Por Heraldo Palmeira
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7 de novembro de 2024

Tite deu tilt

Divulgação/Flamengo

Tite deu tilt

  • Heraldo Palmeira

O Flamengo, enfim, se livrou do técnico Tite, aquele que nunca devia ter sido até porque nunca foi. Virou uma espécie de “Viúva Porcina” nessa desastrosa e constrangedora passagem pela Gávea. A demissão é o acorde final desafinado de um maestro que não sabia o que fazer com uma bela orquestra.

Parte da mídia pacheca insiste em classificar Tite com o melhor técnico brasileiro. É impressionante o compadrio, a falta de crítica, a criação desse tipo de narrativa que infla títulos obtidos em uma realidade completamente diferente, inclusive pela defasagem dos técnicos concorrentes à época.

É impossível desconstruir a fama de retranqueiro, apagar os resultados magros dos jogos e o velho futebol burocrático que tem sua cara. No fim, tudo isso termina ajudando a explicar o mito de “encantador de serpentes” que virou marca pessoal.

Fora do ambiente de clubes desde que deixou o Corinthians em 2016, Tite ficou obsoleto encastelado na ilha da fantasia da Seleção. Distante da pressão dos times que disputam diversos torneios num calendário insano, perdeu completamente a compreensão dessa realidade cotidiana e das mudanças ocorridas no período, inclusive de linguagem tática pela chegada de técnicos e jogadores estrangeiros ao futebol brasileiro.

Quando deixou a Seleção depois de seis anos de mediocridade, mirou o mercado europeu como novo destino, algo que não passou de uma miragem de quem perdeu o tempo da bola. Tudo que conseguiu foi um ano inteiro de sumiço desde o fim da campanha desastrosa na Copa do Mundo do Catar.

É indisfarçável que o pós-Seleção foi muito complicado para ele. Tanto que nunca falou com realismo a respeito do próprio fiasco na Canarinho. E mesmo garantindo que não trabalharia em 2023, que podiam chamá-lo de mentiroso se assinasse algum contrato, foi anunciado pelo Flamengo em outubro e iniciou uma fase que qualquer rubro-negro gostaria que nunca tivesse existido. É desnecessário lembrar os momentos infames que o time viveu sob seu comando. As falas nas coletivas pós-jogos resumiram bem a mente de alguém que parece viver numa realidade paralela.

O balanço do trabalho de Tite desde que saiu do Corinthians deveria assustá-lo, principalmente se pretende continuar na profissão: péssimo na Seleção e horroroso no Flamengo, onde deixou uma piada pronta: deu de presente ao técnico vice-campeão pelo Nova Iguaçu a medalha do Carioca 2024, o único título que ganhou na Gávea.

Aquele discurso falsamente elaborado que sempre encheu o saco do distinto público ficou ainda pior no Flamengo, onde o “oráculo” nunca conseguiu estabelecer qualquer empatia com a torcida e terminou perdido naquele palavrório enfadonho. Também é inegável a decadência física do treinador, a ponto de seu filho Matheus Bachi ser visto muitas vezes à beira do campo dando instruções – algo que começou a incomodar dirigentes, jogadores, torcedores e até jornalistas.

O cara que deu de pregar o equilíbrio como fator preponderante ao desempenho de um time se mostrou completamente desequilibrado, incapaz de enfrentar a mínima crítica e se comunicar com a torcida. As falhas recorrentes do sistema de jogo do time deixaram evidente o quanto está ultrapassado, sem repertório. Tudo fica mais grave porque teve à disposição tudo do bom e do melhor, inclusive o melhor elenco das três Américas.

A preço de hoje, uma reciclagem profissional completa, passando pela revisão dos próprios conceitos, parece indispensável para qualquer continuidade que pretenda ter no mercado, sob pena de sumir na poeira como Luxemburgo e Felipão – Mano Menezes também já está na antessala.

Com a saída de Tite, o Flamengo espeta na contabilidade R$ 49,7 milhões em multas rescisórias desde a demissão de Domènec Torrent – sem contar a enormidade de dinheiro paga como salários a esse rosário de treinadores, e as premiações perdidas por eliminações em diversos torneios.

Também seria saudável que o Flamengo aproveitasse o embalo e se livrasse de Marcos Braz, por um único motivo: amadorismo incompatível com o tamanho do clube.

Filipe Luís, o Queridão, assume interinamente a tarefa de reerguer o Flamengo. Como a galhofa é um esporte nacional, já estão chamando este novo momento rubro-negro de “queridismo”. Vai ser muito melhor se for apenas profissionalismo, já passou da hora.

O Flamengo precisa se livrar do fantasma de Jorge Jesus, deixar de ser uma máquina de moer técnicos – Tite e todos os treinadores demitidos apenas catalisaram a bagunça do departamento de futebol – e eleger uma diretoria profissional capaz de compreender o significado de planejamento e executá-lo. Ou assume sua própria grandeza ou seguirá nessa toada de crise e dinheiro sobrando.

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