Por Heraldo Palmeira
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21 de novembro de 2024

JOSÉ NÊUMANNE PINTO Poema para Saramago

Foto: Valerio Errani/Pixabay

A Seara de Saramago

Esta língua é minha semente,

machado de mulato do morro,

pátria de poeta lisboeta.

Esta língua é minha visão,

o sol do soldado caolho,

a mão do soldado maneta.

Esta língua é minha música,

na palavra do padre pregador,

no pássaro do padre voador.

Esta língua é minha mulher

tem cuidados de mãe

no leito da amante.

Esta língua é minha rosa,

tem perfume dos sertões gerais,

tem sabor de vinhos do Porto.

Esta língua é meu cavalo

para subir cidades e serras,

que a brisa do Brasil beija e balança.

Esta língua é fel com mel,

cantigas a palo seco

de ninar o futuro.

Esta língua é meu coração,

na tortura, na paixão

e no sal amargo da purificação.

Esta língua é joia africana,

ela caça a onça caetana,

ela cruza a légua tirana.

Esta língua é fruto de meu ventre,

mata sede de amizade,

me arma nos bons combates.

Esta língua não é de viver,

língua de navegar e de lamber

e de dançar o tango argentino.

Esta língua é meu berço,

esta língua me conhece,

esta língua é meu caixão.

*JOSÉ NÊUMANNE PINTO, escritor e jornalista

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