Por Heraldo Palmeira
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23 de novembro de 2024

Eurocopa 2024 chegando

Divulgação/Euro2024/UEFA

Eurocopa 2024 chegando

  • Heraldo Palmeira e Sylvio Maestrelli

Vem aí a imprevisível e estimulante UEFA Euro 2024, popularmente conhecida como Eurocopa. É sempre difícil fazer algum prognóstico antes de grandes competições internacionais entre seleções. Por mais que sejam levados em conta dados estatísticos, amistosos, atuações dos convocados pelos clubes e outros fatores, muitas vezes os melhores analistas de futebol “quebram a cara”. Desde estrelismos individuais (em detrimento do resultado coletivo) até as “invenções” dos “professores” (técnicos), passando ainda por algumas arbitragens geralmente tendenciosas para aqueles países com camisas de “maior peso”, diversos fatores contribuem para surpresas ou monumentais zebras.

O que parece certo é que a Eurocopa 2024, chamada pelos eurocêntricos de “Copa do Mundo sem Brasil, Argentina e Uruguai”, já é um sucesso financeiro e de público pois será realizada na organizada Alemanha e o equilíbrio entre vários participantes parece dar o tom de uma disputa muito parelha, onde várias das 24 equipes podem sonhar com a conquista da taça. O torneio se inicia dia 14 de junho, em Munique, e tem sua final programada para 14 de julho, em Berlim.

A competição está organizada em seis grupos:

Grupo A Alemanha (dona da casa), Escócia, Hungria e Suíça

Grupo B Albânia, Croácia, Espanha e Itália (última campeã)

Grupo C Dinamarca, Eslovênia, Inglaterra e Sérvia

Grupo D Áustria, França, Holanda e Polônia

Grupo E Bélgica, Eslováquia Romênia e Ucrânia

Grupo F Geórgia, Portugal, República Checa e Turquia

Há toda uma expectativa sobre Geórgia e principalmente Albânia, duas seleções que vêm crescendo bastante. Teremos as ausências de alguns países tradicionais na competição, como Suécia e Grécia (campeã em 2004). Ficaram de fora também Rússia, punida pela UEFA – foi a primeira campeã da Euro, em 1960, quando ainda fazia parte da União Soviética – e Noruega, que mesmo com estrelas que brilham no futebol inglês (Haaland e Odegaard), caiu nas Eliminatórias.

O regulamento é simples. Se classificam para as fases seguintes as duas seleções mais bem posicionadas em cada grupo, além das quatro terceiro colocadas mais bem pontuadas. Esses 16 times disputarão oitavas, quartas, semifinais e final.

É óbvio que as 24 seleções têm possibilidades diferentes dentro da competição, além do imponderável que entra em campo. Dentro do cenário atual, é possível separar os times em quatro blocos distintos:

Poucas chances Escócia, Albânia, Eslovênia, Polônia, Eslováquia, Romênia e Geórgia.

Chances de surpreender Hungria, Áustria, Sérvia, Ucrânia, Turquia e República Checa.

Chances pelo histórico Alemanha, Suíça, Croácia, Itália, Dinamarca e Bélgica.

Favoritas Espanha, Inglaterra, Holanda, Portugal e França.

Agora é esperar pela competição repleta de craques em campo e grandes jogos. O equilíbrio de forças deverá garantir o espetáculo que já é tradicional no ambiente das ligas europeias, onde sobra organização e não falta dinheiro.

Vale registrar que no mesmo período estará em disputa a Copa América, nos EUA. O seletor de canais será ótima ferramenta de escolha.

Ranking das seleções A partir das performances recentes de suas seleções, este é o cenário dos países que disputarão a Eurocopa 2024:

Albânia Ainda que seja um dos países que mais cresceu no universo do futebol europeu, embora não conte com nenhum grande destaque individual tem vários atletas disputando o campeonato italiano, mas ainda não parece capaz de enfrentar de igual para igual os adversários muito mais experientes de sua chave.

