Por Heraldo Palmeira
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23 de novembro de 2024

Copa América 2024

Divulgação/Copa América 2024/CONMEBOL

Copa América 2024

  • Heraldo Palmeira e Sylvio Maestrelli

Hoje (quinta-feira, 20), nos Estados Unidos, começa a CONMEBOL Copa América 2024, competição que reúne os dez filiados da CONMEBOL (América do Sul) e seis filiados (convidados) da CONCACAF (as principais seleções das Américas do Norte e Central). O torneio terá sua abertura em Atlanta, com o jogo Argentina x Canadá, pelo Grupo A, e sua finalíssima será em Miami no domingo 14 de julho.

Esta é a segunda vez que o torneio é realizado fora da América do Sul, nas duas ocasiões (2016 e 2024) tendo os Estados Unidos como sede. Talvez o crescimento do futebol naquele país e a capacidade de organização dos americanos possa elevar o nível da Copa América em busca de uma ainda distante similaridade com a Eurocopa.

Nos moldes que um dia foram utilizados na Copa do Mundo, as 16 seleções participantes foram divididas em quatro grupos, com quatro equipes em cada um deles. O regulamento é muito simples: as duas primeiras colocadas se classificam para as oitavas de final e daí por diante ocorrerão jogos eliminatórios (quartas e semifinais) até a decisão.

A estreia do Brasil será na segunda-feira (24) contra a Costa Rica, em jogo marcado para as 22 horas, no horário de Brasília. A partida será a primeira do técnico Dorival Júnior comandando a Seleção em uma competição internacional.

Utilizando o ranking da FIFA, as seleções foram divididas assim:

Grupo A Argentina, Canadá, Chile e Peru

Grupo B Equador, México, Jamaica e Venezuela

Grupo C Estados Unidos, Uruguai, Panamá e Bolívia

Grupo D Brasil, Colômbia, Costa Rica e Paraguai

A competição servirá também como teste para os Estados Unidos, que sediará, em conjunto com México e Canadá, a Copa do Mundo 2026. Uma curiosidade é que, em 2022, o Equador havia sido praticamente escolhido como sede desta Copa América, mas o país desistiu de promover o torneio, abrindo espaço para os norte-americanos.

Historicamente, a denominação Copa América é utilizada desde 1975, sucedendo ao Campeonato Sul-Americano de Futebol, a competição entre seleções continentais mais antiga do mundo e disputada desde 1916. Até 1993, participavam exclusivamente equipes sul-americanas, mas naquele ano, no Equador, México e Estados Unidos estiveram no torneio como convidados.

Em razão do tradicional ambiente de desorganização do futebol sul-americano que a CONMEBOL não parece interessada em resolver, muitas vezes as edições da Copa América foram marcadas pela violência, ausência de países e seleções que não levaram sua força máxima em represália a alguma situação pontual. Além disso, registra periodicidade irregular, ocorrem enquanto os campeonatos nacionais estão em andamento, prejudicando os clubes obrigados a ceder seus melhores jogadores, como estamos vendo no Brasileirão – essa concomitância não ocorre com a Eurocopa, por exemplo.

Ao longo do tempo e em razão de a CONMEBOL ter número limitado de confederações registradas, é costume convidar países até de outros continentes para completar o número de equipes exigido pelo formato do torneio. Assim, até hoje, nove seleções sem vínculo direto com a Confederação Sul-Americana de Futebol estiveram em campo: Catar, Costa Rica, Estados Unidos, Haiti, Honduras, Jamaica, Japão, México e Panamá. Além deles, em outras ocasiões Austrália, Canadá – que vai participar da edição 2024 –, China e Espanha chegaram a ser convidados, mas recusaram por situações pontuais.

É notório também que, por décadas, nossos vizinhos de língua espanhola deram muito mais importância do que nós ao evento, independentemente de muitas vezes terem equipes superiores à brasileira. Apenas nos últimos anos é que temos sido representados por nossa força total, chegando antigamente a mandar seleções estaduais vestidas com a Amarelinha. Por óbvio, em muitas ocasiões tivemos desempenho pífio e estamos muito atrás de Argentina e Uruguai, que lideram o ranking de conquistas.

