Por Heraldo Palmeira
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22 de novembro de 2024

Nossa bola na Europa

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Nossa bola na Europa

  • Heraldo Palmeira e Sylvio Maestrelli

Jogadores brasileiros no mercado europeu não são novidade. Desde sempre exportamos pé de obra para times de todos os portes – pequenos, médios e grandes – da Europa. A vida inteira os dirigentes de futebol do Velho Continente se interessaram por jogadores sul-americanos, principalmente argentinos, brasileiros e uruguaios pela versatilidade, malícia, ginga e técnica apurada. Durante todo o tempo eles mantiveram olheiros indicando atletas que se encaixariam melhor nas estratégias e desenhos táticos propostos pelos técnicos, e na cultura de cada clube.

Por isso mesmo, às vezes até alguns jogadores pouco vistosos por aqui fizeram muito sucesso na Europa, especialmente em times de destaque nos países latinos (Itália, França, Espanha e Portugal). Diversos deles, durante o período em que a FIFA permitia que futebolistas pudessem defender diferentes países em Copas do Mundo, eram convidados a se naturalizar e atuarem pelo país europeu onde estavam jogando. Nosso primeiro exemplo foi o ponta-direita Filó, que saiu do Corinthians para a Lazio, se naturalizou italiano (lá era chamado pelo sobrenome Guarisi) e foi campeão mundial pela Itália em 1934, tornando-se o primeiro brasileiro a conquistar uma Copa do Mundo.

Hoje em dia nosso pé de obra parece estar em baixa no Velho Continente, principalmente se compararmos com o protagonismo que muitos jogadores brasileiros tiveram nas maiores equipes da Europa, em especial a partir da década de 1980, quando ajudaram a expandir o mercado para o modelo atual de elencos multinacionais fortíssimos.

É neste cenário favorável a estrangeiros que vemos hoje, são raros os brasileiros na condição de grandes estrelas. A maioria joga em times pequenos ou médios, inclusive de países sem grande tradição. Outros seguem como reservas em equipes mais fortes. Muitos tentando a sorte de um lado para outro.

Há nesse movimento migratório um componente preocupante: muitos jogadores deixam o Brasil ainda muito jovens e, os que vão para times gigantes, são alocados no time B do contratante ou emprestados a clubes menores em períodos experimentais. Nesse tempo, precisam provar se vingam ou não e muitos se perdem no caminho, retornam desvalorizados, dificilmente se firmam e até desistem da carreira. Mesmo assim, segue forte a tradição brasileira nesse caminho rumo à Europa, um elenco que incluiu desbravadores, perebas, artilheiros, craques e astros inesquecíveis, com reflexos para o nosso futebol.

O primeiro brasileiro a defender um clube europeu foi o lateral esquerdo gaúcho Paulo Innocenti, do Paulistano, que foi para o Bologna, um dos maiores times italianos daquela época (1925). Na sequência, foi titular do Napoli por mais de dez anos. Naturalizado, defendeu a seleção italiana em alguns amistosos.

Nos anos 1930, alguns craques deixaram nosso país e se destacaram na Bota. Em 1931, o rápido atacante Ministrinho, ídolo do Palestra Itália-SP (hoje Palmeiras) foi para a Juventus e lá conquistou dois Scudetto.

No mesmo ano o dirigente italiano Remo Zenobi, presidente da Lazio, da cidade de Roma (time do regime fascista), que tinha interesses comerciais no Brasil, particularmente em São Paulo, decidiu levar os principais jogadores do nosso país para seu time. Os motivos eram simples: a Itália sediaria a Copa 1934, Mussolini usava o futebol para fins políticos e uma conquista mundial seria muito bem-vinda.

Além disso, era permitido que jogadores sul-americanos se naturalizassem, o que fortaleceria a Azzurra. Por isso, entre 1931 e 1935, vários craques paulistas de ascendência italiana – não utilizados pelo Brasil na Copa 1930 por divergências com os dirigentes cariocas – foram contratados, levando inclusive o time romano a ser conhecido na Itália como BrasiLazio, onde passaram a jogar Amílcar Barbuy, Duílio, Serafini e Pepe (Palestra Itália-SP). Tedesco (Santos). Del Debbio, Ratto, De Maria e Filó (Corinthians).

Além deles, foram contratados os jogadores da família mineira Fantoni, conhecidos no Brasil por Ninão, Nininho, Niginho, Orlando (depois se tornou um técnico vitorioso) e Fernando, que na Itália foram rebatizados como Fantoni I, Fantoni II, Fantoni III, Fantoni IV e Fantoni V. Todos jogavam no Palestra Itália-BH (hoje Cruzeiro) e fizeram muito sucesso por lá.