Alemanha Muito distante de ser a fortíssima seleção de outrora e três vezes campeã da Euro, os donos da casa têm boas chances de ganhar a competição, mas estão longe de um favoritismo. Seus resultados internacionais desde a Copa 2014 – mesmo com o histórico 7×1 no Brasil – vêm sendo ruins e já provocaram a queda de treinadores e o afastamento de vários jogadores veteranos. Desta vez a polêmica entre os germânicos foi a não convocação de Hummels, zagueiro do Borussia Dortmund, destaque da última Champions e preterido pelo técnico Julian Nagelsmann. Apesar dos desfalques por contusão de Goretzka e Gnabry, o time entrará em campo com destaques como Neuer, Rüdiger, Kimmich, Gündogan, Havertz, além dos jovens Musiala e Wirtz, ídolos locais. Para buscar mais um título numa disputa que também marcará as despedidas dos craques Toni Kroos e Thomas Müller, obviamente os alemães vão aproveitar o fato de jogarem em casa com a torcida a favor.

Áustria Da mesma forma que a Hungria, tem seus principais jogadores atuando na Alemanha, como os meio-campistas Baumgartner (RB Leipzig) e Sabitzer (Borussia Dortmund). A seleção austríaca é um daqueles times enjoados de enfrentar e que poderá complicar a vida dos favoritos.

Bélgica Esqueça o time belga que se destacou entre 2014 e 2022. A equipe está bem renovada, ainda que conte com alguns experientes remanescentes como De Bruyne, Witsel e Lukaku. Há boas promessas como o meia Trossard (Arsenal) e o atacante Doku (Manchester City), mas os belgas não têm convencido nem seus torcedores. Entra em campo amparada muito mais pela tradição para surpreender, mas, estranhamente, seu treinador optou por não levar à competição o excelente goleiro Courtois, campeoníssimo pelo Real Madrid.

Croácia O excelente trabalho de renovação da equipe, realizado pelo competente Zlatko Dalic, continua dando resultados. Os croatas, mesmo tendo perdido algumas referências do time por aposentadoria, como Rakitic e Mandzukic, desde 2018 vem se destacando: vice na Copa da Rússia, terceiro na Copa do Catar e vice na Liga das Nações da UEFA em 2022. Falta apenas um título para o time de Modric e companhia. Seria o prêmio merecido a jogadores como Livakovic, Vida, Gvardiol, Brozovic, Perisic e outros, a maioria já com mais de trinta anos. Veteranos e competentes, os croatas não podem ser menosprezados de forma alguma.

Dinamarca Contando com atletas experientes, que atuam principalmente no futebol inglês e alemão, os dinamarqueses sonham alto. Têm uma espinha dorsal muito boa e não será surpresa se realizarem uma ótima campanha, apesar do fiasco na Copa 2022. Afinal, contam com o goleiro Schmeichel, os zagueiros Christensen e Kjaer, os meias Hojbjerg e Erikssen e os atacantes Hojlund e Poulsen. Claro que não estamos diante daquela Dinamáquina que encantou o mundo entre 1986 e 1992, mas não dá para descuidar desse time de agora. Basta lembrar que exatamente ao final do ciclo da geração do lendário Preben Elkjaer – aposentado dois anos antes –, o país, eliminado nas seletivas da Euro, aproveitou o convite pela exclusão da Iugoslávia (desintegrada pelos violentos conflitos separatistas) e levantou a taça.

Escócia O futebol-força de sempre, com muitos cruzamentos para a área. Sem grandes destaques individuais, a maioria de seus jogadores atuam em times pequenos da Inglaterra. A alternativa para um bom desempenho passa por apostar no conjunto do time, além de levar em conta que caiu numa chave indigesta.

Eslováquia Um time sem estrelas, conta apenas com a vantagem de ter caído em um grupo mais acessível, mas deverá cumprir papel sem destaque no torneio.

Eslovênia Deverá ser mero figurante do torneio, mesmo contando com o excelente Oblak (goleiro do Atlético de Madrid). As dificuldades podem ser ampliadas por ter caído num grupo difícil.

Espanha Agora sob a batuta do treinador Luis de La Fuente, profundo conhecedor das categorias de base do país que gradativamente reformulou o time, a Fúria parece mais confiável do que quando fracassou na Copa do Catar, mesmo tendo uma das médias de idade mais baixas daquele Mundial. Sua grande perda para a Euro será a ausência do talentoso jovem Gavi (Barcelona), seriamente contundido. No entanto, a mescla de veteranos na defesa com jovens promessas no meio e no ataque pode emplacar. Rodri (Manchester City) hoje é considerado o mais completo meio-campista da Europa. Pedri (Barcelona), um dos melhores meias. E na frente sobra gente boa como Yamal (Barcelona), Olmo (RB Leipzig), Oyarzabal (Real Sociedad) e Nico Williams (Athletic Bilbao). Terceira colocada na Euro 2000, vice-campeã na Liga das Nações da UEFA em 2020 e campeã em 2022, vai entrar em campo como uma das favoritas e vai buscar o tetra da Euro.

