Por Heraldo Palmeira
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22 de novembro de 2024

Boletim da Copa 10

Bola Al Rihla (Copa 2022)/Divulgação

Boletim da Copa 10

  • Sylvio Maestrelli

Sina iraniana, zebraça australiana, argentinos renovados

Grupo A Dois jogos simultâneos de qualidade técnica muito diferente. Assim podemos resumir o que rolou na terceira e decisiva rodada do grupo. Holanda x Catar foi uma partida bastante fraca, com os holandeses praticamente realizando um “coletivo de luxo”, diante de uma das mais frágeis equipes da história das Copas, enquanto Senegal x Equador foi um jogo emocionante e ofensivo (especialmente no segundo tempo) que agradou aqueles que gostam de bom futebol.

O placar de 2×0 para os holandeses chegou a ser decepcionante para quem esperava ver a seleção laranja apresentar o futebol vistoso, eficiente e altamente técnico a que craques de épocas anteriores nos acostumaram. Pelo menos até agora, nenhum jogador dessa atual geração foi capaz de nos fazer recordar os monstros sagrados dos anos 1970 (Cruyff, Neeskens, Krol, Rep, Van Hanegen); dos anos 1980 (Rijkaard, Van Basten, Gullit); dos anos 1990 (Bergkamp, Seedorf, Davids, Frank de Boer, Van der Sar) e até dos anos 2000 (Van Persie, Robben, Sjneider). Dois velhos conhecidos (o central Van Dijk e o meio-campista Frank de Jong) vêm conduzindo um grupo de jovens jogadores, alguns promissores, mas que não estão se apresentando bem neste Mundial. Quem sabe, diante de adversários mais fortes, o time se motive e evolua, como ocorreu com a seleção italiana na Copa 1982.

Já os senegaleses brilharam dentro e fora do campo. Dentro, pela merecida vitória contra os equatorianos por 2×1, com um gol decisivo de seu principal defensor, Koulibaly. Fora, pelo show de coreografia dado por seus alegres torcedores, que em túnicas multicoloridas e adornos espalhafatosos, cantando e dançando o tempo inteiro, empurraram o time para a difícil e suada vitória. Além disso, foram tocantes as homenagens de jogadores e fãs ao craque Sadio Mané (principal jogador do time e desfalque nesta Copa por contusão), e principalmente ao antigo ídolo Papa Diop, que faleceu há exatamente dois anos. Ele que foi o autor do primeiro gol de Senegal em Copas do Mundo, contra a então campeã França de Zidane, em 2002, na vitória por 1×0 que surpreendeu o mundo futebolístico.

Quanto ao Equador, cumpriu dignamente seu papel, apresentando ao mundo alguns jovens valores que foram campeões sul-americanos Sub-20 em 2019. Confirmou sua crescente evolução, já verificada nas Eliminatórias, quando ficou à frente de tradicionais seleções da América do Sul como Colômbia, Paraguai, Chile e Peru.

Com os resultados, a Holanda enfrentará nas oitavas o segundo do grupo B, enquanto Senegal terá pela frente o campeão daquela mesma chave. Classificação Holanda (7 pontos), Senegal (6 pontos), Equador (4 pontos), Catar (0 ponto).

Grupo B Assim como aconteceu com o grupo A, na terceira e decisiva rodada rolaram duas partidas bem distintas e tecnicamente antagônicas. Inglaterra 3×0 País de Gales, jogo chato, repleto de “chuveirinhos” na área galesa, sem qualquer indício da rivalidade que se esperava das nações do Reino Unido. EUA 1×0 Irã, jogo disputadíssimo, teve os iranianos pressionando após sofrerem o gol norte-americano e os ianques se defendendo heroicamente, tentando matar a partida em contra-ataques.