Uma das grandes motivações para nossos vizinhos em relação à Copa América 2024 é o possível – e aguardado – desempate em número de títulos, uma vez que Argentina e Uruguai estão igualados na liderança (15 títulos cada). Na sequência, Brasil (9), Paraguai, Chile e Peru (2 cada) e Colômbia e Bolívia (1 cada). No total, foram 47 disputas, sendo a Argentina a atual campeã. Dos países da América do Sul, apenas Venezuela e Equador nunca ergueram a taça.

Com relação às chances de título, levando-se em consideração o atual cenário – é evidente que zebras costumam pastar nessas competições de tiro curto – poderíamos agrupar as 16 seleções participantes em quatro blocos distintos:

Poucas chances Bolívia, Peru, Chile, Paraguai, Panamá, Canadá, Jamaica e Costa Rica

Chances de surpreender Colômbia, Equador, Venezuela, México e Estados Unidos

Chances pelo histórico Brasil

Favoritas Argentina e Uruguai

Vale registrar que no mesmo período estará em disputa a UEFA Euro 2024. O seletor de canais será ótima ferramenta de escolha.

Ranking das seleções A partir das performances recentes de suas seleções, este é o cenário dos países que disputarão a Copa América 2024:

Argentina O técnico Lionel Scaloni parece ser totalmente adepto da velha tese “em time que está ganhando não se mexe”. Por isso mesmo, da equipe campeã mundial no Catar em 2022, levará para a disputa da Copa América 21 dos 26 jogadores. A imprensa argentina até forçou a barra e resmungou pela convocação da jovem promessa Echeverri (joga no River Plate emprestado pelo Manchester City). No entanto, se aquietou com a chamada de outras duas novas grandes revelações: o atacante Garnacho (Manchester United) e o meia Valentín Carboni (joga no Monza emprestado pela Internazionale), assim como se animou como o retorno de Lo Celso (Tottenham), que deveria ter sido titular no Catar, mas se contundiu e foi cortado do grupo que ganhou a Copa. Líder nas Eliminatórias sul-americanas, com a mesma pontuação do Uruguai após seis rodadas, talvez seja a última oportunidade de os vizinhos torcerem pela fenomenal e vitoriosa dupla Messi-Di Maria – que vão se aposentar da Albiceleste, mas ainda devem estar com fome de títulos. Sem dúvida, também animados pela disputa de liderança no número de títulos, os hermanos são grandes favoritos.

Bolívia Permanece no patamar comum de sempre. Não deverá ter destaque na competição e nem poderá contar com a famosa altitude como arma para dificultar a vida dos adversários.

Brasil Atualmente em sexto lugar nas Eliminatórias para a próxima Copa do Mundo, situação inédita e mais do que vexatória para o único país pentacampeão mundial, a Seleção Canarinho hoje sequer entraria diretamente no Mundial, tendo que passar por uma repescagem intercontinental. Fragilizada há muitos anos por um rosário de problemas que a CBF nunca pareceu disposta a resolver, o time não empolga a torcida como nunca se viu. Depois de passar por derrotas vergonhosas em amistosos e jogos oficiais e chegar ao seu pior momento numa disputa seletiva para uma Copa, fruto das esquisitices do tal dinizismo impostas pelo técnico demitido Fernando Diniz, o Brasil tenta juntar os cacos e recomeçar do zero sob grande desconfiança até dos pachecos da mídia e da arquibancada. O detalhe animador é que agora está nas mãos de Dorival Júnior, um dos poucos técnicos brasileiros que ainda encontra respaldo popular. É certo que a atual geração é fraca – talvez a pior da história do nosso futebol –, mas como também não se vê por aí seleções fantásticas, ainda somos relativamente relevantes no mundo da bola muito mais em razão dos talentos individuais.

