Flávio Rezende
Espaço mágico
- Flávio Rezende
O espaço mágico da arte pode estar escondido nos lugares mais improváveis. A mágica é abrir sua porta. Enxergar que o mundo tem tudo em todo canto é um escrito da alma.
O amor enorme por minha filha Mel adolescente – o mesmo que senti por meu filho agora adulto Gabriel – vai gerando reflexões e reminiscências do que eu era no tempo em que, hoje, ela é. Aí, fico vendo a idade e tentando relembrar o que eu pensava e fazia naquela minha faixa temporal.
Tenho algumas recordações de chronos um pouco além do que, hoje, Mel se posiciona. Eu na sala de aula do Salesiano São José, na Ribeira, quando uma aluna amiga me pediu uma poesia, e fiz. Outras leram, quiseram também. Fiz. E no atendimento das solicitações das meninas descobri que tinha o dom de escrever – constatação sem qualquer vaidade, apenas pela sensação de ter entrado numa espécie de espaço mágico.
A partir daí, empoderado e cheio de autoconfiança pelo prazer que senti naquilo, comecei a escrever prosas e tudo que este mundo mágico da escrita possibilita. O tempo passou e a arte começou a me seguir, tendo eu associado meu agir a vários aspectos da ação cultural e, também, social, imprimindo felicidade, realização pessoal e otimismo à minha existência.
Para coroar, já coroa, quando tudo parece estar chegando ao fim em vários sentidos, pintou a fotografia. Veio em hora boa, quando eu estava, por escolha, aposentado de tudo, achando que minha contribuição ao planet, aos filhos e à minha cidade e país já havia finalizado.
A arte fotográfica me revitalizou, mostrou claramente que a idade não é um fim de linha automático, que pode efetivamente lhe mostrar novos nortes, apontar movimentos interessantes, e que você tem como ser vivo e ativo em qualquer tempo.
Sou feliz por ter uma vida de identificação com uma energia tão singular como a arte, de ter tido a oportunidade de navegar num mar tão profundo e positivo como é a maré do bem. Sou realizado, ainda positivo e produtivo. E ando fazendo meu próprio rango! Pois é, tem tanta coisa disponível por aí… Qualquer um pode ser artesão do dia seguinte e dar um peteleco na depressão.
Que situação… Assim são as coisas como elas são. É assim que lido com essas coisas. Luz!
*FLÁVIO REZENDE, fotógrafo da vida