Por Heraldo Palmeira
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21 de novembro de 2024

Ler é da hora!

Lubos Houska/Pixabay

Ler é da hora!

  • Heraldo Palmeira e Kalunga Mello Neves

Heraldo Palmeira No meio da crise cultural que o mundo todo enfrenta, qualquer ação destinada a colocar sob holofotes a cultura e a arte que importam é digna de aplausos. E ainda bem que, sim, há muita gente fazendo a hora, não esperando acontecer.

Claro que a aridez cultural reinante tem origem na educação cruelmente desmontada. É esse ambiente de formação que precisa ser constantemente bombardeado com livros para incentivar o hábito da leitura e o trabalho dos contadores de histórias, principalmente onde estão as crianças – nas escolas e em casa. Afinal, livros e boas histórias aguçam a imaginação, despertam a criatividade e… educam. Em síntese, formam cidadãos melhores para construir o aguardado mundo melhor. Tão óbvio que dói.

Mesmo num país que costuma tratar livros a pontapés, há muitas iniciativas ousadas ocorrendo em diversos lugares, sob o comando de professores, leitores e apaixonados pelos livros e pela arte em geral. Lembrando um trecho poético escrito na nossa melhor música popular, esses sujeitos da ação são como cavaleiros solitários, capitães da meia-noite e de todas as horas, em busca de “Encontrar o inesperado com os olhos bem abertos / Sem saber o que vai ser amanhã”. Mesmo que haja dúvida, de um jeito ou de outro sempre termina sendo, nem que seja depois de amanhã, daqui a uma semana… O importante é que aconteça.

Foi assim em Joinville (SC) no já distante ano de 2004, quando uma professora da rede pública de ensino resolveu criar uma feira de livros. “Sempre a partir da leitura real de suas obras, a Feira do Livro de Joinville busca promover o encontro especial de artistas e intelectuais de peso, não apenas locais, mas também do Brasil e do exterior, em atividades de integração e reverência ao livro e a seus autores”, explica sua idealizadora Sueli Brandão. Hoje, o evento é destino anual de escritores renomados.

A partir daqui vamos embarcar numa prosa de Kalunga Mello Neves, escritor e contador de histórias, um brincante que dedica seu tempo a levar letras e histórias a crianças. Colaborador do Giramundo, ele mesmo um desses cavaleiros solitários, capitão da meia-noite na luta quixotesca de escrever e educar, conversou com Sueli Brandão.

Kalunga Mello Neves Lembro de quando ouvi falar de uma iniciativa arrojada empreendida por uma professora que resolveu desafiar a acomodação reinante. E de Sueli Brandão, a tal professora, uma mulher sempre buscando apoios onde o “não” costuma ser resposta bem corriqueira.

Falaram que ela teimava em organizar feiras literárias e a vontade de participar de uma delas passou a me instigar. Talvez um ímpeto para agradecer e falar da minha admiração pelo trabalho de persistência. Talvez para confirmar que a frase célebre de Vandré “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer” continua repercutindo por aí como flores, apesar das armas e armadilhas que surgem em toda parte.

Estava finalmente diante da professora que atuou nas redes municipal e estadual de ensino de Santa Catarina, criadora da agora consolidada Feira do Livro de Joinville. E comecei querendo saber como tudo começou.

Sueli Brandão A Feira do Livro de Joinville surgiu da necessidade de incentivar a leitura, aproximar a cidade do livro e dos autores, buscando a popularização do livro junto aos alunos da rede de ensino local.

Kalunga Além dessa experiência em Joinville, você tem outras iniciativas no segmento cultural literário. Quais foram?

Sueli Criamos o Salão Internacional do Livro de Foz do Iguaçu (PR), organizamos cinco edições da Feira do Livro de Curitiba e o Circuito Catarinense de Literatura nas cidades de Criciúma, Jaraguá do Sul, Joaçaba e Tubarão.

Kalunga Um objetivo marcante para pensar uma feira do livro?

Sueli Trazer escritores e promover o encontro de quem escreve com quem lê. Os estudantes e a comunidade se encantam com esta aproximação.

Kalunga Um grande desafio é…?

Sueli Conseguir o apoio dos órgãos governamentais e empresários. Todos têm um lindo discurso, mas sabemos que na prática é bem diferente. Graças a Deus, sempre consegui apoio para ir em frente.

Kalunga Como manter o interesse do público e sempre presentear a comunidade com uma programação de alto nível?

Sueli É outro grande desafio e enorme a responsabilidade de realizá-la anualmente. Procuramos sempre manter uma programação atraente e diversificada. Visitamos outros eventos no Brasil inteiro, são 12 meses de trabalho intenso. Também acompanhamos o desenvolvimento da cadeia produtiva do livro e tudo que diz respeito a esse mercado.

Kalunga Que autores consagrados já participaram da Feira de Joinville?

Sueli Grandes nomes da nossa literatura já participaram desde a primeira edição. Destaco Ana Maria Machado, Marina Colasanti, Conceição Evaristo, Martha Medeiros, Bia Bedran, Pedro Bandeira, Ruy Castro, Ignácio de Loyola Brandão, Ricardo Azevedo, Leo Cunha, Kaká Werá, Daniel Munduruku, Lázaro Ramos, Ailton Krenak, Itamar Vieira Junior, André Neves, você, Kalunga, e muitos outros.

Kalunga Puxa, fico honrado! Este ano teremos duas décadas de sucesso. Quando será a 20ª Feira do Livro de Joinville?

Sueli De 6 a 16 de junho de 2024. Todos convidados, inclusive o Giramundo. E muito obrigada pela oportunidade de estar aqui com vocês.

Kalunga Nós é que agradecemos. Estaremos juntos em Joinville.

Trechos incidentais Capitão da Meia-Noite (Luiz Carlos Sá-Guttemberg Guarabyra) | Pra Não Dizer que Não Falei das Flores (Geraldo Vandré)

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