Por Heraldo Palmeira
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7 de novembro de 2024

Paul McCartney Deluxe

Reprodução

Paul McCartney Deluxe

  • Heraldo Palmeira

GIRAMUNDO VIU Faz muito tempo que Paul McCartney não precisa mais provar nada para ninguém, suas aparições são sempre prazer puro, reverência à boa música, à arte de qualidade superior, padrão “Deluxe” – palavra que se costumava usar para fazer referência a produtos premium da indústria.

E é um desses produtos que me encheu de prazer dia desses, zapeando diante da TV. De passagem em busca de algo para me distrair num tempinho que estava se oferecendo livre, terminei leve e solto no canal BIS ao me deparar com uma reprise do documentário Kiss on the Bottom.

Paul resolveu produzir esse álbum em 2002, quando ainda era “um menino” de 70 anos. E, como tudo que lhe diz respeito, não deixou por menos. A produção esteve a cargo de Tommy LiPuma, um produtor norte-americano recheado de sucessos no currículo, que teve a ideia de descartar as obviedades que aparecem em quase todos os repertórios desse tipo de projeto para incluir canções menos conhecidas do público.

As gravações foram realizadas no lendário estúdio Capitol, instalado na Capitol Records Tower, ícone redondo da arquitetura de Hollywood e certamente o mais importante da indústria fonográfica mundial. Para ir dando logo o tom, seu corredor de entrada ostenta uma verdadeira galeria de fotos dos mais importantes cantores e músicos que gravaram por lá, gente como Nat King Cole, Frank Sinatra, Dean Martin, Beach Boys, Barbra Streisand, Michael Jackson… Também aconteceram gravações adicionais em Nova York e Londres.

Para realizar seu projeto, Macca escolheu um repertório de standards americanos dos anos 1920-30-40 de que gostava, parte do repertório que a geração dos seus pais ouvia e cantava em casa nas festas familiares. Músicas que também foram influências musicais dos quatro Beatles, tanto que ele confessou o sonho impossível (John e George já não tocavam mais por aqui) de ter podido contar com a colaboração dos outros três rapazes de Liverpool.

Estão incluídas duas canções inéditas que compôs especialmente para o álbum – numa delas, homenageia a esposa Nancy Shevell; noutra, conta com a participação de Stevie Wonder na gaita; Eric Clapton toca em algumas. E formou uma banda sob o comando de Diana Krall, onde também estão John Pizzarelli, John Clayton e Vinnie Colaiuta abrindo uma lista de grandes músicos.

O resultado traz a sensação de algo com a estética que ouvimos em Frank Sinatra, Fred Astaire e até em sonoridades da bossa nova. É um álbum bom de ouvir envelhecido dez anos. Imagino que o será também daqui a outros dez e mais dez. “O resultado é tão leve e descontraído como uma comédia de Woody Allen. Elegantes e clássicas, as orquestrações não saem da caixa. E Paul não tem a voz aveludada de um crooner, nem o fraseado de um músico de jazz”, considerou a France Presse quando o álbum chegou ao mercado.

A agência de notícias francesa foi precisa na avaliação, bem menos indelicada do que alguns que escreveram artigos ácidos, quase ofendidos pelo fato de Paul ter saído da caixa em que reina absoluto. Certamente sem dar ouvidos a urgências alheias, o ex-Beatle estava interessado apenas em manter o velho costume de oferecer coisas bonitas e diversão de alto nível.

À época do lançamento, ele disse: “Este é um álbum muito terno, muito íntimo. Este é um álbum que você ouve em casa depois do trabalho, com um copo de vinho ou uma xícara de chá”. Garanto que é muito melhor dar ouvidos a quem, há décadas, não precisa provar mais nada para ninguém. Tim-tim!

Ouça Kiss On the Bottom aqui

https://music.youtube.com/watch?v=XNs7QRYXJ0E&list=OLAK5uy_n0UmJuPC9Vi8mUFQ3FZMxedCfKcI2pjYU

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