Por Heraldo Palmeira
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24 de novembro de 2024

Rainha irresistível

Netflix/Divulgação

Rainha irresistível

  • Heraldo Palmeira

GIRAMUNDO VIU Uma série novinha em folha, criada pelo diretor e roteirista islandês Árni Ólafur Ásgeirsson (falecido em 2021, aos 49 anos), conquistou o mundo usando duas armas poderosíssimas em tempos de individualismo e intolerância: sensibilidade e leveza. E é assim que trata temas polêmicos nas tramas central e secundárias do seu roteiro. E o “babado ponto com” de Queen Loretta já começa com a grata surpresa de revelar uma produção polonesa espetacular – a Netflix tem investido em projetos internacionais, abrindo espaço nobre para a produção cultural e artística de outros mercados e oferecendo oportunidades para seus assinantes conhecerem abordagens culturais particulares de diversos países.

Não há dúvida de que Queen Loretta não seria a mesma sem o desempenho extraordinário do seu protagonista, o ator polonês Andrzej Seweryn – nenhuma surpresa, basta relembrar suas atuações em A Lista de Schindler (1993) e A Última Família (2016). É ele quem dá vida a Sylvester Bork, um sujeito de alma grandiosa que qualquer um gostaria de ter na família.

Segundo a Netflix, “Queen Loretta quebra paradigmas de forma didática e descontraída”. Talvez o maior trunfo da série seja o roteiro absolutamente original e cativante, que contrapõe as identidades de um avô adorável com a de uma drag queen exuberante. Ele, um alfaiate polonês que saiu muito jovem de sua cidadezinha sem grandes horizontes, para construir uma carreira sólida e viver uma vida de grande sucesso e luxo em Paris. Ela, uma artista famosa no mundo do espetáculo da capital francesa, que guarda seus mistérios para construir sua personagem magnífica que explode no palco.

Com grande inteligência, a abordagem do tema fugiu do caminho fácil daquela densidade pré-formatada, que sempre corre o risco de cair na estridência inócua. Ao contrário, para discutir todos os temas árduos que vão aparecendo de forma realista no entrelaçado cotidiano dos personagens, os conflitos e desilusões foram tratados com diversão. Essa escolha consegue transformar o telespectador em cúmplice imediato das figuras humanas que compõem a história.

Lançar Queen Loretta no Mês do Orgulho LGBTQIA+ foi algo pensando e ótima oportunidade de, por meio de abordagem leve e sem caricaturas ideológicas, inserir delicadamente a cultura drag, mostrar o que realmente é uma drag queen e como sua forma de expressão artística é bela e legítima. Com isso, enquanto a trama avança, há uma desconstrução de paradigmas e preconceitos de alguns personagens – causa e efeito da mentalidade comum às pequenas cidades como aquela onde vivem –, que permitem envolver de forma natural o telespectador em boas reflexões, no ponto exato em que ele percebe que os problemas são comuns e podem alcançar qualquer um. E que estão dissociados da “embalagem” com a qual nos apresentamos socialmente.

As plataformas de streaming têm acertado em cheio ao enveredar por minisséries ou séries com menos episódios – a ficha técnica informa que esta é a primeira temporada de Queen Loretta, oxalá tenhamos uma sequência no mesmo nível. Assim, conseguem estender a abordagem que não caberia adequadamente em um filme, mas não engancham o telespectador por quase uma vida como fazem aquelas produções com zilhões de temporadas.

Apostar em poucos episódios permite o prazer supremo de maratonas rápidas, inclusive para juntar amigos diante da tela com o amparo de belisquetes, drinques e boas conversas acerca das histórias mostradas. Um programa comum nos bons tempos do mundo analógico, onde ainda não tínhamos verdadeiros cinemas em casa e nem tantas bugigangas digitais para transformar convívio em amizades de redes sociais.

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https://www.youtube.com/watch?v=EU4r02kxt0w

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