sonhos em relação ao futuro.

Ousar, transgredir, aventurar-se. Será que nascemos para isso? Os que nos querem iguais fazem de tudo para que não sejamos assim. As disputas de grupos instigadas, o poder em sua habilidade de valsear compassadamente para lados diversos entorpecendo com melodias rasas executadas por computadores.

Pode ser indignação demais para administrar com vã filosofia. Mas, nesta altura do campeonato, estou pensando seriamente em sentar no alto da montanha, observar o pequeno rio correndo lá embaixo e esperar a caravana passar. Vendo de cima, talvez consiga enxergar melhor trechos rasos, partes fundas, correnteza, afogamentos de afoitos, prudentes que escapam e como… Afinal, se vivemos repetindo comportamentos e atitudes, inclusive alheias, parece justo fazê-lo quando se trata de sobreviver.

*KALUNGA MELLO NEVES, escritor e brincante

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