Niginho, centroavante rompedor, foi convocado para Seleção Brasileira na Copa 1938. Na semifinal contra a Itália, seria o substituto de Leônidas da Silva, já que o Diamante Negro estava machucado. Terminou sem entrar em campo porque os italianos acionaram a FIFA alegando que o mineiro havia abandonado seu contrato com a Lazio para voltar ao Brasil.

Em 1932, o Vasco fez uma excursão pela Europa. Diante das belíssimas apresentações, o goleiro Jaguaré (que posteriormente defendeu o Olympique de Marselha) e o volante Fausto (a “Maravilha Negra”) foram contratados de imediato pelo Barcelona. Domingos da Guia brilhou no Nacional de Montevidéu e no Boca Juniors, enquanto Patesko e Martim Silveira faziam sucesso também no Nacional, num período em que Uruguai e Argentina eram grandes potências futebolísticas da América do Sul.

A eclosão da Segunda Guerra Mundial comprometeu muito os campeonatos europeus e interrompeu as competições internacionais no Velho Continente. Depois, a própria Copa 1950, jogada ainda sob os efeitos da devastação causada pelo conflito e esvaziada pela ausência de potências da época como Hungria, Alemanha, Checoslováquia, França e Argentina não teve um ambiente animador para o mercado de transferências. Mesmo os uruguaios Ghiggia e Schiaffino, heróis daquele Mundial, só foram contratados respectivamente por Roma e Milan em 1953 e 1954.

O que alavancou novamente o futebol europeu, além da escolha da Suíça (país neutro) como sede da Copa 1954, foi a criação da Liga dos Campeões da Europa (hoje UEFA Champions League e inicialmente chamada Taça dos Clubes Campeões Europeus), em 1955.

Uma exceção no período imediato do pós-guerra foi a contratação do talentoso atacante brasileiro Yeso Amalfi. Depois de brilhar no São Paulo na segunda metade dos anos 1940, o artilheiro nômade foi um dos primeiros jogadores a atuar em diversos países. Exibiu seu jogo no Boca Juniors, Peñarol, Torino, Mônaco, Nice e Olympique de Marselha. Galã e bon-vivant, conhecido na França como “O Deus do Estádio”, transitava com desenvoltura no jet set, teve affairs com Sophia Loren e Brigitte Bardot e era amigo pessoal de Pablo Picasso e do príncipe de Mônaco Rainier III. Exceção no meio futebolístico, o culto Amalfi foi assessor de Delfim Netto e Jânio Quadros após encerrar sua carreira e retornar ao Brasil.

Com a criação da Taça dos Clubes Campeões da Europa, de imediato os times europeus, particularmente espanhóis e italianos, os mais ricos daquela época, procuravam atrair com altos salários os melhores jogadores das menores ligas europeias e os craques sul-americanos. Por isso a Olimpíada 1952 em Helsinque, Finlândia, e o Mundial 1954 serviram de vitrines para o garimpo de talentos.

Uma grande leva de jogadores brasileiros (principalmente atacantes) foi contratada, com muitos deles virando estrelas de seus times. Caso de Humberto Tozzi, ex-Palmeiras, que brilhou na Lazio logo depois de ter defendido o Brasil na Copa 1954.

Na primeira metade dos anos 1950, os melhores pontas-direitas do mundo eram o alemão Helmut Rahn e o brasileiro Julinho Botelho (ex-Palmeiras), o maior ídolo da Fiorentina. Conquistou o primeiro Scudetto do time viola e o vice-campeonato da Champions 1956/1957.

Antes da Copa 1958, já estava no Real Madrid o ponta-direita Canário (ex-América do Rio), que formou o famoso ataque campeão da Champions 1958/1959 com Del Sol, Di Stéfano, Puskas e Gento. Evaristo de Macedo, o genial atacante ex-Flamengo, arrebentava no Barcelona desde 1957, onde foi vice-campeão da Champions. Também foi ídolo no Real Madrid nos anos 1960.

Dino da Costa, ex-Botafogo, se tornou goleador na Roma, naturalizou-se italiano e defendeu a Azzurra nas Eliminatórias para a Copa 1958 e em diversas ocasiões. Valter Marciano, ex-Vasco, se destacou muito no Valência, para onde foi em 1958.