Temos um grande elenco de jogadores atuando nos principais times do mundo e promessas surgindo aos montes, mas é preciso colocar os pés no chão, cair na real. Hoje, quando analisamos o grupo de 26 convocados para esta Copa América, não berramos por injustiças flagrantes. Há um consenso de que pode faltar um ou outro, nesta ou naquela posição, mas ninguém relevante ou decisivo ficou de fora. Temos ótimos jovens como Savinho, Rodrygo, Vinicius Júnior e o promissor Endrick, que podem se consagrar, mas carecem de defesa e meio-campo “operários” e bem distribuídos taticamente. Ou seja, teremos que jogar de forma solidária, bem longe do titês neymarzista da última Copa. Em verdade, somos um grande ponto de interrogação. Os jovens serão protagonistas? Fantasmas como uma possível volta de Neymar e outros veteranos – por pressão de patrocinadores e empresários – sabotarão o ambiente e o novo projeto da Seleção? Já não seria o momento de afastar Lucas Paquetá pelos problemas extracampo que muito provavelmente são verdadeiros e já refletem claramente no seu desempenho em campo? Pelo visto, o grande trunfo será mesmo a seriedade de Dorival Júnior e nossa torcida para que ele contamine o elenco a ponto de nos levar a uma campanha decente.

Canadá Embora o futebol canadense tenha evoluído, animando sua torcida e exportado alguns de seus jogadores para times menores da Inglaterra, depende em demasia de Alphonso Davies (lateral/meio-campista do Bayern de Munique que está na mira do Real Madrid).

Chile Mesmo levando em conta a tradição, tem atravessado as Eliminatórias com campanha fraca e depende do desempenho de jogadores veteranos – alguns em claro declínio técnico –, com destaque para Erick Pulgar (Flamengo).

Colômbia Apresenta uma nova geração talentosa e hoje ocupa o terceiro lugar nas Eliminatórias para a Copa 2026. Mescla veteranos de vasta experiência internacional como Ospina, Mina González, Davinson Sánchez e Borré com jovens que atuam em equipes importantes da América do Sul (Richard Ríos e Jhon Arias), contando ainda com atacantes da qualidade de Sinisterra e Luis Díaz, ambos atuando no futebol inglês. Se não tiver problemas internos – veteranos exigindo titularidade, por exemplo – poderá surpreender bastante, indo longe na competição. Está no grupo do Brasil.

Costa Rica Embora tenha levado algumas zebras a campo em Copas do Mundo de 2014 para cá, atravessa um momento de renovação e ainda não traz esperanças aos seus torcedores.

Equador Hoje ocupando a quinta posição nas Eliminatórias para a Copa 2026 e com quase todo seu elenco jogando no exterior, os equatorianos também podem surpreender bastante. Já há alguns anos, equipes do país como LDU e Independiente del Valle têm se destacado no cenário sul-americano e exportado seus principais jogadores para centros futebolísticos de expressão, como o zagueiro Hincapié (Bayer Leverkusen, campeão alemão), o meia Caicedo (Chelsea) e a grande revelação, o meia Kendry Páez (Independiente del Valle), destaques do time. Também estarão em campo jogadores conhecidos dos brasileiros: Cifuentes (Cruzeiro), Félix Torres (Corinthians), Enner Valencia (Internacional) e Alan Franco (Atlético Mineiro). Seu técnico, o espanhol Félix Sánchez, surpreendeu por não ter convocado o zagueiro Arboleda (São Paulo). Essa seleção tem meios para dar sufoco em quem cruzar seu caminho.

