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Cores, nomes
- Heraldo Palmeira
Estes dias, a mídia social paulistana foi inundada com uma notícia paralela sobre a visita de Oprah Winfrey, a celebridade norte-americana produzida pela televisão. Sua ilustre presença na Pauliceia Desvairada se deveu a uma participação em um evento, certamente a peso de ouro – na condição de uma das figuras mais respeitadas do entretenimento mundial, construiu uma fortuna estimada em US$ 2,8 bilhões (R$ 14,3 bilhões) que a coloca no patamar de uma das figuras mais ricas do showbiz.
Como ninguém é de ferro, a distinta dama foi bater pernas pelo mondanité paulistano, onde não poderia faltar uma visitinha a shoppings de luxo. E num deles ela parou numa loja onde comprou bolsas iguais – as colunas de fofocas sequer conseguiram apurar se três ou quatro exemplares – de Airon Martin, um estilista brasileiro pouco conhecido. Pelo menos, garantiram os colunistas quase sem respirar, a cliente ilustre escolheu cores diferentes do mesmo produto. Sinal de que gostou.
Também revelaram que Oprah estava no Brasil para participar de “um evento”. E nada mais disseram a respeito. Deu saudade do colunismo social de Maneco “Thormes”, Ibrahim, Zózimo, Boechat e Leonam “Swann”, publicando furos jornalísticos e esbanjando elegância para ditar moda e estilo falando de ricos, poderosos e famosos. Jamais esqueceriam de lembrar que ela veio palestrar num encontro de líderes, sob robusto patrocínio da corretora XP Investimentos.
O frisson causado pela “comprinha” – cerca de US$ 2 mil (R$ 10,2 mil) –, além de pouco significar no bolso da artista, revelou um dado interessante a respeito do cenário sociocultural que vivenciamos.
Oprah Winfrey nunca foi uma celebridade no Brasil, a despeito do seu talento e fama internacional. Tanto que sequer foi reconhecida pelas vendedoras e por quem mais estava ao redor. Para reparar tamanha gafe terceiro-mundista, entrou em cena o “diretor criativo” do shopping – seja lá o que isso signifique.
Aí sim, funcionou o jeitinho brasileiro e não faltaram autógrafos, selfies e muito babado nas redes sociais. A simples notícia da sua escolha fez a mesma bolsa disparar no interesse da clientela tupiniquim. Ótimo exemplo da “cultura de almanaque” que traduz o nível cultural que está posto.
De novo Ser solenemente ignorada não é novidade para Oprah Winfrey e muito menos exclusividade brasileira. Mas, vamos combinar, causa estranheza que funcionários do comércio de luxo não saibam reconhecer esse tipo de cliente.
Paris não acendeu suas melhores luzes quando ela estava apenas batendo pernas turísticas pela cidade em 2005, acompanhada de um grupo de amigos, todos negros. Ao tentar comprar um relógio numa loja da Hermès foi impedida de entrar. Quando o episódio explodiu nas manchetes, a grife tentou explicar que o estabelecimento já estava fechado, mesmo com clientes e vendedores dentro. E um diretor da marca ligou convidando a artista para uma nova visita. “Se Céline Dion ou Barbra Streisand tivessem pedido para entrar após o expediente, não haveria problema”, afirmou na ocasião um amigo de Oprah, sob anonimato, ao jornal Daily News. Apesar das evidências, a apresentadora declarou em entrevistas que não foi um caso de racismo.
Convidada para o exclusivíssimo casamento da amiga Tina Turner em 2013, ela chegou à Zurique e tentou comprar uma bolsa de pele de crocodilo na Trois Pommes, que pretendia usar na solenidade. A peça custava US$ 38 mil (R$ 194,5 mil) e vendedora simplesmente se recusou a mostrar, com a singela desculpa “é cara demais para você”. Mas avisou que “poderia mostrar modelos mais baratos”. E arrematou explicando que aquela era uma criação exclusiva para a atriz Jennifer Aniston, sem explicar como estava disponível para venda.
Trudie Gotz, proprietária da cadeia de butiques, tentou resumir a questão informando que sua vendedora era “muito gentil” e que tudo não passou de um mal-entendido. Restou um pedido de desculpas formal do escritório de turismo da Suíça, depois da péssima repercussão internacional do episódio.