No período de ouro do futebol brasileiro, entre 1958 e 1962, quando fomos bicampeões mundiais e Santos e Botafogo estavam entre os cinco melhores times do mundo, nossa exportação de craques para os países europeus aumentou ainda mais. Tínhamos tantos craques que vários atletas se naturalizaram nos países onde jogavam, talvez cientes de que não conseguiriam vaga na Seleção Brasileira.

O caso mais emblemático foi o de Mazzola, que perdeu a posição para o matador Vavá durante a Copa 1958, mas também foi campeão mundial como reserva. Contratado durante o Mundial da Suécia pelo Milan, passou a jogar com seu sobrenome italiano Altafini. Artilheiro e campeão da Calcio várias vezes, percebeu que não teria vez na Copa 1962 (mesmo vivendo seu auge) e se naturalizou italiano, defendendo a Azzurra no Mundial do Chile como titular.

Evaristo e Julinho Botelho seriam os titulares para a Copa 1958, mas não foram liberados pelos clubes. Como Espanha e Itália caíram nas Eliminatórias, seus campeonatos nacionais seguiram normalmente, já que não havia a Data FIFA como temos hoje. Por sorte, Garrincha e Vavá assumiram os postos e ajudaram a trazer o caneco para cá pela primeira vez.

Terminado o Mundial, Dino Sani rumou para o Milan onde, com sua técnica apurada, se tornou ídolo e ganhou Scudetto e Champions. Didi foi para o Real Madrid, onde não se deu bem por seu estilo mais cadenciado e centralizador, enquanto os merengues atuavam em alta velocidade. Vavá foi destaque e artilheiro no Atlético Madrid e só voltou ao Brasil em 1962 para jogar outra Copa e se sagrar bicampeão mundial.

A esta altura é adequado perguntar por que o mítico Santos do início dos anos 1960 não teve nenhum dos seus craques contratados pelos europeus. Na verdade, como o time excursionava por todo o mundo recebendo altos valores pelas apresentações, conseguia manter seu elenco mesmo diante das propostas financeiras fabulosas que chegavam. A exceção ficou com Sormani, cria do Peixe que se viu obrigado a disputar posição com Pelé, Dorval, Pagão, Coutinho, Toninho Guerreiro, Almir Pernambuquinho… Preferiu ir jogar na Roma. Naturalizado, disputou a Copa 1962 pela Itália, ao lado de Mazzola. Depois foi para o Milan, onde conquistou o italiano, europeu e mundial de clubes. Os italianos passaram a chama-lo de “Pelé Branco”, algo compreensível diante da paixão italiana pelo exagero.

E diante da inevitável pergunta sobre a permanência de Garrincha, Mané ganhou aquela mítica de patrimônio nacional e nem ele mesmo demonstrou interesse em sair dos seus amados Botafogo e Rio de Janeiro, muito menos abandonar as peladas com amigos de infância em Pau Grande.

Nesse período alguns craques também optarem por defender gigantes sul-americanos, onde se tornaram ídolos. Orlando Peçanha, quarto zagueiro campeão mundial em 1958, trocou o Vasco pelo Boca Juniors, o que lhe custou vaga na Copa de 1962. Também de São Januário, o excelente ponta-esquerda Delém – que competia na Seleção com Zagalo, Pepe e Canhoteiro –, foi para o River Plate, onde, após encerrar sua carreira, trabalhou nas categorias de base descobrindo craques como Gallardo, Ortega, Aimar, D’Alessandro, Solari, Saviola e Crespo. Após o Mundial, “o possesso” Amarildo rumou para o Milan e Jair da Costa para a Internazionale, onde foi bicampeão da Champions, bicampeão Mundial de Clubes e ganhou 4 Scudetto.

Outro caso emblemático é o de Paulo Valentim, atacante ex-Botafogo que virou ídolo no Boca Juniors, onde até hoje detém a marca de maior goleador do Superclássico (contra o River). Também ganhou fama de amante da noite, por agitar a belíssima Buenos Aires sempre ao lado de sua amada Hilda Furacão – que largou a prostituição para se casar com ele e viver uma relação muito feliz.

Dois jogadores muito bons que não chegaram a jogar Copa do Mundo contribuíram significativamente para seus clubes brasileiros. Chinesinho, ótimo meio-campista gaúcho do Palmeiras, foi vendido por uma fortuna pera a Juventus, onde foi ídolo por muitos anos. Com o dinheiro da sua venda o alviverde construiu o antigo Parque Antarctica (onde hoje está o Allianz Park) e contratou os principais craques da primeira Academia (Ademir da Guia, Servílio, Vavá, Djalma Dias). Já o eficiente Amaro, destaque do América campeão carioca de 1960, foi vendido para a mesma Juventus e, com o resultado financeiro da transação, o presidente do clube alvirrubro (o saudoso Giulite Coutinho) comprou o estádio do Andaraí.