O técnico inglês ouviu os clamores da torcida e finalmente escalou Foden e Rashford (em lugar de Mount e Saka) como titulares. O time melhorou sensivelmente em relação à partida anterior e dominou totalmente um Gales apático, sem criatividade, que não disse a que veio neste Mundial. O placar foi até pequeno, face à disparidade de qualidade das duas equipes. Mas os ingleses claramente não forçaram, fazendo substituições para poupar seus principais atletas, de olho nas oitavas. Enquanto isso, seu artilheiro e goleador máximo da Copa 2018, Harry Kane, ainda não balançou as redes no Catar.

No confronto entre iranianos e norte-americanos, uma vez mais a sina que parece perseguir o time dos aiatolás deu as caras. Sim, porque em 2014, um gol de Messi no último minuto do terceiro jogo da fase de grupos os tirou da Copa; em 2018, após empatar com Portugal e vencer Marrocos, um empate contra a Espanha no terceiro jogo os eliminou; agora, um magro 1×0 os manda de volta para casa. Todavia, apesar da goleada sofrida na estreia, o Irã se recuperou, jogou bem as duas partidas seguintes e por muito pouco (perdeu várias chances de gol) não empatou e seguiu para as oitavas.

Os EUA apresentaram no mínimo dois jogadores muito interessantes, ambos atuando na Premier League: Pulisic e Adams. Olho neles. Também mostraram bom conjunto e uma defesa eficiente, que já anulara o ataque inglês na partida anterior. Podem se tornar o grande azarão deste Mundial, até porque tudo o que vier doravante é lucro. A própria mídia esportiva do país não botava fé em uma boa campanha da equipe, tida como jovem e inexperiente.

Os resultados apontaram os classificados do grupo. Em primeiro lugar, a Inglaterra vai para as oitavas enfrentar os africanos do Senegal, segundo colocado do A. Jogo bastante perigoso para os favoritos ingleses. Por seu turno, conseguindo o segundo lugar, os EUA terão como oponente a Holanda, primeira do grupo A. Podem surpreender, já que até aqui os holandeses não brilharam. Classificação Inglaterra (7 pontos), EUA (5 pontos), Irã (3 pontos), País de Gales (1 ponto).

Grupo D Quando foram sorteados os grupos da Copa do Catar, os jornalistas esportivos prognosticaram que o D era “favas contadas”, aquele onde as forças se mostrariam as mais disparatadas: França, como última campeã mundial, e Dinamarca, pelas ótimas performances nas Eliminatórias europeias e na Eurocopa, disputariam entre si o primeiro lugar, enquanto tunisianos e australianos fariam figuração. Mas a zebra pintou em ambos os confrontos da terceira rodada.

É bem verdade que os franceses, classificados antecipadamente para as oitavas e já com o primeiro lugar garantido, se deram ao luxo de atuar com seus reservas diante dos africanos. Apático, parecendo até desinteressado, o time fez um péssimo primeiro tempo, só produzindo algo ofensivo com a entrada, na etapa final, de alguns titulares, como Rabiot, Griezmann e Mbappé. Mas não deu tempo da virada. A Tunísia, que jogava por uma combinação de resultados (vitória contra os franceses e empate na outra partida da chave), segurou com unhas e dentes o magro placar de 1×0, resultado muito comemorado por sua torcida face à rivalidade política entre os países (colonizado x colonizador), apesar de não trazer a sonhada classificação.

Enquanto isso, na outra partida, a Austrália surpreendeu a todos e bateu a Dinamarca por 1×0, o que lhe garantiu o ingresso às oitavas de final como segunda colocada. Na base da garra e extrema disciplina tática, superou a goleada sofrida na estreia e, revertendo a expectativa negativa de seus próprios torcedores, os australianos – comandados em campo pelo veterano Mooy – inverteram a lógica e repetiram o feito de 2006, na Alemanha. Sim, porque nada se esperava de uma equipe que foi para a repescagem asiática (jogo entre os terceiros colocados dos grupos daquele continente) e bateu os Emirados Árabes; que seguiu para a repescagem intercontinental, quando eliminou o favorito Peru e que finalmente obteve êxito na fase de grupos do Mundial, vencendo os dinamarqueses. Tremenda zebra! As casas de aposta de Londres devem estar bombando, pagando alto a quem apostou no time da terra dos cangurus.

