Bola Al Rihla (Copa 2022)/Divulgação
Boletim da Copa 1
- Sylvio Maestrelli
Catar 2022 – A Copa dos contrastes
Falta pouco para o início de mais uma Copa do Mundo. Desta vez, no Oriente Médio, uma região historicamente lembrada por conflitos. E eles já começaram, dentro e fora dos gramados.
A mídia internacional traz dados estarrecedores a respeito de mortes e condições subumanas e escravistas de trabalho daqueles que construíram os estádios para o evento. A seleção alemã promete, independentemente de possíveis (mas improváveis) sanções da FIFA, protestar contra o desrespeito aos direitos humanos e o preconceito à diversidade em solo catari. Jornalistas já denunciam tentativa de suborno aos jogadores equatorianos para facilitar a partida de abertura contra a seleção da casa, considerada a equipe mais fraca de toda a competição (ao lado da Arábia Saudita). A Budweiser, uma das patrocinadoras da Copa, ameaça processar a família real (por quebra de contrato) em função da proibição, de última hora, de vendas e consumo de bebidas alcoólicas dentro dos estádios – agora, as bebidas só estão liberadas no ambiente do FIFA Fan Festival e em horário limitado. E vários torcedores e turistas já se queixam das regras a eles impostas, entre as quais “não criticar o país ou seus dirigentes” e “não fotografar determinados locais”. Por esses e outros motivos, diversos artistas convidados para participar do show de abertura, como Rod Stewart, Shakira e Dua Lipa, recusaram as propostas apesar dos cachês milionários oferecidos.
Já os especialistas em futebol não somente trazem à tona o processo todo que resultou na escolha do Catar como sede (derrotando candidaturas como EUA, Marrocos e Australia) – focando principalmente na corrupção dos votantes (fala-se em US$ 1 bilhão em propinas), como criticam o período de realização do evento, no meio das temporadas nacionais, prejudicando clubes e calendários. Afinal, é a primeira vez na história que a Copa se realiza no fim do ano. E soma-se a isso a pequena tradição do Catar no futebol, pois o país só ganhou uma Copa da Asia (2019) e foi vice no Mundial sub-20 no distante 1981. Além disso, houve a tentativa, há algum tempo, de muitas naturalizações de estrangeiros que atuavam em times cataris, mas elas feriam os regulamentos vigentes.
Apesar da enxurrada de críticas ao evento, alguns pontos positivos devem ser ressaltados. Voltando no tempo, quem diria que no momento em que o Brasil conquistava o tricampeonato (1970), aquela pequena aldeia de pescadores (Doha) se transformaria na capital charmosa e moderna de um dos países mais ricos do mundo?
Quem afirmaria que o emirado da família Al Thani (desde 1825 no poder) poderia realizar a competição mais cobiçada do planeta? Que o Catar se transformaria, segundo o FMI, no país mais rico do mundo em relação ao PIB per capita? E que mulheres islâmicas poderiam ir torcer nos estádios, uma vez que o país não adota um fundamentalismo tão radical quanto seus vizinhos sauditas?
Isso sem falar nos estádios, verdadeiras joias da arquitetura moderna, construídos em tempo recorde. Climatizados para amenizar os rigores da região desértica, servidos por moderníssimos metrôs. Todos em Doha ou em seus arredores, fazendo com que o país seja o primeiro, desde o Uruguai em 1930, a sediar praticamente uma copa inteira em uma única cidade. E com 32 seleções hospedadas em hotéis e resorts superluxuosos, como convém a um bom anfitrião.
Outro aspecto inusitado que chama a atenção nesta Copa é a torcida. Afinal, estima-se que apenas 25% da população local é nascida no Catar. Com isso, 75% dos 3 milhões de habitantes são asiáticos imigrantes, a maioria da Índia, Paquistão, Malásia, Irã e Filipinas. É razoável imaginar que a torcida da seleção da casa será diversificada e exótica, reforçando a capacidade de integração do futebol.
Finalmente, chegou a hora de a bola rolar. Já tivemos copas em países que viviam sob ditaduras militares, em países que sofreram terremotos, em países que a realizaram em conjunto com outros, em países que estavam punidos em outras competições por uso de doping, em países que superfaturaram estádios… Agora, para o bem ou para o mal, a Copa é no Catar. A partir das 13 horas de domingo (21), olho nas telas, telinhas e telões.
Que a Copa do Mundo Catar 2022 seja excelente, com grandes jogos, arbitragens decentes, VAR eficiente, sem que os grandes jogadores se machuquem. Que o bom futebol seja premiado. Como sempre, o Brasil desembarca como um dos favoritos. Haja coração!
*SYLVIO MAESTRELLI, educador e apaixonado por futebol
Acompanhe aqui a nossa série sobre a participação do Brasil em todas as Copas