Por Heraldo Palmeira
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23 de novembro de 2024

KALUNGA MELLO NEVES Ódio e amor

Pixabay

Ódio e amor

  • Kalunga Mello Neves

Não se trata de posições extremas, apenas constatação. Ódio e amor precisam um do outro para que a adrenalina e a realidade se tornem possíveis. E criam, ambos, conflitos danosos em nossa consciência e em nossa imagem. Um seria o nosso patinho feio, quanto mais escondidinho melhor. O outro, ah!… O outro, que se revele aos quatro cantos através de doações generosas e pontuais, carinhos exagerados em público, lágrimas em goteiras diante de qualquer situação dolorida ou piegas.

Vamos aos fatos crus: a gente odeia a quem todos odeiam, por ter, talvez uma única vez na vida, cometido algo gravíssimo ao nosso julgamento. É o nosso lado justiceiro, que nos alivia quando o exercemos, parcial ou imparcialmente, tanto faz. Até somos capazes de aceitar atos mais ríspidos palavreando que “os fins justificam os meios”. A gente ama – e aí nos utilizamos do conceito atual de amor, totalmente descaracterizado de sentimento puro e simples – até o ponto de se mostrar quase perfeito nas redes sociais, que nos ditam normas para acreditarmos que a nossa felicidade está logo ali, a gente é que não percebeu ainda.

O ódio, tenho a impressão de ser mais volúvel do que o amor. Varia demasiadamente em sua intensidade. E sempre está com a guarda aberta, como um frágil lutador de boxe que mistura força bruta no ataque e flancos expostos. O ódio não nos permite raciocinar buscando alternativas outras. O ódio é burrinho que só. Por isso tão comum em humanos e raro em animais, por exemplo.

Já o amor no sentido pleno, mesmo com rompantes falsos e interesseiros, é muito mais empolgante. Harmonicamente, muito bem apessoado, faz tanto em prosa quanto em verso. O amor é gracioso, lindo, completo em sua diversidade inteligente, privilegiando “as” e “bês”. Por isso, longa vida ao amor, e que o ódio pereça e leve consigo suas sequelas.

*KALUNGA MELLO NEVES, escritor e brincante

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