Por Heraldo Palmeira
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10 de maio de 2025

HERALDO PALMEIRA e KALUNGA MELLO NEVES Ir para onde?

WikiImages/Pixabay

Ir para onde?

  • Heraldo Palmeira e Kalunga Mello Neves

Quando cair fora parece a única alternativa, surge um problema: para onde ir?

Caminhando pelo calçadão da praia, conversando à distância com o mar, vislumbro, à medida que meu olhar se perde na imensidão azul do encontro de céu e água, contradições que me levam a divagar, no vagar do meu caminhar.

Um jet ski cortando as ondas me remete ao velho rio da minha cidade, onde me distraía sentado na areia vendo barquinhos de pescadores indo atrás de incautos peixes – seres inofensivos, alimento ou sustento, dependendo do ponto de vista. Não tão ao longe, um navio de cruzeiro com seus muitos andares, repleto de turistas sedentos por novas paisagens, me enche os olhos de alegria quase infantil. Como deve ser bom viajar desbravando o mundo confortavelmente, de Norte a Sul, Leste a Oeste, em boa companhia e dispondo de comida e bebidas à vontade!

Tropeço em algo esquecido no calçadão – na verdade, nem percebi direito o que era – e sou movido a voltar à realidade. Feriadão de Páscoa, com início na Sexta-feira Santa e epílogo no dia do inconfidente Tiradentes, alferes que nem sei a que ala política pertencia. Uns dizem que era…, outros dizem que foi…, houve quem dissesse que seria… E como ele não pode mais se manifestar… Fica o dito pelo não dito, “calango morreu de um grito e lagartixa de um cochicho” e a certeza de que a guerra de narrativas é muito mais antiga do que se pensa.

Vão ficando distantes minhas românticas e sensíveis imagens do mar e apenas me vejo junto com tantas pessoas no calçadão da praia naquele passeio desvairado. Os comportamentos são os mais variados possíveis. O que deveria ser proibido é permitido sorrateiramente por quem devia, nem que fosse para disfarçar, tentar manter a ordem. Se você reclama educadamente, o que já é um fato raro, ouve mil explicações tentando lhe convencer de que o melhor é não reclamar e deixar por isso mesmo. Então, tá!

Enquanto você agradece, o roteiro nonsense segue de onde parou. A mãe desesperada que perdeu o filho na multidão. O velho atropelado por uma moto moderninha e barulhenta. Um cachorro fazendo cocô ao lado do casal apaixonado que come crepe entre um beijo e outro – a mesma mão que apanha a caca num saquinho leva outro pedaço de crepe à boquinha do beijo.

“Que povo feliz!”, garante a mídia num comercial de margarina com seu mundo perfeito, que engorda e faz crescer o caixa do departamento comercial. Aí vem a notícia da morte do papa. Isso quando mal começou a segunda-feira. Dia seguinte é a final do BBB. Pois é, ficamos encurralados entre um funeral universal e uma idiotice universal.

Vem uma vontade danada de pedir para alguém parar o mundo porque eu quero descer de uma vez. Mas, ir para onde? Marte ainda é viagem sem volta. O mais perto é a Lua, mas sequer tem por lá uma fatia de pão assado com alguma delícia cremosa e um cafezinho fumegante. Quem diabos dá conta de mudar a dieta para insetos assados e outras porcarias desidratadas? E viver dentro de roupas que servem de casa e banheiro ao mesmo tempo?

Quer saber? Até que o conselho da otoridade não é tão ruim. Reclamar para quem, se nem papa temos neste momento de Sé Vacante? Isso também não é assunto para bispo ou cardeal camerlengo. É… No fim do passeio pelo calçadão da praia, o caminho de volta para casa nunca pareceu tão bom. Nada como um velho conhecido!

*HERALDO PALMEIRA, escritor e produtor cultural | KALUNGA MELLO NEVES, escritor e brincante

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