Nos anos 1970, com a Europa dominando o mundo do futebol e times da Holanda, Alemanha e Inglaterra se impondo no Velho Continente, uma quantidade significativamente menor de brasileiros foi contratada, mas alguns se destacaram. Luís Pereira e Leivinha, craques palmeirenses, fizeram sucesso no Atlético Madrid. Paulo César Caju e Jairzinho tiveram passagens razoáveis no Olympique de Marselha. Dirceu, a cópia mais fiel de Zagallo, foi ídolo no Atlético Madrid e no Napoli.

A década seguinte foi aquela de grande abertura para os estrangeiros na Europa. Os clubes italianos decidiram investir pesado e a Série A se transformou no melhor campeonato do planeta. Inicialmente com dois estrangeiros em cada equipe, o número foi gradativamente aumentando. Como todos os times da Velha Bota começaram a investir muito em reforços, diversos craques passaram a defender equipes médias ou pequenas, que se agigantaram na época. O grande marco da virada foi, paradoxalmente, a Copa 1982, onde o Brasil foi eliminado pela Azurra, mas todos os principais craques de nosso time foram jogar na Itália.

De nossas estrelas do escrete de Telê Santana, Edinho e Zico foram contratados pela Udinese. Júnior foi para o Torino, onde passou a comandar o meio-campo da equipe grená. Toninho Cerezo rumou para a Sampdoria, onde conquistou o único Scudetto da história do time genovês e foi vice na Champions. Falcão, o Rei de Roma, maior ídolo estrangeiro dos giallorosso, se sagrou campeão italiano e vice na Champions. Sócrates defendia a Fiorentina e fracassou. Batista era o cérebro da Lazio.

Dos convocados para a Copa 1986, Alemão e Careca foram para o Napoli, onde ganharam Scudetto e Copa da Uefa (hoje Liga Europa) ao lado de Maradona, no maior momento da história do time. Renato Gaúcho e Andrade defenderam a Roma sem sucesso, ambos logo retornando ao Brasil. Júlio César (zagueiro) fez carreira no Borussia Dortmund e na Juventus, sendo ídolo das duas torcidas. Müller foi destaque e goleador no Torino. Valdo brilhou no Benfica e PSG. Baltazar, o “artilheiro de Deus”, se destacou muito no Atlético Madrid.

O fracasso brasileiro em mais uma Copa (1990) não impediu que os europeus continuassem contratando jogadores do nosso futebol. Mozer e Ricardo Gomes brilharam no Benfica (Gomes repetiu a dose no PSG). Branco teve regularidade no Porto. Ricardo Rocha foi bem no Real Madrid. Geovani foi atuar pelo Bologna, embora não repetisse as atuações no Vasco. Apesar de não terem sido convocados, Evair e João Paulo, destaques do Guarani, se deram bem jogando respectivamente na Atalanta e no Bari. Dunga se destacou em times menores, como Pisa e Fiorentina, e conseguiu um lugar ao sol no Stuttgart, que tinha um dos melhores times alemães na época.

A retomada da Seleção nas Copas (tetracampeã em 1994, vice-campeã em 1998 e pentacampeã em 2002) reabriu nosso celeiro de pé de obra qualificada e os principais clubes europeus ficaram recheados de brasileiros.

O Milan teve entre seus ídolos Dida, Cafu, Kaká, Roque Júnior, Serginho, Emerson, Leonardo e Ronaldo Fenômeno. A Internazionale contou com Júlio César, Maicon, Adriano Imperador e Ronaldo Fenômeno. A Roma teve Aldair e Marcos Assunção. O Real Madrid contratou Roberto Carlos, Sávio, Flávio Conceição e Ronaldo Fenômeno. O Barcelona levou Romário, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, Edmilson, Rivaldo e Belleti. O Bayern Munique teve Jorginho, Lúcio, Élber, Paulo Sérgio e Zé Roberto. No Borussia Dortmund estiveram Amoroso, Júlio César, Tinga e Dedê. No Atlético Madrid, Juninho Paulista e Filipe Luís. O Arsenal contou com o ótimo Gilberto Silva. Edmundo formou parceria letal com Batistuta na Fiorentina. Raí era endeusado pelos torcedores do PSG e Leonardo aproveitava a rebarba.

