Por Heraldo Palmeira
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21 de novembro de 2024

Boletim da Copa 7

Bola Al Rihla (Copa 2022)/Divulgação

Boletim da Copa 7

  • Sylvio Maestrelli

“Fúria” espanhola, zebras orientais e “cartão de visitas” do Brasil

Grupo E Pintou logo no primeiro jogo do grupo mais uma grande zebra nesta Copa do Mundo. Com uma atuação de gala de seu goleiro e substituições no segundo tempo que mudaram o panorama da partida – o técnico nipônico acertou ao colocar atacantes velocistas em cima dos pesados laterais alemães e o técnico germânico errou, ao sacar o cérebro do time (trocou o eficiente Gundogan pelo instável Goretzka) – o Japão obteve uma vitória histórica contra a Alemanha, por 2×1. Interessante que 8 jogadores da seleção do Extremo Oriente atuam em clubes da Bundesliga.

Já na partida noturna no Catar, o que se viu foi um massacre da jovem seleção espanhola, comandada em campo por Pedri e Gavi, este último eleito o melhor jogador juvenil do mundo pela FIFA. A frágil e pouco renovada Costa Rica não teve como resistir e perdeu o jogo por 7×0, com direito a olé e belos gols. Os resultados complicaram bastante a situação da seleção alemã. Se for derrotada na próxima rodada pela Espanha, e o Japão obtiver um empate contra ao Costa Rica, já dirá adeus à Copa. E a “Fúria” está incluída entre as favoritas ao título. Classificação Espanha (3 pontos, saldo de gols 7), Japão (3 pontos, saldo de gols 1), Alemanha (0 ponto, saldo de go -1), Costa Rica (0 ponto, saldo de gols -7).

Grupo F Foi aberto com um empate sem gols, insosso, entre o voluntarioso e muito bem armado taticamente Marrocos e a renovada Croácia, onde o veterano Luka Modric ainda se destaca, mas o time está muito abaixo da ótima equipe vice-campeã na Copa 2018. Raros chutes a gol e muita disposição física marcaram a partida.

No segundo jogo, uma grata surpresa: a boa seleção do Canadá, ausente de Copas desde o México em 1986, chegou a dominar a equipe belga no primeiro tempo, perdeu um pênalti (batido por seu melhor jogador, Alphonso Davies, do Bayern Munique, e defendido por Courtois) e teve um outro possível penal não assinalado a seu favor pelo árbitro, apesar das intensas reclamações (o primeiro erro grave até agora das ótimas arbitragens neste Mundial). No entanto, mais uma vez confirmando a máxima futebolística de que “quem não faz, leva”, em um contra-ataque a Bélgica fez 1×0, resultado mantido até o fim do jogo, principalmente pela atuação de seu já lendário goleiro.

Apesar da vitória, os belgas não convenceram. Mesmo com o time renovado, apresentaram um futebol muito aquém da expectativa, com destaques apenas para o sempre seguro Courtois, o incansável Witsel e o cerebral De Bruyne, pilares dessa sua geração. Pondere-se que dois titulares, o perigosíssimo Lukaku e o veloz Mertens não atuaram, por ainda estarem fora das condições físicas ideais. Por ora, um time bem distante daquele que vimos atuar nas duas últimas Copas. Classificação Bélgica (3 pontos), Croácia e Marrocos (1 ponto cada), Canadá (0 ponto).

Grupo G Na primeira partida do grupo, os suíços, com um futebol burocrático e sem inspiração, derrotaram os fracos camaroneses por 1×0. O jogo foi muito fraco, praticamente sem oportunidades de gol, e nos mostrou um time helvético bastante inferior aos que representaram o país nas três últimas Copas. É o ocaso de uma ótima geração que vem desde 2010 e ainda se sustenta no goleiro Sommer e nos veteranos Xhaka e Shaqiri.

O time de Camarões se mostrou muito limitado tecnicamente e parece confirmar o que os comentaristas previam antes do Mundial: não passará da fase de grupos. Aliás, já foi uma surpresa terem batido a tradicional Argélia nas eliminatórias africanas, com um gol no último minuto.

Desse jogo ruim ficou um registro interessante: pela primeira vez na história das Copas, um jogador balançou as redes do seu país de nascimento vestindo a camisa de outra seleção. Breel Embolo, nascido em Camarões, foi naturalizado suíço e, visivelmente emocionado, não comemorou seu gol – o único da partida e que deu a vitória à Suíça.

Finalmente, no último jogo da primeira rodada da Copa, tivemos a primeira participação brasileira, com nossa seleção escalada de maneira bastante ofensiva, com apenas um “volante de contenção”, o que, convenhamos, não é uma característica do treinador Tite, sempre conservador em suas convocações, escalações e substituições.

