
Divulgação/Companhia das Letras
Deus existe?
- Nelson Marques
GIRAMUNDO LEU Em Deus, um delírio, o escritor Richard Dawkins se vale de seu texto sagaz, sarcástico e divertido para atacar sem piedade, mas com muito fundamento, o que considera um dos grandes equívocos da humanidade: a fé em qualquer entidade divina ou sobrenatural, seja Alá, seja o Deus católico, evangélico ou judeu. Mesmo defendendo que é preciso combater os males causados pela religião, o autor admite que dificilmente convencerá os fiéis recalcados, mas tem a intenção de ao menos fazer aqueles crentes por inércia assumirem o próprio ateísmo com orgulho.
O tom é de quem quer mesmo mudar o mundo, nas suas próprias palavras. Pelos títulos de alguns capítulos como Um Descrente Profundamente Religioso, A Hipótese de que Deus Existe, Argumentos para a Existência de Deus, Por que Quase com Certeza Deus Não Existe, As Raízes da Religião, O Livro do ‘Bem’ e o Zeitgeist Moral Mutante, Infância, Abuso e a Fuga da Religião e Uma Lacuna Muito Necessária?, o sumário já dá as indicações do que reserva o “pequeno” livro de mais de 500 páginas.
Os argumentos empregados por Dawkins são contundentes e bem embasados para questionar a tese do design inteligente e a própria existência de Deus, sugerindo hipóteses darwinistas à nossa predisposição psicológica para acreditar numa entidade divina. Ele faz ainda um apelo apaixonado contra a doutrinação de crianças em qualquer religião.
É evidente que as provocações são propositais. Dawkins não trata de questões religiosas com deferência, pois um dos conceitos que ataca é justamente a ideia de que a religião mereça um respeito especial. Ele refuta o negativismo. Ser ateu não é incompatível com bons princípios morais e com a apreciação da beleza do mundo e o maravilhamento com o Universo e com a vida. Todas as argumentações expressas no livro denotam uma nota de otimismo e esperança, ainda, com a humanidade que temos. Um livro importantíssimo, especialmente nos dias de hoje, onde crimes são cometidos sob motivações religiosas.
Deus, um delírio foi publicado originalmente em 2006, nos EUA, e chegou ao Brasil em 2007 em edição da Companhia das Letras, com tradução de Fernanda Ravagnani. Como quase todos os livros de Richard Dawkins, foi sucesso imediato no mundo e no Brasil – traduzido para 31 idiomas – e não perdeu a atualidade. Com passagens pelas cátedras de Berkeley, EUA, e Oxford, Inglaterra, o autor coleciona sucessos literários como O Relojoeiro Cego (1986), O Gene Egoísta (2007), A Grande História da Evolução (2009) e O Maior Espetáculo da Terra (2009). Aos 84 anos, permanece ativo e recentemente publicou alguns títulos ainda inéditos no Brasil.