Estados Unidos Fruto de investimentos pesados nos últimos anos na MLS (Major League Soccer) e do intercâmbio com as melhores ligas da Europa, os anfitriões já há algum tempo vêm evoluindo. E jogarão com o apoio de sua torcida, cada vez mais presente nos estádios. Evidentemente que o futebol masculino nos Estados Unidos ainda não chegou ao patamar do desempenho das meninas do país, mas há inegável crescimento. Dos 26 selecionados para a competição, 22 atuam em times europeus, principalmente da Itália e Inglaterra. Destaques como Tim Weah (filho do ex-craque e ex-presidente liberiano George Weah) e Weston McKennie jogam na Juventus. Pulisic e a revelação Musah, no Milan. Uma curiosidade é que figura entre os convocados o volante Johnny (ex-Internacional), que hoje está no espanhol Real Betis. É claro que temos aí uma seleção empolgada e pronta para encarar o torneio com disposição para fazer bom papel.

Jamaica Dentro das perspectivas de baixo desempenho do futebol da América Central, deverá participar do torneio apenas para cumprir tabela como simples figurante.

México Sempre imprevisíveis, os mexicanos vêm com uma seleção bastante renovada, de nomes menos conhecidos no cenário internacional. Medalhões e ídolos dos torcedores desta vez ficaram fora da convocação, pois a comissão técnica optou em aproveitar jogadores que atuam no país, em detrimento dos “estrangeiros”. Aposta alta, pois a torcida mexicana vê o time com bastante desconfiança.

Panamá Dentro das perspectivas de baixo desempenho do futebol da América Central, deverá participar do torneio apenas para cumprir tabela como simples figurante.

Paraguai Mesmo com alguma tradição no futebol, tem feito campanha fraca nas Eliminatórias. Seus principais destaques atuam no futebol brasileiro – Gustavo Gómez (Palmeiras), Ángel Romero (Corinthians), Bobadilla (São Paulo) e Villasanti (Grêmio) – e suas presenças não deverão construir nenhum resultado fora do esperado.

Peru Enfrenta um momento de transição sem qualquer brilho. Não deverá ter destaque na competição e nem poderá contar com a famosa altitude como arma para dificultar a vida dos adversários.

Uruguai Para muitos analistas, o Uruguai pratica hoje o melhor e mais moderno futebol do continente, com muitas variações táticas e jogadores multifuncionais. Lidera ao lado da Argentina as Eliminatórias para a Copa 2026, mesmo fazendo um fantástico trabalho de renovação. Seu treinador, o argentino Marcelo “El Loco” Bielsa, é um dos mais respeitados no mundo da bola e promoveu uma grande reformulação na Celeste Olímpica, afastando medalhões experientes para abrir espaço a jovens talentosos que hoje brilham intensamente na Europa como Ugarte (PSG), Bentancur (Tottenham), Valverde (Real Madrid), Pelistre (joga no Granada emprestado pelo Manchester United) e Darwin Núñez (Liverpool), que se juntarão ao mito Luisito Suárez em sua derradeira competição com a camisa nacional. Além disso, Bielsa mudou o posicionamento de alguns atletas como Viña (Flamengo) e Nández (Cagliari), melhorando sua defesa. O país está embalado com o campeonato mundial Sub-20 e a Celeste vai pisar em campo com o ânimo extra de disputar a liderança no número de títulos com os argentinos. Os uruguaios entrarão em cena como grandes favoritos.

Venezuela Sem dúvida alguma, a seleção que mais evoluiu na América do Sul na última década. Embora a maioria de seus jogadores não esteja em times europeus de ponta, apenas dois dos 26 convocados atuam no próprio país. Alguns de seus destaques jogam aqui, como Savarino (Botafogo), Rincón (Santos), Ferraresi (São Paulo) e Soteldo (Grêmio). Pode colocar uma grande zebra em campo.

Claro que ter o Brasil campeão é uma maneira de premiar o trabalho e a seriedade de Dorival Júnior, e incentivar mudanças que se fazem urgentes no ambiente da Seleção, a partir do desmonte de algumas panelinhas do elenco. Mas é bom ter em conta a enorme possibilidade de uma grande final Argentina x Uruguai, até como resultado do que nossos vizinhos de porta têm feito nos últimos tempos.

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