Mark Zuckerberg/Instagram
O soco diário de Zuckerberg
- Heraldo Palmeira
A Lusitana, empresa de mudanças fundada em 21 de junho de 1921 – reconhecida como a primeira companhia do ramo no Brasil – cunhou um slogan infalível em sua publicidade: “O mundo gira e A Lusitana roda”. Tão óbvio e forte que virou parte da cultura popular, metáfora para diferentes situações.
Quanto mais avançamos num mundo ávido por renovações em intervalos de tempo cada vez mais curtos, alguns nomes começaram virar sinônimo histórico das novidades: Steve Jobs, Steve Wozniak, Bill Gates, Paul Allen, Mark Zuckerberg, Elon Musk, Jeff Bezos…
Com a fabulosa transformação digital do mundo, veio uma mudança de costumes que já começa a preocupar os operadores da saúde. Muitos especialistas apontam que o uso excessivo dos recursos desse ambiente virtual causa dependência e ganha contornos preocupantes, inclusive por ser terreno ainda desconhecido, o que dificulta o desenvolvimento de medidas preventivas eficientes.
Nesse cenário de nuvem causou espanto Mark Zuckerberg (foto), fundador do Facebook e CEO da Meta – gigante empresarial que controla também Instagram e WhatsApp – vir a público confessar as pressões que enfrenta para comandar seu império de redes sociais. “É quase como se todo dia eu acordasse e tivesse levado um soco no estômago”, declarou. “Você acorda pela manhã, olha o telefone e recebe tipo um milhão de mensagens. Geralmente não faz bem […] as pessoas deixam para me contar as coisas boas pessoalmente”, acrescentou. O empresário disse também que, após esse massacre no início do dia precisa se dedicar a algum esporte como o jiu-jítsu por cerca de 2 horas, como forma de distração.
Ao que parece, o soco diário que acerta o maioral da Meta também atinge o mundo em cheio. Quem defende uma vida mais equilibrada acredita que essa sensação de Zuckerberg retrata o dito popular “o feitiço virou contra o feiticeiro”, que ele estaria provando do próprio veneno. Afinal, trata-se de uma das figuras geniais acusadas de, com suas invenções, ter mudado o ritmo do mundo e tirado uma boa dose de humanidade do cotidiano com ferramentas que digitalizaram as relações pessoais.
Os mais críticos acusam o ambiente virtual de ter se tornado influente a tal ponto que atrofiou o convívio presencial, a fluência das ideias compartilhadas em reuniões, o incentivo à criatividade. É como se a tecnologia tivesse retirado nosso direito de viver naquele ambiente analógico onde acertávamos por tentativa e erro, a vida coletiva que seguia sem nos tomar de assalto a cada esquina.
No meio dessas tantas incertezas é saudável não esquecer que nada é mais certo do que as mudanças. Podemos estar sofrendo apenas as sequelas de uma significativa passagem de ciclos da história. Quem sabe, esse caos moderno tenha acionado os mecanismos do nosso escapismo, nos levado a buscar uma fuga da realidade – pode ser uma explicação razoável para a dependência crônica das redes sociais, para a impotência que traz a mesma sensação de levar um soco diário no estômago que compartilhamos com Zuckerberg.
Talvez a realidade exija uma releitura do velho slogan. Afinal, o mundo gira e a vida roda. Por isso, soa tão atual a frase lapidar da índia guatemalteca Rigoberta Menchú Tum, Prêmio Nobel da Paz de 1992: “Este mundo não irá mudar, a não ser que estejamos dispostos a mudar nós mesmos”.
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