Por Heraldo Palmeira
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21 de novembro de 2024

KALUNGA MELLO NEVES Letras crianças

PublicDomainPictures/Pixabay

Letras crianças

  • Kalunga Mello Neves

De escola em escola, de feira do livro em feira do livro, lá vou eu disposto a brincar, contar histórias, ouvir o que as crianças têm para me dizer. Deixo de lado algum conhecimento teórico que possuo, e lanço mão sem pestanejar do que o dia a dia me ensinou pelas andanças Brasis afora. É lindo perceber o que um simples livro infantil pode causar no imaginário de quem dá seus primeiros passos na instigante estrada da vida.

Fico muito feliz em ter sido escolhido para fazer o que faço. Já fui bancário, advogado de formação, sou pai e avô, uma dádiva de Deus. Podia ter exercido outras profissões também, por que não? Mas ser contador de histórias, ser poeta de rimas fáceis e engraçadas, isso não tem preço. E saber que a todo momento a criança que há em mim me convida para seguir adiante, esse o maior incentivo para acreditar que existe um tesouro ao final do arco-íris.

O livro infantil o que é? Um brinquedo eterno, um exército de palavras tijolinhos que constroem palácios onde todas as crianças, independentemente de condição social, podem ter um quartinho colorido só para elas. Um amontoado de faz de conta que fica triste, que sorri, que omite algumas verdades que serão contadas pela realidade algumas horas mais tarde. Final feliz precisa ter; para sempre, ninguém sabe.

Por isso, uma referência ao papel social da literatura infantil. Nós, escritores, temos palco e plateia para difundir nossas idéias através do que contamos, por meio do que escrevemos. Isso não significa priorizarmos determinados temas, por mais atuais que sejam, em detrimento do lúdico que torna a alegria e a esperança mais próximas de todos nós.

Vejo como missão a tarefa do escritor de literatura infantil. Nossa sensibilidade tem que andar de mãos dadas com o carinho que devemos dar em dobro ao que recebemos das crianças que nos recebem de braços abertos. Prêmio tão gratificante quanto um abraço é ouvir uma vozinha a nos perguntar timidamente: “Quando o autor vem de novo nos visitar?”.

Não estranhe, caro leitor, esse “o autor” aparentando uma linguagem inusual para crianças. Vejo com orgulho nas minhas andanças que, de São Paulo até os pampas, os professores fazem questão de preparar nossas visitas avisando à meninada que “o autor vem nos visitar”. Um jeito didático e delicado de reconhecer e inserir o papel do autor no ambiente da vida. Por isso mesmo sou, com orgulho, escritor de literatura infantil.

*KALUNGA MELLO NEVES, escritor

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