Por Heraldo Palmeira
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7 de novembro de 2024

CARLOS CASTELO Publicidade também é Pré-História

Libel SanRo/Pixabay

Publicidade também é Pré-História

  • Carlos Castelo

Trabalho como redator publicitário há mais de três décadas. Desde que comecei no ofício acredito em algo: a Publicidade é grande demais apenas para vender sabão em pó, cerveja e automóvel. Como a grana, ela ergue e destrói coisas belas.

Todavia, quando usada para o lado luminoso da Força, pode ter um papel social de alta valia. Exemplos, em todas as partes do mundo, são fartos.

No meu primeiro ano como profissional criei uma campanha para a Biblioteca Municipal Mário de Andrade, de São Paulo. Na época, cupins e traças atacavam obras raras do acervo. O anúncio principal trazia a foto de um velho e grosso livro com o seguinte título: “Você não vai encontrar nada nestas páginas amarelas”. Sim, era um período pré-Google, ainda lançávamos mão das listas telefônicas para realizar chamadas, mas a iniciativa foi bem recebida pela instituição.

Minha maior satisfação, no entanto, foi um comercial que escrevi para o Parque Nacional Serra da Capivara. Estávamos no final dos anos 1990 quando o visitei. Levei comigo meu filho, Leonardo, à época com 12 anos. O garoto adorava desenhar e passou o tempo todo reproduzindo as antiquíssimas pinturas das cavernas.

Ao final de nossas caminhadas, parei na sede da Fundação Museu do Homem Americano para deixar as artes do filho de presente. Para minha surpresa, quem atendeu a porta foi a doutora Niéde Guidon. Disse-lhe que era jornalista e publicitário, talvez pudesse colaborar com algo relacionado ao Parque. Niéde me contou da necessidade do aporte de verbas, e que seria interessante contarem com uma folhetaria para divulgação institucional.

Na volta a São Paulo, reuni fornecedores e produzimos o comercial “Índio”. Nele, um dedo indicador, em vez de pintar a silhueta de um indígena sobre uma pedra, a apaga. Entram letreiros, ao final, onde lê-se: “São pinturas rupestres milenares. Não as deixe apagar. Ajude o Parque Nacional Serra da Capivara”.

Nosso comercial acabou sendo exibido na Unesco e foi peça importante na obtenção de recursos para o Parque.

Moral: a Propaganda também é a alma dos negócios do Terceiro.

*CARLOS CASTELO, jornalista

(Texto publicado no O Dia)

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