Por Heraldo Palmeira
Los Angeles
Nova York
São Paulo
Lisboa
Londres
Fase da Lua
.
.
21 de novembro de 2024

Espanha campeã

Izhar Khan/AFP/Reprodução

Espanha campeã

  • Heraldo Palmeira e Sylvio Maestrelli

Terminou no último fim de semana (19/20) a Copa do Mundo FIFA de Futebol Feminino 2023, realizada com total sucesso de público na Ocenia, com sedes na Austrália e Nova Zelândia.

A final europeia entre Espanha e Inglaterra envolveu duas seleções que se tornaram protagonistas nos últimos anos em razão do investimento e organização. E depois de um jogo bem disputado, as espanholas ganharam por 1×0, levantando pela primeira vez o troféu.

O título não veio por acaso. Nos últimos anos, a Federação Espanhola e os grandes clubes de futebol investiram pesado para transformar o país também numa potência feminina. Desenvolveram as categorias de base, contrataram grandes jogadoras europeias e de outros continentes. Resultado: hoje, o Barcelona é o campeão da Champions League, Alexia Putellas (sua meio-campista) é a atual melhor jogadora do mundo e a colombiana Linda Caicedo (revelação da Copa e melhor jogadora juvenil do mundo) defende o Real Madrid. Não bastasse, outras espanholas brilharam. Aitana Bonmati foi eleita a melhor jogadora da Copa, Jenni Hermoso é a segunda e Salma Paralluelo a melhor jogadora jovem, todas espanholas. Uma clara demonstração de que o futebol feminino espanhol repete a relevância do masculino.

Do outro lado da final estava a Inglaterra, agora vice-campeã mundial com todos os méritos, que seguiu a mesma estratégia das ibéricas e também é a atual campeã da Eurocopa. Sua goleira Mary Earps foi escolhida a melhor do Mundial.

No sábado, na disputa pelo terceiro lugar, as tradicionais suecas confirmaram seu favoritismo e bateram as aguerridas australianas por 2×0. Um belíssimo resultado para ambas. A Suécia, vice-campeã nas duas últimas Olimpíadas e medalha de bronze nas Copas de 2011 e 2019, manteve a tradição de um futebol pouco vistoso, mas muito competitivo. E teve os feitos de eliminar sucessivamente duas ex-campeãs, os Estados Unidos (nas oitavas de final) e o Japão (nas quartas). A Austrália também fez bonito. Com o apoio de sua torcida e o especial brilhantismo de sua atacante Sam Kerr (Chelsea), foi adversária difícil para outras seleções com mais retrospecto, chegando a golear (4×0) o Canadá, que ganhou a medalha de ouro na última Olimpíada.

Algumas seleções apontadas antes do Mundial como candidatas ao título fizeram boa campanha, ainda que não tivessem chegado às semifinais. Japão, da artilheira da Copa, Miyazawa, que goleou por 4×0 a Espanha na fase de grupos e caiu nas quartas para a Suécia, e a Holanda, que chegou às quartas, quando foi derrotada pelas campeãs espanholas na prorrogação (2×1). As africanas Nigéria, África do Sul e Marrocos também fizeram campanhas acima das expectativas, caindo nas oitavas, assim como as retrancadas semiprofissionais da Jamaica. Destaque ainda para a Colômbia, que chegou às oitavas, atropelando a sempre favorita Alemanha.

Dentre as decepções temos Alemanha, Estados Unidos, Canadá, França e Brasil. Todas, de uma forma ou outra, colecionaram fiascos pelos mais diferentes motivos.

A Alemanha, bicampeã em 2003 e 2007 e vice-campeã em 1995, repetindo que aconteceu com sua seleção nacional masculina nas últimas Copas do Mundo, apresentou um futebol muito irregular, de altos e baixos, em momento algum justificando a fama de bicho-papão e favorita antecipada. Lutou, mas sequer passou da fase de grupos, que teve como classificadas a Colômbia e a estreante Marrocos. Decepção do mesmo nível ocorrida com as canadenses, atuais campeãs olímpicas, que nem chegaram às oitavas em razão do futebol pífio apresentado.

França e Estados Unidos passaram pela fase de grupos sem convencer. As francesas enfrentaram crises internas que motivaram, antes do Mundial, no pedido de dispensa de algumas jogadoras importantes. As norte-americanas estão em uma fase de renovação de elenco e várias novatas atuaram aquém do esperado. Mesmo assim, as francesas avançaram até caírem nas quartas, nos pênaltis, contra a Austrália, enquanto as americanas foram vencidas pelas suecas nas oitavas, também após cobranças de pênaltis.

O vexame mais estridente foi protagonizado pelo Brasil. Cercadas das tradicionais expectativas desmedidas e daquele ufanismo incorrigível da mídia tupiniquim, mesmo com todas as condições logísticas favoráveis as jogadoras tiveram atuação pouco convincente logo na estreia, quando golearam uma das piores seleções da Copa, o Panamá. No segundo jogo, perderam de uma França irregular e em crise. No terceiro, a pá de cal: um empate horroroso contra as esforçadas (mas fracas) jamaicanas, jogo onde não criamos chances de gols. E veio a desclassificação, logo na fase de grupos. O Brasil, número 8 do ranking da FIFA, que caíra na chave mais fácil do Mundial, onde estavam Jamaica (43ª) e Panamá (52ª), consegui a proeza de ser eliminado e trazer para casa a pior campanha de nossa história em Copas!

Agora, a torcida saudosista já recorda com carinho de Roseli, Sissi, Formiga, Marta, Cristiane e outras que atuavam quando o país chegou a ser bronze na Copa de 1999 e prata na de 2007, e a obter resultados expressivos como os vice-campeonatos nas Olimpíadas de 2004 e 2008. O que se viu neste Mundial foi uma soma de equívocos, da convocação às escalações e mexidas da treinadora sueca Pia Sundhage. O que se viu foi um grupo que parecia correr em bando, não um time, sem alternativas para furar retrancas, totalmente previsível. E com a veterana Marta completamente perdida taticamente, um desperdício. Está claro que as mudanças precisam ser urgentes, tendo como referência as principais equipes europeias.

A Copa das meninas teve enorme êxito técnico e comercial. Jogos disputados, belos gols, boas arbitragens. Ainda vimos falhas bisonhas de goleiras e zagueiras, principalmente. Mas, uma Copa disciplinada, sem agressões descabidas, reclamações acintosas, simulações ou ceras de atletas. Um evento que cresce dia a dia e teve excelente média de público (lotação média de 93% nos ótimos estádios).

O resumo é definitivo: esta foi a maior Copa do Mundo da história do futebol feminino. A bola das meninas está cheia e a modalidade está crescendo a olhos vistos. Um alento para as verdadeiras touradas protagonizadas pelos barbados.

©