França Nos últimos anos a seleção vem perdendo algumas peças importantes como Lloris, Pogba, Umtiti, Matuidi e Varane, foi feita uma excelente renovação e hoje jovens talentosos como Camavinga, Zaïre-Emery, Tchouaméni, Fofana, Konaté e Kolo Muani já dividem protagonismo com estrelas do quilate de Mbappé e Griezmann. E ainda terá a volta do incansável veterano Kanté. Os franceses vivem uma fase bastante positiva no futebol. Campeã do mundo em 2018, fez uma final eletrizante com a Argentina na Copa 2022 e por pouco não ganhou novamente. Levantou a taça da Liga das Nações UEFA 2020. A Euro é a única conquista que falta ao currículo do treinador Didier Deschamps – embora o país já tenha vencido o torneio duas vezes, o último em 2000 com a geração de Zinédine Zidane. Agora, os Bleus são um dos grandes favoritos e têm um time forte e pronto para enfrentar as rivalidades que extrapolam o futebol contra Alemanha, Espanha, Inglaterra e Itália em busca de mais um título. Se levantarem a taça se igualarão aos três títulos de Alemanha e Espanha, maiores ganhadores da competição.

Geórgia Surpreendeu toda a Europa ao bater a Grécia nos playoffs para a Eurocopa. Time aguerrido, cujos destaques individuais são o goleiro do Valência, Mamardashvili, e o atacante do Napoli, Kvaratskhelia, artilheiro do time. A seleção já cumpriu seu papel ao obter a vaga para a competição e qualquer avanço será grata surpresa.

Holanda Tradicionalmente forte, segue renovando sua equipe e a nova geração é promissora. Sob o comando do ex-craque Ronald Koeman, é possível que atletas como Ake, Dumfries, Gravenberch e Gakpo somados à experiência de Van Dijk, De Ligt e De Vrij constituam uma nova versão da Laranja Mecânica que encantou o mundo sob o comando do técnico Rinus Michels e do genial Johan Cruyff. Na última Liga das Nações da UEFA, em 2022, os holandeses chegaram na quarta colocação. Entram em campo como uma das favoritas e podem repetir sua única conquista, obtida em 1988.

Hungria Depois de mais de 30 anos de completo ostracismo no futebol internacional, os magiares surgem com uma nova geração comandada pelo meio-campista Szoboszlai, do Liverpool, coadjuvado por vários outros jogadores de destaque na Bundesliga como Gulácsi, Szalai, Dárdai, Sallai e Schäfer. Como estão todos habituados a aturar nos estádios da Alemanha, e o futebol apresentado pelos húngaros é sempre centrado na habilidade, podem ser uma das surpresas da Euro apesar de terem caído em um grupo com alemães e suíços.

Inglaterra Gareth Southgate está longe de ser uma unanimidade entre os torcedores do English Team. Além disso, para boa parte da crítica ele não tem estofo nem bagagem para comandar aquela que, para muitos britânicos, é a segunda maior geração da história do futebol inglês (a primeira seria a que jogou entre 1957 e 1970, de lendas como Gordon Banks, Bobby Moore e Bobby Charlton). Sua lista de convocados para a Eurocopa 2024 gerou muitas polêmicas. Ausências como as de Rashford, Henderson, Sterling e Sancho despertaram a ira de muitos jornalistas e torcedores. Contudo, divergências à parte, o time inglês é bastante forte e experiente, mesclando estrelas da nova geração como Bellinghan, Foden, Saka e Palmer com veteranos de renome como os defensores Stones e Walker, o volante Rice e o goleador Kane. Embora nunca tenha levantado esta taça, a seleção inglesa é uma das favoritas.

Itália Outra verdadeira incógnita. Qual Azzurra vamos encontrar? Aquela que venceu a última Eurocopa, seu segundo título na competição, batendo os ingleses nos pênaltis, ou aquela que ficou de fora das duas últimas Copas do Mundo? O time italiano é confiável? Segundo grande parte de seus torcedores, não. Alegam falta de craques, especialmente atacantes, e que os jovens que estarão em campo no torneio precisam ganhar mais experiência. Fato é que, embora apresentem alguns jogadores com potencial, a seleção não é vista com favorita. Os apaixonadíssimos tifosi deverão roer as unhas temendo mais um fracasso ou rezar para a tradição fazer alguma diferença.

