Divulgação/Van Cleef & Arpels
Joias & História
- Heraldo Palmeira
A francesa Van Cleef & Arpels é famosa por sua linha de alta joalheria, relógios e perfumes exclusivíssimos que encantam gerações e tornou-se uma das maisons mais prestigiadas do mundo. Agora, traz ao mercado de luxo sua coleção Le Grand Tour.
Para criar essa nova linha de joias a empresa resolveu passear pelos roteiros antigos da Europa e foi buscar inspiração no Grand Tour, uma viagem famosa entre os jovens aristocratas dos séculos 18 e 19, que saíam numa expedição pelo Velho Continente por um período de até três anos.
Naqueles tempos, realizar esse tipo de viagem era uma forma de complementar a educação acadêmica vivenciando o mundo real, ampliando a mente, reforçando o caráter e preparando a entrada na sociedade para assumir os negócios e ocupar espaços históricos e políticos de suas famílias. “Esta coleção celebra uma tradição que sempre nos fascinou. No início do século 20, quando foi fundada a Van Cleef & Arpels, a curiosidade por outras culturas, épocas e formas de arte era uma maneira de alimentar a imaginação e dar vida a criações inovadoras. Mas mesmo antes disso, viajar para o exterior para descobrir vestígios de civilizações antigas serviu como uma prática reveladora para intelectuais e artistas na Europa. Isso teve um forte impacto em nossos usos de hoje. Ainda viajamos para ampliar nossas perspectivas, numa busca de experiências e encontros”, analisa o CEO da empresa Nicolas Bos.
A nova coleção é composta por cerca de 70 peças, divididas em capítulos que podem ser associados às etapas da grande viagem ora celebrada em joias: Londres, Paris, Alpes, Itália (Veneza, Roma, Florença e Nápoles) e Baden-Baden, pontos importantes do roteiro original do Grand Tour.
Ícones Personalidades icônicas que marcaram o século 20 sempre estiveram na lista de clientes fiéis da Van Cleef & Arpels. Barbara Hutton, Wallis Simpson e seu marido, o duque de Windsor, Marlene Dietrich, Maria Callas, Jackie Kennedy, Grace Kelly e Elizabeth Taylor ostentaram peças da marca em salões, palcos e telas.
Algumas se tornaram inesquecíveis na história da joalheria, como o colar Zip, as pulseiras Jarretière e os broches de bailarina. Por essa razão, os designers da casa também costumam garimpar nesse riquíssimo acervo algumas peças para inspirar novas coleções.
História A Van Cleef & Arpels atualmente faz parte do grupo empresarial suíço Richemont. Tudo começou em 1895 quando Alfred Van Cleef, filho de um lapidador, se casou com Estelle Arpels, filha de um comerciante de pedras preciosas. Em razão do ambiente em que cresceram, a grande paixão pela arte da joalheria foi uma consequência natural na vida de ambos.
O casal abriu sua primeira loja em 1906 na Place Vendôme, Paris, e em pouco tempo a marca ganhou destaque em razão do design atemporal e qualidade excepcional de suas peças. A partir de 1926, sob o comando criativo da dupla de diretores artísticos Renée Puissant e René Lacaze, a concepção do estilo da marca de estabeleceu.
O negócio cada vez mais próspero se expandiu para fora da Europa em 1939, com a instalação da primeira loja internacional em Nova York. A inspiração nos povos egípcios, indianos e do extremo oriente abriu caminho para consolidar o alto nível criativo da empresa e sua posição no mercado. Outro passo importante se deu em 1954 com a abertura da loja Le Boutique, em Paris, para oferecer uma linha de peças mais acessíveis que conquistou nova faixa de clientes.
O ano de 1968, que marcou a cultura e a política do mundo, também legou um sinal definitivo da Van Cleef & Arpels com a criação do colar Alhambra, que trazia 20 trevos de ouro amarelo – estriados e adornados com contas de ouro – espalhados por sua extensão. O sucesso foi imediato e o trevo se tornou o ícone mais poderoso da marca, simbolizando “sorte, saúde, fortuna e amor” segundo o marketing da empresa.
Não demorou a também compor brincos, colares e pulseiras. A peça jamais saiu de linha e parece reverberar a frase premonitória da fundadora Estelle Arpels: “Para ter sorte, você precisa acreditar na sorte”. Tanto que o célebre trevo ganhou forma também em madrepérola branca e hoje está presente nas joias mais vendidas da Maison. Essa utilização de gemas semipreciosas levou a alta joalheria para o uso cotidiano e ampliou ainda mais a clientela, alcançando mulheres jovens entre 20 e 30 anos.
Grand Tour Jovens ingleses ricos do final do século 16 costumavam fazer uma grande viagem no pós-Oxbridge (referência às Universidades de Oxford e Cambridge). Assim que terminavam sua formação acadêmica nessas afamadas instituições, esses aristocratas se lançavam rumo a Paris e a um circuito de cidades italianas – Roma, Veneza, Florença e Nápoles, nessa ordem de importância. Buscavam aperfeiçoamentos práticos a partir do contato com a arte, cultura e raízes da civilização ocidental. Era também uma ótima oportunidade para interagir com as nobrezas locais e aprender outros idiomas. A jornada representava uma espécie de rito de passagem do período acadêmico para a vida adulta.
Essa prática é considerada por muitos como parte importante do surgimento do turismo contemporâneo ao introduzir o chamado grand tourist (grande turista), um novo tipo de viajante que surge a partir do século 18 impulsionado pelas transformações econômicas e culturais que a Europa experimentou em razão do Iluminismo e da Revolução Industrial.
Surgia um viajante não mais envolvido apenas com expedições de guerras, missões e peregrinações religiosas, diplomacia, estudos e ciência natural, mas o grande turista que dispunha de alto padrão econômico e tempo para zanzar livremente por puro prazer e amor à cultura.
Com o tempo, fatores como o desenvolvimento das ferrovias e da navegação marítima a vapor facilitaram e expandiram esse modelo de grandes viagens a jovens abastados de outras partes do mundo, inclusive filhos de ricas famílias das colônias europeias – Simón Bolívar e José de San Martín são casos conhecidos de jovens ricos que estruturaram seus movimentos de libertação latino-americana enquanto realizavam suas viagens pela Europa.
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