Os nórdicos, por sua vez, retornam a seu país após campanha pífia, a pior de sua história em Mundiais. Não bastaram o ótimo goleiro Schmeichel e sua boa linha defensiva, uma vez que o ataque se revelou totalmente inoperante e Erikson esteve muito abaixo do que costuma jogar. Os vizinhos rivais (suecos e noruegueses) devem estar se divertindo com a “desgraça futebolística” dos vikings.

Depois desses resultados, a França se credenciou, então, a enfrentar o segundo colocado do grupo C nas oitavas, enquanto a Austrália pega o primeiro desse mesmo grupo. Classificação França (6 pontos, saldo 3), Austrália (6 pontos, saldo -1), Tunísia (4 pontos), Dinamarca (1 ponto).

Grupo C Antes do início da terceira e decisiva rodada, os quatro integrantes do grupo ainda mantinham chances de seguir adiante na Copa. E só os mexicanos precisavam de combinação de resultados, os demais dependiam exclusivamente de si mesmos. Daí uma grande expectativa dos torcedores em poder assistir a jogos muito disputados, com garra e ofensividade. E luta não faltou!

A Argentina finalmente “desencantou” e encantou. Atuando com muita movimentação e raça, sob a batuta do maestro Messi, coadjuvado por Di Maria e pelas brilhantes atuações de Mac Allister, De Paul e Julián Álvarez, os comandados de Scaloni “puseram os poloneses na roda”. Um autêntico passeio, que só não se traduziu em goleada pela excepcional atuação do goleiro Scczesny, que além de fazer grandes defesas, desviou para escanteio um pênalti cobrado por Messi, quando o placar ainda não havia sido movimentado. Parece que a derrota na estreia contra os sauditas acendeu o sinal de alerta para os hermanos, que vêm crescendo de produção. E agora metem medo.

Já os poloneses, dominados o tempo todo, foram poucas vezes ao ataque. Optaram por congestionar sua defesa, mas foram presas fáceis. Lewandowki, por exemplo, mal tocou na bola. Contudo, com a vitória dos mexicanos na outra partida, acabaram se classificando como segundo colocado do grupo, pelo saldo de gols. Só que terão que melhorar demais, se almejam algo ainda nesta Copa.

No outro jogo do grupo, o México venceu a Arábia Saudita por 2×1 e ambos morreram abraçados. Os mexicanos abriram 2×0 no segundo tempo e se tivessem feito mais um gol iriam às oitavas, na vaga conquistada pelos poloneses. Pressionaram desordenadamente e um contra-ataque saudita, já nos acréscimos, matou as chances. Nesta Copa, embora alguns jogadores se destacassem, como o zagueiro Montes e o volante Álvarez, o time não se apresentou bem, especialmente no ataque. Se em Copas anteriores sua torcida reclamava de eliminações sucessivas nas oitavas, desta vez a bronca será maior, uma vez que nem passaram pela fase de grupos.

Os sauditas fizeram sua parte. Ganharam dos argentinos (o que valeu um Rolls-Royce Phantom avaliado em R$ 6,5 milhões para cada membro da delegação) e venderam caro as derrotas subsequentes. Mostraram um futebol bonito, veloz, ofensivo, um bom entrosamento e não deram o vexame que alguns esperavam, muito pelo contrário. O feriado nacional decretado pelo rei após o jogo contra os platinos dá a dimensão da grande importância da façanha. Inclusive por ter quebrado uma longa invencibilidade do adversário.

Na próxima fase e em jogo eliminatório, a Argentina enfrentará, como primeira colocada, e na condição da favoritíssima, a defensiva Austrália (segunda do D). A Polônia terá pela frente a difícil missão de derrotar a atual campeã do mundo, a França. Classificação Argentina (6 pontos), Polônia (4 pontos, saldo 0), México (4 pontos, saldo -1), Arábia Saudita (3 pontos).

*Sylvio Maestrelli, educador e apaixonado por futebol

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