Polônia Embora bastante tradicional, os poloneses ainda dependem de seus veteranos porque não surgiram grandes revelações no futebol do país. Szczesny (goleiro da Juventus), Zielinski (meio-campista do Napoli) e o “eterno” Lewandowski (atacante do Barcelona) são as referências do time. Na fase classificatória eliminou a duras penas o modesto País de Gales, e caiu num grupo muito difícil.

Portugal Grande decepção da última Copa do Mundo, os portugueses trocaram de treinador. À frente dos lusos está hoje o ótimo Roberto Martinez – antes comandou com destaque o time belga –, que assumiu o lugar do contestado Fernando Santos. A geração atual é excelente e conta com alguns dos mais talentosos futebolistas da Europa no momento, como o zagueiro Rúben Dias, o armador Bruno Fernandes, o meia Bernardo Silva e os atacantes Rafael Leão e Diogo Jota. Além, claro, dos veteraníssimos sempre eficientes Pepe e Cristiano Ronaldo – maior artilheiro da Euro (14 gols), lidera com folga diversos outros rankings do torneio –, que ainda não dão sinais de que pretendem se despedir da seleção. Bons goleiros, defesa bem armada, ótimos meias, atacantes artilheiros, a seleção portuguesa é importante candidata ao título e certamente tentará repetir a única conquista, obtida em 2016.

República Checa Sempre vista com potencial de campeã (conquistou a Euro 1976), desta vez não tem uma equipe badalada e sequer apresenta grandes destaques individuais. Pode surpreender aproveitando a sorte de ter caído em um grupo mais fraco. Outro trunfo é que seu time é basicamente constituído por atletas do Bayer Leverkusen (atual campão alemão), Slavia Praga, Sparta Praga e Viktoria Plzen – o entrosamento pode ajudar muito. Os checos depositam grande dose de confiança na sua dupla de atacantes Hlosek e Schick (ambos do Bayer Leverkusen).

Romênia No mesmo nível sem destaque de Eslovênia e Eslováquia. Com a maioria de seus atletas defendendo equipes pequenas da Itália e da Turquia, não parece ter chances de ir além da fase de grupos.

Sérvia Mesmo com uma campanha pífia na Copa do Mundo 2022, muitos jogadores sérvios atuam com destaque nas principais ligas europeias e árabe, como o zagueiro Pavlovic (RB Salzburgo), o volante Gudelj (Sevilha), os atacantes Vlahovic (Juventus) e Jovic (Milan), o meio-campista Milinkovic-Savic (Al-Hilal) e o goleador Mitrovic (Al Hilal). Um time bastante imprevisível, que costuma alternar jogos ruins e apresentações surpreendentes

Suíça A melhor geração da história dos helvéticos está pendurando as chuteiras. Grandes jogadores como Xhaka, Shaqiri, Ricardo Rodríguez, Schär deverão se despedir das competições internacionais nesta Euro e certamente querem fazer um belo papel. A seleção merece toda atenção dos adversários porque eles terão ao lado ótimos futebolistas como o zagueiro-lateral Akanji, o atacante Embolo e o goleiro Sommer. O resultado é um time forte, que vem fazendo papel bonito desde 2014 em todos os torneios de que participa. Ainda que disputando um grupo difícil, vai dar trabalho e poderá subir ao pódio.

Turquia Segundo me contam amigos de Istambul, a nova geração turca é a melhor do país desde aquela de 2002. Destaque especial para o jovem Arda Güler (Real Madrid) e os experientes Çelik (Roma), Çalhanoglu (Internazionale) e Ozcan (Borussia Dortmund). Entra em campo como uma incógnita, mas podemos esperar garra e surpresas.

Ucrânia Poderá aparecer como a grande surpresa da Euro. Além de sua base ser formada praticamente por dois times – Dínamo Kiev e Shakhtar Donetsk –, o que lhe garante entrosamento, os ucranianos têm em seu elenco jogadores que atuam com destaque em diversas ligas europeias, como Zinchenko (Arsenal), Mudryk (Chelsea) e Malinovskyi (Genoa). Além deles, Tsyhankov e Dovbyk participaram da campanha que levou o pequeno espanhol Girona à Champions 2025. E ainda tem o goleiro Lunin (Real Madrid). É uma seleção que merece o cuidado dos adversários.

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