Foto: Valerio Errani/Pixabay
Esta língua é minha semente,
machado de mulato do morro,
pátria de poeta lisboeta.
Esta língua é minha visão,
o sol do soldado caolho,
a mão do soldado maneta.
Esta língua é minha música,
na palavra do padre pregador,
no pássaro do padre voador.
Esta língua é minha mulher
tem cuidados de mãe
no leito da amante.
Esta língua é minha rosa,
tem perfume dos sertões gerais,
tem sabor de vinhos do Porto.
Esta língua é meu cavalo
para subir cidades e serras,
que a brisa do Brasil beija e balança.
Esta língua é fel com mel,
cantigas a palo seco
de ninar o futuro.
Esta língua é meu coração,
na tortura, na paixão
e no sal amargo da purificação.
Esta língua é joia africana,
ela caça a onça caetana,
ela cruza a légua tirana.
Esta língua é fruto de meu ventre,
mata sede de amizade,
me arma nos bons combates.
Esta língua não é de viver,
língua de navegar e de lamber
e de dançar o tango argentino.
Esta língua é meu berço,
esta língua me conhece,
esta língua é meu caixão.
*JOSÉ NÊUMANNE PINTO, escritor e jornalista