Por Heraldo Palmeira
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24 de novembro de 2024

CARLOS CASTELO Paciência suíça

Libel SanRo/Pixabay

Paciência suíça

  • Carlos Castelo

– O quê foi? – perguntou o assessor-geral.

O segurança veio correndo, pisando nos fios do microfone, tentando entender o ocorrido.

Na coxia, se ouviam os lamentos abafados dos cardeais. O segurança tentou mover o soldado da Guarda Suíça Pontifícia, mas o assessor-geral lembrou que era melhor esperar pelos paramédicos. O papa olhava para tudo, sentado em seu trono, com olhar espantado. Os mais próximos revelaram mais tarde que sua Santidade parecia rezar baixinho. Ou praguejar alguma coisa em dialeto bonaerense.

Os paramédicos chegaram rápido. Deram um líquido para o soldado cheirar, ele acordou na hora. Estava tonto, o ambiente parecia flutuar.

– Diga o seu nome – pediu o paramédico.

Ele não conseguia se lembrar.

– Como você se chama? – outros lhe perguntavam.

Nada. Nem o papa poderia, no entanto, ler os seus pensamentos naquela hora.

“Não se mexe, não é, soldadinho de chumbo? Então vamos ver…”

Montar guarda nos portões da Basílica, hoje o dia promete. Ficar debaixo do sol, horas e horas. Ainda por cima com a turistada incomodando. Pensam que a Guarda Suíça, por ficar em posição de sentido, olhando para o infinito, não é gente. Ah, se eu tivesse ouvido minha mãe. Seria mais um, trabalhando na indústria relojoeira, mas não passava por um perrengue assim.

“Pai, por que ele não fala com as pessoas?”

Pelo sotaque, o garoto é do Brasil. Não duvido que, daqui a pouco, faça besteira. Brasileiro no Vaticano é triste. Mexem nas pinturas do Museu, vão entrando nas igrejas de minissaia, calção…

“Ei, soldadinho de chumbooo, fala comigoooo!”

Sabia que esse fedelho ia me perturbar. Fazer o quê? Se eu me mexer, ou responder, a bronca vai ser pior.

“Não se mexe, não é, soldadinho de chumbo? Então vamos ver…”

Não! Não posso acreditar! O miserável me mandou um coice nas partes baixas. Idiot! Halunke! Ai, não, agora o irmãozinho me chutou no mesmo lugar! Mein Gott!

“Soldado 37, venha ao salão de imprensa, você foi incumbido de fazer guarda ao papa!”

Eu preciso conseguir, eu preciso conseguir, eu preciso conseguir, eu preciso…

– Qual é seu nome? – perguntou o paramédico.

*CARLOS CASTELO, jornalista

(Texto publicado no Brasil 247)

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