Outro ponto muito interessante é que a presença de alguns brasileiros levou alguns times menores a momentos inéditos. São os casos de Juninho Pernambucano no Lyon. Alex no Fenerbahçe. Taffarel no Galatasaray. Djalminha, Mauro Silva, Bebeto e Donato no La Coruña. Luís Fabiano e Renato no Sevilla. Juninho Paulista no Middlesbrough.

Depois do nosso triunfo mundial me 2002, vimos o futebol brasileiro cair cada vez mais, entregue a safras medíocres de jogadores tratados como craques e incensados pelo pachequismo da mídia nacional. Também é preciso levar em conta que muitos parâmetros mudaram, ou não teríamos tantos atletas sendo negociados desde então, o que nos coloca ao lado da Argentina como maiores fornecedores de pé de obra boleira para a Europa.

Porém, também é justo verificar que, de 2010 para cá, nenhum brasileiro se consolidou como estrela mundial de real grandeza em algum gigante europeu. Aqueles em quem mais os “especialistas” depositaram fichas, como Robinho, Pato, Ganso e Neymar fracassaram? A lista de coadjuvantes – também tratados como craques – é imensa e registra nomes como Diego, Elano, Zé Elias, Hernanes, Oscar, Willian, Philippe Coutinho, Daniel Alves, Casemiro, Marcelo, Thiago Silva, David Luiz, Renato Augusto, Fernandinho, Paulinho, Lucas Moura, Gabriel Jesus, Firmino, Marquinhos, Antony, Richarlison, Raphinha, Paquetá, João Gomes, Luiz Henrique…

Numa matéria publicada pela ESPN Brasil em 9 de janeiro de 2021, esse cenário foi bem refletido pelo jornalista Paulo Cobos, que iniciou seu texto com uma afirmação inquietante depois da goleada Barcelona 4×0 Granada: “Tem algo muito errado quando o Barcelona em uma partida usa 16 jogadores de 10 nacionalidades diferentes, e nenhum deles é brasileiro” – o clube catalão havia escalado atletas da Espanha, França, Alemanha, Holanda, Portugal, Dinamarca, Argentina, Bósnia, República Dominicana e Estados Unidos.

O cenário continua raquítico. Na Premier League temos apenas dois titulares, os goleiros Ederson (City) e Alisson (Liverpool). Jogando com destaque estão Vinícius Jr. e Rodrygo, mas já ameaçados pela sombra de uma possível contratação de Mbappé e Haaland pelo Real Madrid – além das expectativas ao redor de Endrick, mesmo que o garoto ainda seja um ponto de interrogação. No Barcelona, Vitor Roque segue disputando uma chance de ser reserva do veterano Lewandowski. Na Itália, Alemanha, Holanda e Portugal não se tem notícia de algum brasileiro fazendo diferença.

Nesse contêiner de jogadores citados, a partir dos anos 1980 poucos merecem a denominação “craque”, embora nossa mídia pacheca emita esses títulos em quantidades industriais, a maioria saindo das teclas e microfones já com endereço certo: a lata do lixo. Ora, se tivemos Zizinho, Pelé, Garrincha, Didi, Tostão, Gérson, Rivellino, Zico, Romário, Ronaldo Fenômeno e Ronaldinho Gaúcho decisivos, capazes de mudar resultados e histórias, não dá para ficar aturando uma patota de milionários que deu de posar de bacana por aí. E se fixarmos o olhar nas laterais ou no meio-campo, chega a dar dó.

Quando um Gustavo Scarpa é eleito o melhor jogador do Brasileirão e não consegue se firmar em timinhos como Nottingham Forest ou Olympiakos, a vaca já ultrapassou o brejo há léguas. Quando vozes na imprensa defendem que, para não desfalcar a Seleção Brasileira, a CBF ignore graves problemas extracampo de alguns desses “craques” que cambaleiam na Europa, só rezando. Afinal, são todos nomes que tratam a bola por “Vossa. Excelência”. Por isso mesmo, a maioria dos convocáveis seguem esquentando bancos em estádios europeus, um pesadelo que mata a gente de medo!

Nessas horas, agarrados com nossos santos protetores, não custa pedir perdão a Edu Bala, Cafuringa, Dario, Fio Maravilha, Flávio, Dionísio, Cabinho, Beijoca, Galeano, Moisés, Renê, Ronaldão, Caio Cambalhota, Claudiomiro, Nunes, César, que menosprezamos arrogantemente em razão da penca de craques que jogaram na mesma época deles. A gente não sabia a desgraça que estava por vir.

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