Mas deu certo. Com um futebol envolvente e paciente desde a primeira etapa (para furar o bloqueio defensivo sérvio), Neymar jogando coletivamente, os novatos em Copas não sentindo o peso da estreia e Vinicius Jr. e Richarlison bastante inspirados, passamos pela Sérvia por 2×0 com direito a um lindo gol de voleio do “Pombo” Richarlison, que fez os dois gols do jogo. Tite se deu ao luxo até de colocar, para dar “rodagem”, vários atacantes reservas. A lamentar apenas Danilo e Neymar terem sofrido contusões que poderão afastá-los dos próximos jogos. Foi uma vitória importante porque aliviou a tensão da estreia, jogou o Brasil na liderança do grupo, trouxe confiança para o elenco e, diante do que foi visto no jogo dos nossos próximos adversários, deverá garantir o acesso da Canarinho para a próxima fase do Mundial. Classificação Brasil (3 pontos, saldo de 2), Suíça (3 pontos, saldo de 1), Camarões (0 ponto, saldo -1), Sérvia (0 ponto, saldo de -2).

Grupo H Completando as zebras asiáticas desta rodada, a Coreia do Sul, sem apresentar um futebol brilhante, mas com muita correria e disciplina tática, segurou um importante empate em 0x0 contra a tradicional Celeste Olímpica. Foi um jogo pegado, com intensa disputa por espaços (principalmente no meio-campo), mas com baixa produção ofensiva. Tanto que os goleiros praticamente não foram exigidos.

A julgar pela apresentação de estreia, o time uruguaio, com vários veteranos jogando seu derradeiro Mundial (Godín, Suárez, Cavani, Cáceres), vai ter que melhorar muito, até mesmo para se classificar na chave, onde era apontado como um dos favoritos, ao lado dos portugueses.

Na segunda partida, Portugal e Gana se enfrentaram. Depois de um primeiro tempo modorrento, parece que as equipes despertaram no intervalo e fizeram um jogaço no segundo. A partida estava equilibrada até a lambança do juiz norte-americano, que deu um pênalti inexistente para os lusos, prejudicando sensivelmente os africanos. Cristiano Ronaldo converteu e se tornou o primeiro e único futebolista a marcar gols em cinco Copas do Mundo. Depois, o que se viu foi um jogo eletrizante, repleto de emoção, com chances alternadas e sucessivas do gol, além de equívocos nas mexidas dos dois treinadores, até o estabelecimento do placar final, Portugal 3×2 Gana.

Ambas as equipes mostraram ótimos meio-campistas e atacantes (Portugal: Bruno Fernandes, Bernardo Silva, João Félix e Rafael Leão; Gana: Partey e Kudus), mas muitas fragilidades defensivas, especialmente nas laterais. O grupo continua em aberto, parecendo, até aqui, o mais equilibrado do Mundial. A conferir. Classificação Portugal (3 pontos), Uruguai e Coreia do Sul (1ponto), Gana (0 ponto).

O Brasil entrou na Copa

Nos dias que antecederam nossa estreia, alguns jogadores se portaram com arrogância, chegando até a assumir um favoritismo exagerado para a Copa ou a subestimar a boa equipe balcânica. A pior provocação foi a de Neymar nas redes sociais, mostrando uma camisa da Seleção com uma sexta estrela no escudo da CBF, como se já tivéssemos sido campeões antecipadamente. Atitude inoportuna, infantil, desnecessária e descabida que não somente gerou antipatia de torcedores de todo o mundo em relação ao nosso time, como certamente influenciou os sérvios, que “baixaram o sarrafo” em rodízio, em nosso provocativo camisa 10. Sua contusão era, pois, previsível. Lição que precisa ser aprendida.

Louve-se, no entanto, os jogadores brasileiros, que em momento algum menosprezaram seus adversários ou fizeram firulas e dribles inconsequentes depois de abrir vantagem, o que soaria como humilhação. Ganharam bem, com sobras e se não tivessem perdido várias oportunidades cristalinas no segundo tempo (além da boa atuação do goleiro sérvio) rolaria uma goleada. Existe um ditado que meus avós diziam quando jogavam baralho que agora nossos jogadores têm que evitar a qualquer custo: “Entrada de leão, saída de raposa”. Ou seja, temos que manter os pés no chão, pois nada ganhamos, somente uma partida difícil que tornamos fácil. E, com isso, nos credenciamos, sim, a ser um dos maiores postulantes ao título do Mundial. É importante manter o foco e ganhar o próximo jogo (contra a Suíça), para garantirmos nossa presença nas oitavas de final.

*SYLVIO MAESTRELLI, educador e apaixonado por futebol

Acompanhe aqui a nossa série sobre a participação do Brasil em todas as Copas

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