Sardenha/Reprodução/Forbes
A longevidade é azul
- Heraldo Palmeira
O estudo dinamarquês Danish Twin Study concluiu que somente 20% da nossa longevidade é determinada por genes. Os outros 80% são consequência do ambiente e do estilo de vida. Esses números podem nos levar à conclusão de que a conquista de uma velhice saudável e mais longa está diretamente ligada às nossas escolhas e à maneira como vivemos.
Os lugares do mundo onde as pessoas são mais longevas foram denominados “zonas azuis”. São apenas cinco espalhados pelo planeta, encravados em locais distantes entre si. Em comum, a vida boa inclusive na velhice e um elevado número de pessoas que ultrapassam um século de vida.
Essas “zonas azuis” têm culturas, hábitos, configurações sociais e ambientes completamente distintos. Apesar disso, apresentam alta qualidade e expectativa de vida e compartilham grandes similaridades na alimentação, atividades físicas e conexões sociais e espirituais.
A primeira “zona azul” foi designada na Sardenha (Itália, foto), depois que especialistas em demografia estiveram lá para estudar a longevidade observada na ilha. O fato de terem marcado em azul, no mapa, a área onde estavam trabalhando determinou a expressão que terminou consagrada. Hoje, o grupo é completado por Icária (Grécia), Loma Linda (EUA), Nicoya (Costa Rica) e Okinawa (Japão).
O mais impressionante é que os princípios básicos da vida nesses cinco lugares não impõem nenhum tipo de restrição exagerada, apenas moderação nos hábitos e desfrute de valores humanos simples. Embora frutas, verduras, grãos e legumes frescos estejam no centro das dietas, carnes e produtos animais, pães e álcool são itens presentes e convivem harmoniosamente. A prática de refeições compartilhadas e sem pressa aumentam o prazer à mesa. Os exercícios físicos regulares e de baixa intensidade predominam, sempre relacionados às atividades diárias – nada parecido com puxar ferro em academias –, e terminam aliviando o estresse, gerando benefícios para o tônus muscular, a mobilidade e estimulando a disposição física e mental para evitar a acomodação natural da velhice.
A geografia montanhosa da maioria das “zonas azuis” terminou criando o hábito de caminhadas por trajetos íngremes durante os afazeres diários ou por simples lazer – a beleza das paisagens funciona como convite. A convivência social intensa complementa o “manual de instruções” de viver bem e muito.
Os azuis de cada zona
1. Icária é uma verdadeira ilha grega paradisíaca. O local é isolado, mantém tradições seculares e ostenta a menor taxa de demência entre idosos. Ao longo do tempo a população desenvolveu uma dieta mediterrânea bastante particular, com refeições demoradas, quase nunca solitárias e seguidas de uma boa soneca. Dormir tarde e acordar tarde é um costume consagrado dos ilhéus. É a mais recente das cinco “zonas azuis” incluída na lista mundial.
2. Loma Linda está a 100 km de Los Angeles e abriga a maior concentração mundial de adventistas do sétimo dia. Mesmo encravada numa região urbana dominada pelo fast food e que registra altos níveis de poluição ambiental, o segredo da longevidade dos moradores está diretamente ligado aos bons hábitos alimentares baseados numa dieta bíblica que valoriza produtos saudáveis, desestímulo ao consumo de álcool e tabaco, princípios firmes de fé e espiritualidade, convivência familiar e lazer ligado à natureza.
3. Nicoya fica no centro de uma península no Pacífico e registra a segunda maior concentração de homens centenários. A herança indígena de ancestrais dedicados à agricultura de subsistência com elevada prática religiosa se mantém ao longo de séculos, baseada em produtos naturais da região. O dia começa antes do amanhecer e o trabalho é desenvolvido em casa ou no campo. Em razão do calor intenso, as atividades se encerram entre meio-dia e 14h e todos vão almoçar. A quantidade de minerais encontrados na água é um benefício para coração e ossos.
4. Okinawa é um dos locais mais famosos ao sul do Japão continental. O arquipélago é uma região ensolarada cuja história está repleta de fenômenos naturais, guerras e dominações externas, que pode explicar a resiliência dos seus habitantes. Região das mulheres mais longevas do mundo, manter-se em atividade faz parte da vida cotidiana sem ideia de recolhimento em qualquer idade. Isso pode representar trabalho, encontro com amigos ou ocupações familiares diversas. Algo muito particular se traduz na palavra “moai”, pequeno grupo de amigos que se acompanham por toda a vida como uma rede de segurança para bons e maus momentos. Com alimentação extremamente saudável, a população também conta com a medicina oriental focada mais na prevenção do que no tratamento de doenças.
5. Sardenha foi a primeira “zona azul” designada. Ostentando a maior concentração de homens centenários do mundo, tem sua organização social baseada em famílias de pastores e pequenos agricultores, onde as mulheres têm presença predominante na administração financeira. A alimentação está repleta de comidas típicas e vegetais sazonais, onde as carnes têm presença secundária. A população, habituada às atividades pelos campos montanhosos, envelhece em plena atividade e tem nos idosos uma espécie de tesouro cultural.
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