Divulgação/Louis Vuitton
Coisas da moda
- Heraldo Palmeira
A Louis Vuitton está festejando o sucesso da novíssima Bolsa Sandwich. Produzida em pele flexível de vaca, nas mesmas cores das famosas sacolas da marca, apresenta na parte interna um bolso com zíper e outro plano duplo, que mantém os itens organizados. Apesar de apresentada no desfile de lançamento da coleção em junho/2023, somente agora chegou ao mercado e está causando frisson no mundinho fashion.
Criada por Pharrell Williams, novo diretor criativo de moda masculina da marca, a peça é um item inusitado. Custa € 2,7 mil (R$ 14,3 mil), foi colocada à venda no site da empresa, esgotou rapidamente e gerou fila de espera aberta para os endinheirados que desejem desfilar com a novidade. No Brasil, o preço é um bocadinho mais salgado, R$ 20,6 mil.
Já batizada como “saco de pão”, foi inspirada no clássico saco de papel para sanduíches utilizado em muitas padarias francesas, conforme garante seu criador. Mesmo sabendo que suas ideias têm grande potencial de gerar controvérsias e críticas, Williams – nomeado para substituir Virgil Abloh – tem revelado sua intenção de buscar ideias em objetos comuns do cotidiano e criar artigos para o segmento de alto luxo.
Não se pode dizer que essa intenção é original porque em 2017 a própria grife trouxe acessórios banais para o luxo com sacos plásticos em padrão xadrez. E em 2022 foi a vez da Balenciaga lançar a bolsa Trash Pouch, que lembrava um saco de lixo preto.
A aposta O norte-americano Pharrell Williams, mundialmente conhecido pela música-chiclete Happy (link abaixo), é um visionário cujo talento e universo criativo se espalham em várias manifestações artísticas. Em razão de sua brilhante atuação nos campos da arte em geral, design, audiovisual e música nos últimos 20 anos, construiu uma sólida imagem de ícone cultural global com grande influência no mercado.
Envolvido com a moda há bastante tempo e já tendo colaborado com a maison há alguns anos, conquistou uma legião de fãs famosos que obviamente são clientes potenciais do alto luxo, algo que explica a escolha do seu nome pela Louis Vuitton. “Estou feliz em receber Pharrell de volta em casa, após nossas colaborações em 2004 e 2008 para a Louis Vuitton, como nosso novo Diretor Criativo Masculino. Sua visão criativa além da moda, sem dúvida, levará a Louis Vuitton a um capítulo novo e muito empolgante”, derreteu-se Pietro Beccari, Chairman e CEO da empresa, responsável pela indicação do artista para o cargo.
Pelo seu trânsito no mundo da arte e entretenimento, há quem enxergue Williams como uma espécie de presidente de um clubinho fechado repleto de figuras estreladas das artes e influenciadoras do consumo em nível global.
Paradigma É provável que o desfile que marcou a estreia de Williams no cargo tenha incomodado puristas que não aceitam ver a moda transformada em entretenimento. Na verdade, estamos falando de um dos maiores shows e demonstração de poder já vistos no mondanité parisiense. Mesmo assim, um ponto merece destaque: nesta primeira coleção do novo diretor não houve ruptura criativa relevante com o trabalho do antecessor, até porque os dois são amigos e Williams fez questão de dedicar aquela noite de lançamento ao amigo Abloh.
No anoitecer da terça-feira 20 de junho, a Pont Neuf, localizada diante da sede da Louis Vuitton, foi fechada para receber o desfile, exigindo uma operação logística que bloqueou diversas vias nos arredores e provocou um caos no trânsito – claro que as autoridades jamais criariam dificuldades para atender os caprichos de uma empresa fundamental à economia do país.
A lista de convidados – segundo a revista Elle “era quase obscena de tão absurda” – foi chegando pelo rio Sena a bordo dos famosos Bateaux Mouches e incluiu figurinhas carimbadas como Beyoncé, Jay Z, Rihanna, Naomi Campbell, Kim Kardashian, Lewis Hamilton, Nicolas Ghesquière, Stefano Pilati, Mia Khalifa…
Numa das extremidades da ponte, cujo asfalto foi coberto pela famosa padronagem quadriculada Damier consagrada pela grife, estava o coral Voices of Fire, responsável pela trilha sonora do evento e importado diretamente de Virginia Beach, cidade natal de Williams – ouça Joy (link abaixo), música produzida em colaboração com o artista, apresentada durante o desfile e lançada horas antes no mercado mundial.
O novo diretor criativo já colocou seus métodos de engajamento em ação. Documenta e divulga nas redes sociais os bastidores de sua atuação no ateliê da Louis Vuitton, inclusive as provas de roupas. Com isso, fortalece uma comunicação sem intermediários com uma enorme comunidade, apostando na ideia (tão na moda) de “pertencimento”. É a primeira mostra de que a escolha de Williams foi uma jogada muito bem calculada.
Mesmo que a maioria dos que se acham pertencentes tenha sequer cacife financeiro para entrar numa loja da marca, nos tempos atuais, onde a vaidade e a ideia de ter determinados produtos são itens obrigatórios do comportamento coletivo, não há melhor fórmula de manter uma marca na crista da onda e faturando alto do que fazê-la relevante nas plataformas digitais.
O bilionário Bernard Arnault, dono da LVHM – o maior conglomerado de artigos de luxo do mundo e controlador da Louis Vuitton –, tinha todas as razões para manter um sorriso de satisfação permanente sentado na primeira fila durante o evento na Pont Neuf. Era a própria tradução de uma figura happy. Ele segue repleto de motivos para estar rindo à toa e continuar disputando pau a pau o posto de homem mais rico do mundo.
Veja aqui
Happy… https://www.youtube.com/watch?v=ZbZSe6N_BXs
Ouça aqui