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A pureza das crianças
- Kalunga Mello Neves
Neste emaranhado de ideias, opiniões, informações, fórmulas, receitas, palpites e sugestões com os quais somos diariamente bombardeados através de todas as mídias. Neste arroubo de conhecimentos persuasivos que nos chegam através da eloquência evasiva de palestrantes da moda, filósofos enigmáticos, pensadores distraídos, e por aí vai, nos encontramos acuados, até duvidando ou pondo em xeque nossas próprias convicções.
Diante do que ouvimos, nos perguntamos o que será mesmo que pensamos. Ah, velho Chacrinha, quanto dó de quem não te conheceu e não ouviu tuas frases desconcertantes e inteligentes. “Eu vim para confundir e não para explicar”. Mais ou menos isso. “Quem não comunica se trumbica”, e logo uma canção romântica para suavizar sua vã filosofia.
Nosso momento é crítico em se tratando de muitas coisas, cujo grau de importância nós mesmos é que estabelecemos, de acordo com nossos interesses e vantagens subsequentes. Se é época de eleição, todos nos travestimos de racionais cidadãos ou irracionais democratas. Se é de Carnaval, de libertários foliões ou imaculados censores da alegria alheia.
E o tempo passa. A Esperança não desiste de ser eterna candidata a dias melhores. O Poder insiste sempre a fomentar a crença na ilusão também em dias melhores. E eu?
Eu procuro insistentemente uma terceira via. Que tenha um livro como seu brinquedo preferido. Que na mão estendida de uma professora encontre a confiança e carinho necessários para seguir em frente em busca dos seus sonhos. Eu procuro insistentemente uma terceira via. Que tenha um sorriso puro e uma naturalidade verdadeira. Que não me chame de senhor, mas me respeite e queira ser tratada da mesma forma.
Sem demagogia ou falsidade, por adorar o que faço como poeta contador de histórias, no convívio com as crianças finalmente encontrei o que procurava. Autenticidade, alegria de viver, simplicidade e, principalmente, o que é verdadeiramente a definição mais exata de democracia.
*KALUNGA MELLO NEVES, escritor